Milicianos do Estado Islâmico bombardearam o templo que durante séculos foi a catedral da Igreja Assíria. Estava abandonada há muitos séculos, mas era um símbolo milenar das antiquíssimas raízes do cristianismo no Oriente Médio.

A Igreja Verde de Tikrit (cristã) foi destruída ontem pelos Jihadistas do Estado Islâmico (EI) que colocaram explosivos no seu interior para explodi-la em pedaços. Um crime contra a memória e contra a cultura, animado pelo mesmo ódio que levou os talibãs e qaedistas a destruir os colossais Budas de Bamiyan no Afeganistão e muitos outros lugares de culto, tanto cristãos como muçulmanos em toda a região.

Segundo os extremistas, estes são símbolos que devem ser extirpados, exatamente como a Igreja Verde, que, imponente, representava um vestígio do passado esplendoroso do cristianismo Oriental no atual Iraque.

Construída a poucos metros do rio Tigre pelos fiéis da Igreja Assíria no século VII, foi descrita pelos historiadores do tempo como o maior lugar sagrado dos cristãos e mais importante de toda a Mesopotâmia. Foi devastada em 1089 por ordem de um governador muçulmano da cidade, mas foi reconstruída em poucas décadas em sua versão cor ocre (diferente da original, que era verde), como se pode ver nas fotografias recentes.

Durante séculos foi a catedral da Igreja Assíria, uma Igreja oriental que nasceu com as comunidades cristãs que desde o segundo século cresceram na Mesopotâmia e que no século III foram submetidas pelo império iraniano sasánida, por isso ficou fora do universo político, cultural e teológico do império romano.

Neste relativo isolamento dos seus irmãos ocidentais, os cristãos assírios criaram uma organização eclesial própria e começaram a sua obra de difusão do Verbo de Jesus que chegou até a Índia, China e Mongólia, muitos séculos antes da chegada dos jesuítas europeus à Ásia. Sua influência continuou inclusive depois da conquista árabe.

Em 1318, a Igreja Assíria contava com 200 dioceses e 30 sedes metropolitanas. Desde o século XIV, os cristãos assírios abandonaram Tikrit e a Igreja Verde. Não voltaram nem sequer quando a consistente minoria cristã iraquiana, herdeira da tradição assíria, concentrou-se nas zonas de Bagdá, Mosul e Planície do Nínive.

A Igreja Verde sempre foi respeitada e inclusive Saddam Hussein, que nasceu justamente em Tikrit, incluiu-a no luxuoso complexo do palácio presidencial que construiu na sua cidade.

Porém, apesar de tudo, teria sido difícil que os fundamentalistas que seguem as ordens do califa negro al Baghadi (depois de terem expulsado com força e terror a todos os cristãos de Mosul, da Planície de Nínive e das zonas vizinhas) deixassem-na em pé.

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