Vaticano, 7 de jul de 2014 às 12:36
No marco de sua visita à região italiana de Molise, o Papa Francisco se reuniu com milhares de jovens locais, aos quais alentou a não se contentarem com metas pequenas e pelo contrário “aspirem a felicidade, tenham a coragem, a coragem de sair de vós mesmos, de buscar o futuro em na plenitude com Jesus”.
Jesus, indicou o Santo Padre aos jovens, “não tira a nossa autonomia ou liberdade; pelo contrário, fortalece a nossa fragilidade, e nos permite ser verdadeiramente livres, livres para fazer o bem, fortes para continuar a fazê-lo, capazes de perdoar e de pedir perdão.”.
Segue abaixo a íntegra do discurso do Papa Francisco aos jovens de Molise, por cortesia do portal da Canção Nova:
Caros jovens, boa tarde!
Obrigado pela presença numerosa e alegre. Agradeço a Dom Peter Santoro por seu serviço à pastoral da juventude; e graças a você, Sara, você que tem sido porta-voz das esperanças e preocupações dos jovens de Abruzzo e Molise.
O entusiasmo e o clima de festa que vocês sabem criar é contagiante. O entusiasmo é contagiante. Mas vocês sabem de onde vem esta palavra: o entusiasmo? Ela vem do grego e significa “ter algo de Deus dentro” ou “ter dentro Deus.” O entusiasmo, quando saudável, comprova isso: que se tem algo de Deus e expressa-o alegremente. Sejam abertos – com esse entusiasmo – à esperança e desejosos de plenitude, desejosos a dar significado ao futuro, a toda a vida de vocês, de vislumbrar o caminho adequado para cada um de vocês e escolher o caminho que lhes traga paz e realização humana.
Caminho adequado, escolher a via… o que isso significa? Não ficar parado – um jovem não pode ficar parado! – e caminhar. Isso aponta para ir em direção a algo, porque uma pessoa pode se mover, mas não ser uma pessoa que caminha, mas um “errante”, que gira, gira, gira pela vida … Mas a vida não é feita para “girar” é feita para “caminhar”, e este é o desafio de vocês!
Por um lado, vocês estão à procura do que realmente importa, que se mantém estável ao longo do tempo e é definitivo, vocês estão à procura de respostas que iluminam a mente e aqueça o coração não só pelo espaço de uma manhã ou por uma curta distância, mas para sempre. A luz no coração para sempre, a luz na mente para sempre, o coração aquecido para sempre.
Por outro lado, vocês provam o forte medo de cometer um erro – é verdade, aqueles que caminham podem errar – provar o medo de envolver-se demais com as coisas. Vocês já sentiram tantas vezes a tentação de deixar uma pequena brecha para a fuga que pode sempre abrir novos cenários e possibilidades.
Estou indo nesta direção, eu escolho esta direção, mas vou deixar essa porta aberta, se eu não gostar, eu volto e vou embora. Esta transitoriedade não é boa; não é bom porque faz com que você tenha a mente escura e o coração frio.
A sociedade contemporânea e os seus padrões culturais vigentes – por exemplo, a “cultura do provisório” – não fornecem um clima propício para a formação de escolhas de vida estável com laços sólidos, construído sobre a rocha do amor e responsabilidade, e não sobre a “areia da emoção do momento”.
O desejo de autonomia individual é impulsionado a ponto de sempre colocar tudo em discussão e romper com relativa facilidade opções importantes e longamente refletidas, caminhos de vida assumidos livremente com empenho e dedicação.
Isso alimenta a superficialidade em assumir a responsabilidade, porque na profundidade da alma, arrisca ser considerada como algo de que podemos nos livrar. Hoje eu escolho isso, amanhã escolho aquilo… para onde vai o vento eu vou; ou quando termina o meu entusiasmo, o meu desejo, eu começo outra estrada… E assim se faz este “girar” pela vida como um labirinto. Mas o caminho não é o labirinto!
Quando você estiver em um labirinto, indo de cá para lá, pare! Busque uma saída, não se pode gastar a vida girando!
No entanto, queridos jovens, o coração do ser humano aspira a grandes coisas, a valores importantes, amizades profundas, a laços que são reforçados nas provações da vida ao invés de se desfazerem. O ser humano aspira a amar e ser amado. Esta é a nossa mais profunda aspiração: amar e ser amado; e isso, definitivamente. A cultura do provisório exalta a nossa liberdade, mas priva-nos de nosso verdadeiro destino, do mais genuíno e autêntico. É uma vida em pedaços.
É triste chegar a uma certa idade, olhar para o caminhos que fizemos e ver que foi feito em pedaços diferentes, peças diferentes, nada definitivo, tudo provisório. Não deixem que roubem o desejo de construir em vossa vida, coisas grandes e sólidas! É isso que os leva em frente! Não se contentem com pequenos objetivos! Aspirem a felicidade, tenham a coragem, a coragem de sair de vós mesmos, de buscar o futuro na plenitude com Jesus!
