Vaticano, 24 de abr de 2014 às 11:39
No próximo domingo, dia 27 de abril, João XXIII e João Paulo II, dois dos Papas do século XX, chegarão aos altares graças às intercessões reconhecidas pela Santa Sé como milagrosas; porém, enquanto para Karol Wojtyla o Vaticano aprovou dois milagres, no caso de Angelo Roncalli um milagre o levou à beatificação e agora será canonizado graças à faculdade do Papa Francisco.
O caso de João XXIII
João XXIII foi Papa entre o dia 28 de outubro de 1958 e 3 de junho de 1963 e foi beatificado no ano 2000 por João Paulo II graças à cura milagrosa da religiosa italiana Caterina Capitani em 1966, que esteve a ponto de morrer por uma perfuração gástrica hemorrágica com fístula externa e peritonite aguda.
O relatório da Congregação para as Causas dos Santos indica que em 22 de maio de 1966 as irmãs da religiosa colocaram sobre o seu estômago uma imagem do falecido pontífice. Aos poucos minutos a religiosa se recuperou e pediu para comer.
Durante seu testemunho, a irmã Capitani relatou que João XXIII sentou-se ao pé de sua cama e lhe assegurou que o seu pedido tinha sido escutado no céu.
Por sua parte, os médicos que a atendiam em Nápoles (Itália), fizeram-lhe uma radiografia no estômago e comprovaram o desaparecimento completo da doença, sem sinais de cicatrizes causadas pela fístula.
Anos depois, em julho de 2013, o Papa Francisco aprovava os decretos que canonizam João XXIII junto com João Paulo II, sem requerer o reconhecimento de uma intercessão milagrosa por parte do Papa Bom.
Em declarações ao Grupo ACI no dia 5 de julho, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, explicou que sobre a canonização do Papa João XXIII, na qual se prescindirá da aprovação do milagre depois de sua beatificação, "isto é algo que está no poder do Papa, não é uma coisa particularmente especial".
"Um milagre é uma visão teológica da Igreja, a prova, a demonstração do poder de intercessão, e a confirmação por parte de Deus da santidade de uma pessoa, mas não é um dogma de fé que seja necessário de alguma maneira", indicou.
Recordou que "por exemplo, os mártires são beatificados sem nenhum milagre, o que quer dizer que os milagres por tradição e teologia acontecem normalmente quando são pedidos, mas não são uma necessidade absoluta".
As intercessões de João Paulo II
O Papa polonês guiou a barca de Pedro entre 16 de outubro de 1978 e 2 de abril de 2005 e em seu caminho aos altares a Santa Sé lhe reconhece duas intercessões milagrosas.
A primeira corresponde ao processo de beatificação e a beneficiada foi a religiosa francesa Marie Simon-Pierre, que sofria de Mal de Parkinson e trabalha em uma clínica de maternidade em Paris (França).
Em 14 de janeiro de 2011 a religiosa contou à rede francesa KTOtv e à rede italiana RAI Vaticano que a sua cura aconteceu em 2 de junho de 2005. “Esse dia pela manhã eu estava completamente impedida e já não podia mais”, indicou, por isso solicitou sua demissão à superiora de sua comunidade para “deixar de oferecer o meu serviço na maternidade onde trabalhava (…). Eu não consigo fazer com que isto deixe de avançar, não é possível".
Entretanto, seu pedido foi rejeitado com amabilidade e em troca a superiora lhe propôs pedir a graça de sua cura a João Paulo II, quem ao final de sua vida também sofreu com o Mal de Parkinson.
Quando isto aconteceu, "sentimos por um bom momento uma grande mudança no seu escritório, diria que uma grande paz, uma paz muito grande e uma grande serenidade, me sentia muito tranquila e ela também".
Nesse momento, pediu-lhe escrever o nome de João Paulo II em um papel. O avanço da doença tinha afetado seu braço esquerdo e sofria de intensos tremores. Sua superiora lhe propôs escrever com a mão direita. "Disse-lhe que não podia porque minha mão direita também ficava tremendo, mas ela insistiu: ‘sim pode, sim pode’".
Escreveu algo ilegível, mas pensou que de repente "ocorre um milagre se é que acredito". "Essa noite continuei os meus afazeres como de costume com a janta comunitária, logo um pouco mais de serviço e depois a oração noturna na capela".
No seu quarto, a religiosa se obrigou a escrever e viu com surpresa que podia fazê-lo.
Às 4h30 da madrugada de 3 de junho acordou sentindo que "já não era a mesma. Havia uma alegria interior e uma grande paz; e logo me surpreendi muito pelos gestos do meu corpo".
Depois de rezar na madrugada, Irmã Marie foi ao oratório da capela, pois sua comunidade celebrava a Missa às 6am. No trajeto "percebi que meu braço esquerdo já não ficava imóvel ao caminhar, mas balançava normalmente. Na Eucaristia tive a certeza de que estava curada".
A Congregação para as Causas dos Santos estudou a cura de Simon-Pierre e determinou que foi por intercessão de João Paulo II, a quem beatificou em 1º de maio de 2011.
O segundo milagre atribuído à intercessão de Karol Wojtyla foi a cura de Floribeth Mora, uma mulher costa-riquenha que padecia de um aneurisma cerebral.
O fato ocorreu no dia 1º de maio de 2011, o mesmo dia da beatificação de João Paulo II.
Nesse dia, Floribeth foi com a sua família à Missa dominical. No centro do bairro estava passando uma procissão. “Nesse momento estava passando uma carroça com a imagem de Jesus Sacramentado e senti um frio no corpo. Desci do carro e fui até ali”. Então, o sacerdote que acompanhava a procissão declamava uma oração: “Oh, Senhor! Há uma cura”.
“Pedimos ao nosso Papa João Paulo que nos ajudasse a pedir a Deus que me ajudasse”. E nesse preciso instante, algo começou a mudar. “Saí desse parque com a fé de que eu tinha sido curada”, expressou Floribeth.
Dias depois foi ao Santuário da Virgem de Ujarrás para rezar, consciente de que o templo tinha recebido um relicário com mostras de sangue do novo Beato. “De novo, um milagre”. Quando chegou já tinha terminado a exposição, porém, o Pe. Dónald Solano fez uma exceção. “Mostrou-me a relíquia e eu a toquei. Seis meses depois me fizeram outro exame no cérebro e me indicaram que o aneurisma tinha desaparecido para a honra e a glória de meu Deus”, afirmou Floribeth.
Conforme publicou o jornal “La Nación” da Costa Rica, o neurocirurgião Alejandro Vargas Román, que atendeu Floribeth Mora durante a sua doença, confirmou que não encontrou explicação científica ao desaparecimento repentino do aneurisma que padecia quando analisaram exames posteriores àquele do dia 1º de maio de 2011.