Monsenhor Luiz Catelán, assessor da Comissão para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), recentemente escolhido pelo Papa para a Comissão Teológica Internacional junto com outros peritos dos cinco continentes, comentou sua nomeação e destacou que o Santo Padre ao falar da reforma que deseja para a Igreja não se refere à reforma de estruturas, como por exemplo, a da Cúria Romana, mas uma reforma espiritual com base nos ensinamentos do Concílio Vaticano II.

Falando em entrevista a ACI Digital sobre como recebeu a notícia da nomeação, Monsenhor Catelán partilhou: “No princípio pensei que se tratava de um trote. No começo eu não acreditava, mas, conferi com um contato na Congregação para a Doutrina da Fé, com quem já me comuniquei outras vezes e este me confirmou que a notícia era verdade. Falei depois com Mons. Ladaria e recebi um e-mail do Vaticano que me chegou perto de 15 dias antes da divulgação da notícia. Nestes dias prévios pude refletir com calma sobre o significado e a missão de Comissão em toda sua amplitude e de quão delicado consistia nossa missão. Mas devo dizer que o primeiro sentimento foi de um susto”.

Comentando também sobre a contribuição que ele os outros teólogos latino-americanos eleitos para Comissão poderiam levar a este importante órgão do Vaticano, disse: “podemos dizer que tradicionalmente a teologia na América Latina sempre se distinguiu por uma particular proximidade à Pastoral, aos desafios próprios da Pastoral. Nós estaremos disponíveis, sem dúvida, para levar à Comissão esta sensibilidade sem perder a profundidade de reflexão sobre a Doutrina Católica. Em concreto poderíamos dizer que a teologia na América Latina traz como riqueza a teologia da comunhão; comunhão das Igrejas particulares entre si e delas com Roma e com o Santo Padre no serviço à Igreja. Acredito que esta perspectiva de comunhão que trazemos os latino-americanos também será uma contribuição valiosa”.

Sobre os temas teológicos do Pontificado do Papa Francisco até o momento, e que possivelmente estarão nas pautas das reuniões, Mons. Catelán afirmou: “Primeiro está o tema da Reforma da Igreja. Pelo nome não devemos entender uma reforma da estrutura da Cúria Romana. A constituição curial varia de acordo com os tempos e os desafios de cada tempo e está ao serviço do Papa e da Igreja. Mas, e isso vemos nitidamente na Evangelii Gaudium, a reforma que o Papa promove é a reforma pastoral, uma reforma espiritual”.

“O outro tema que se vem destacando nas catequese e discursos do Papa Francisco é a pneumatologia. Para que veja, o Espírito Santo é citado 36 vezes na Evangelii Gaudium e o tema vem sendo abordado pelo Papa em seus discursos com certa frequência. Assim, os acentos da presença do Espírito na Igreja e o tema da Reforma estão presentes no pensamento de Sua Santidade, e podemos afirmar que se complementam e se desenvolvem sempre sobre as bases do Concílio Vaticano II”.

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O sacerdote brasileiro, também fez algumas considerações sobre um tema teológico controvertido no continente latino-americano: a Teologia Marxista da Libertação que encontra no peruano Gustavo Gutiérrez e no brasileiro Leonardo Boff, cujas propostas teológicas foram ambas condenadas pela Santa Sé, seus mais expressivos pensadores.

Primeiramente, sublinha Mons. Antônio, “deveríamos usar o termo no plural, ou seja, falar das teologias da libertação (é difícil falar de uma só, houve várias propostas). Sobre estas, poderia dizer que pecam por reduzir a libertação a aspectos intramundanos perdendo o fundo escatológico que o próprio termo possui. Ao perder de vista o escatológico, então perde-se o que há de cristão em qualquer colocação teológica. Isso não é cristianismo. Para corroborá-lo temos a Doutrina Social da Igreja, que acentua como a fé tem incidência na política, na cultura na sociedade, mas entende que a libertação autenticamente cristã é aquela libertação do mal, da escravidão do pecado. Portanto, uma proposta teológica assim, como o caso da teologia da libertação centrada nas lutas de classes, não passa de uma vertente ideológica, e isso porque expõe que o Reino de Deus é produto da ação humana. Esta posição já havia condenada pela Igreja nos seus primórdios como Pelagianismo”.

“A opção preferencial pelos pobres –continuou- deve-se entender segundo o espírito do Concílio Vaticano II, concretamente na Constituição Dogmática Lumen Gentium no número 8. Primeiramente, entendemos a prioridade do tema dos pobres porque Cristo se fez um deles. A fé Cristológica não pode deixar de ter em conta os mais necessitados. Em segundo lugar, Cristo é enviado aos pobres e não só aos pobres em termos materiais, mas a todos aqueles que estão nas periferias, como diz o Papa Francisco, incluindo as periferias existenciais. Por último, amamos os pobres pelo que Cristo nos ensinou: ‘O que fazem aos mais pequenos dos meus irmãos, a mim o fazem’”, acrescentou o teólogo.

Natural de Cidade Gaúcha, região de Umuarama (PR), Monsenhor Catelán foi ordenado sacerdote em fevereiro de 2005. Atualmente exerce a função de assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB e possui mestrado em Direito Canônico e doutorado em Teologia, ambos pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

A Comissão Teológica foi instituída em 1982, por São João Paulo II, e sua competência consiste em estudar as questões doutrinais de maior importância para o momento eclesial e assim oferecer uma contribuição ao Magistério da Igreja e, de modo especial, à Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, atualmente presidida pelo cardeal Gerhard Ludwig Müller, tendo como secretário geral o Padre Serge-Thomas Bonino.