Sozinhos não podemos fazê-lo. Diante da pressão dos acontecimentos e das modas, sozinhos não conseguiremos encontrar o caminho certo, e mesmo se o encontrarmos, não teremos a força suficiente para perseverar, para lidar com as subidas e obstáculos imprevistos.
E aqui vem o convite do Senhor Jesus: “Se quiser… siga-me.” Ele nos convida a nos acompanhar neste caminho, não para nos explorar, não para tornar-nos escravos, mas para nos tornar livres. Nesta liberdade nos faz companhia na viagem.
É assim. Somente com Jesus, orando e seguindo-o, encontramos a clareza de visão e força para continuar. Ele ama-nos, definitivamente, definitivamente nos escolheu, e se deu a cada um de nós. Ele é o nosso defensor e irmão mais velho e será o nosso único juiz.
Como é bom poder enfrentar as vicissitudes da vida, na companhia de Jesus e com sua mensagem! Ele não tira a nossa autonomia ou liberdade; pelo contrário, fortalece a nossa fragilidade, e nos permite ser verdadeiramente livres, livres para fazer o bem, fortes para continuar a fazê-lo, capazes de perdoar e de pedir perdão. Este é Jesus que nos acompanha, assim é o Senhor!
Uma palavra que eu gosto de repetir, porque muitas vezes nos esquecemos: Deus não se cansa de perdoar. E isso é verdade! É tão grande o seu amor, e ele está sempre perto de nós. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão, mas Ele perdoa sempre, cada vez que pedimos.
Ele perdoa definitivamente, apaga e esquece os nossos pecados se nos voltarmos para Ele com humildade e confiança. Ele nos ajuda a não desanimar diante das dificuldades, a não considerá-las intransponíveis; e depois, confiando Nele, lançaremos novamente as redes para uma pesca surpreendente e abundante. Teremos a coragem e a esperança de lidar também com as dificuldades resultantes dos efeitos da crise econômica.
A coragem e esperança são dons de todos, mas especialmente direcionadas aos jovens: coragem e esperança. O futuro está certamente nas mãos de Deus, nas mãos de um pastor providente. Isso não significar negar as dificuldades e os problemas, mas vê-los – isto sim – como provisórios e superáveis.
As dificuldades, as crises, com o auxílio de Deus e a boa vontade de todos, podem ser superadas, vencidas e transformadas. Não quero concluir sem dizer uma palavra sobre um problema que os atinge, um problema que vocês vivem atualmente: o desemprego. É triste encontrar jovens “não e não”. O que significa “não e não”? Não estudam, porque não têm a oportunidade, e não trabalham. Este é o desafio que todos nós devemos vencer.
Temos que ir em frente para vencer este desafio! Não podemos resignar-nos a perder toda uma geração de jovens que não têm a forte dignidade do trabalho! O trabalho nos dá dignidade, e todos nós temos que fazer todo o possível para que não se perca uma geração de jovens. Desenvolver a nossa criatividade, para que os jovens sintam a alegria da dignidade que vem do trabalho.
Uma geração sem trabalho é uma perda para a pátria e para a humanidade. Devemos lutar contra isso. E ajudar-nos uns aos outros a encontrar uma solução de auxílio e solidariedade. Os jovens são corajosos, eu disse, os jovens têm esperança, e os jovens têm a capacidade de serem solidários. E essa palavra “solidariedade”, é uma palavra que o mundo de hoje não gosta de ouvir.
Alguns acham que é um palavrão. Não, não é um palavrão, é uma palavra cristã: ir adiante com o irmão para ajudá-lo a superar os problemas. Corajosos, com esperança e solidariedade.
Estamos reunidos diante do Santuário de Nossa Senhora das Dores, construído sobre o lugar em que duas meninas desta terra, Fabiana e Serafina, em 1888 tiveram uma visão da Mãe de Deus, enquanto trabalhavam no campo.
Maria é mãe, nos socorre sempre: quando trabalhamos e quando estamos em busca de trabalho, quando temos ideias claras ou estamos confusos, quando a oração sai espontânea e quando o coração está árido: Ela está sempre junto para nos ajudar. Maria é mãe de Deus, nossa mãe e mãe da Igreja.
Muitos homens e mulheres, jovens e anciãos se dirigem a Ela, para agradecer e pedir graças. Maria nos leva a Jesus, e Jesus nos dá a paz. Recorramos a ela confiando em sua ajuda, com coragem e esperança. Que o Senhor abençoe cada um de vocês, em vossa estrada, caminho de coragem, esperança e solidariedade! Obrigado!
Agora rezemos a Nossa Senhora, todos juntos: Ave Maria …
Por favor, vos peço, rezem por mim, por favor! E não esqueçam: caminhem na vida e não “girem” pela vida! Obrigado!