ROMA, 4 de ago de 2014 às 12:50
Durante a sua próxima visita à Coréia do Sul, o Papa Francisco beatificará Paul Yun Ji-chung, primeiro mártir do país, junto com 123 companheiros assassinados por causa de sua fé no século XIX.
O Santo Padre visitará a Coréia do Sul entre os dias 14 e 18 de agosto. Em 16 de agosto chegará ao santuário dos mártires de Seo-mun e visitará a porta de Gwanghwamun em Seul, lugar onde celebrará a Santa Missa de beatificação de Paul Yun Ji-chung e seus companheiros.
A diferença da China ou Japão, o catolicismo na Coréia não foi introduzido por estrangeiros. No início do século XVII, alguns intelectuais coreanos conheceram os ensinamentos do Evangelho que eram difundidos na China e realizaram viagens às comunidades missionárias dos jesuítas para aprofundar em seu estudo.
Os intelectuais retornaram ao seu país com o fim de promover a fé e esta se estendeu tão rápido que poucas décadas depois, um sacerdote chinês conseguiu entrar no país e encontrou milhares de católicos bem estabelecidos, embora condenados ao ostracismo.
Sendo uma sociedade estritamente hierárquica, o cristianismo foi visto pelas autoridades como uma perigosa religião heterodoxa para o confucionismo que procurava uma revolução social.
Os católicos se autodenominavam como "amigos do Senhor dos Céus", o que implicava uma relação com Deus baseada na igualdade, algo inaceitável para os confucianistas.
As autoridades tentaram impedir a propagação da fé mediante a proibição de livros católicos que depois estiveram disponíveis em coreano e chinês.
A prática generalizada e a violenta perseguição ocorreram em diferentes períodos durante o século XIX, deixando mais de 10 mil mártires.
A primeira perseguição foi em 1791. Foi nesse tempo em que Paul Yun Ji-chung, junto com outro católico, James Kwong Sang-yon, queimou os seus tabletes ancestrais atuando segundo sua compreensão da doutrina católica à qual se aderiu. Os dois membros da nobreza foram acusados de heterodoxia e logo decapitados.
A segunda perseguição violenta ocorreu em 1801, quando centenas de católicos foram executados e outras centenas exilados. O mesmo ocorreu em 1839, poucos anos depois da chegada dos missionários de Paris.
Em 1846, a perseguição de Pyong causou outra leva de mártires coreanos, incluindo Andrew Kim Tae-gon, o primeiro sacerdote coreano.
A perseguição de 1866 causou o maior número de mártires da Coréia, sendo 8 mil os assassinados, entre eles nove sacerdotes estrangeiros.
Em 6 de maio de 1984, São João Paulo II canonizou 103 dos milhares de mártires coreanos. Durante a Missa, o Santo Padre assinalou que “de uma maré maravilhosa, a graça divina levou os seus antepassados a procurarem a verdade da Palavra de Deus a partir do intelecto, para depois leva-los a uma fé viva no Ressuscitado”.
“Desta boa semente nasceu a primeira comunidade cristã na Coréia”, disse o Papa. “Esta Igreja nascente, tão jovem e tão forte na fé, suportou ondas de ferozes perseguições... em 1791, 1801, 1827, 1839, 1846 e 1866, marcadas para sempre com o sangue santo dos seus mártires”.
“O esplêndido florescimento da Igreja na Coréia é sem dúvida o fruto do testemunho heroico dos mártires. Inclusive hoje, seu espírito imortal sustenta os cristãos na Igreja do silêncio, no norte desta terra tragicamente dividida”.