“Eu não posso dizer sim ao outro, se não disser não a mim mesmo”. A frase do escritor brasileiro e professor Felipe Aquino resume o sentido de doação do casamento, segundo a orientação da Igreja Católica. Na entrevista exclusiva, o conhecido apresentador de programas católicos de rádio e tv, fala sobre a importância da preparação pré-matrimonial, que permite que os casais venham a superar as dificuldades e permanecer juntos ao longo da vida conjugal. O tema está sendo debatido no Sínodo para as Famílias, que acontece até o próximo domingo, dia 19, em Roma.

“Muitos se casam sem saber bem o que estão fazendo. Não estão preparados para dizer aqueles três “Sim” no altar, que expressa todo o compromisso assumido: ‘Vocês estão aqui para se casar, é de livre e espontânea vontade?; Vocês prometem um ao outro, amor e fidelidade, é por toda a vida que o prometeis?, e Vocês prometem receber os filhos que Deus lhes enviar, educando-os na fé do Cristo e da Igreja?’ Se a resposta a essas três perguntas, não for um SIM muito consciente, maduro, desejado, verdadeiro, o matrimônio pode não ser válido por falta de ‘consentimento pleno’. Então, os noivos precisam estar conscientes do que isso significa”, ressaltou Prof. Aquino, conhecido perito em temas de vida e família, sexualidade e matrimônio.

“O matrimônio exige ‘maturidade’ do casal, isto é, estarem preparados para a missão a cumprir como esposos fiéis e pais dedicados aos filhos. Esta preparação deve começar no namoro; no conhecimento profundo entre ambos para chegarem ao casamento se conhecendo bem. Muitos casais se casam sem se conhecerem direito. Ambos precisam conhecer as responsabilidades de uma família e suas dificuldades. Devem estar preparados para dar a vida pelo outro e pelos filhos. Como São Paulo disse: ‘Maridos, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela’ (Ef 5,25). O casal precisa ter vida espiritual, pois a vida matrimonial necessita da graça de Deus para superar todos os seus problemas. ‘Sem Mim nada podeis fazer’ (João 15,5), disse Jesus. O casal deve entender que o casamento é uma missão sagrada, onde ambos crescem juntos e se multiplicam nos filhos. Não é uma ‘curtição’ a dois, é missão”, alertou.

Além da preparação, o professor reforçou a necessidade do acompanhamento após o casamento.

“Depois de casados eles vão precisar cultivar o amor conjugal que os une, a unidade de ambos, a harmonia conjugal e sexual, uma vida espiritual guiada pela Igreja, através de um sacerdote ou de um grupo de casais. É preciso que cada paróquia tenha uma ativa pastoral familiar, com bons cursos para jovens sobre namoro, casamento, família, e casais que possam orientar os casais com problemas de relacionamento, visitando-os em casa, rezando com eles, trazendo-os a participar de um grupo de casais, e outras atividades”, incentivou.

Com a experiência de 40 anos de vida matrimonial, cinco filhos e 11 netos, professor Felipe, que é viúvo, partilha o que é preciso para que o casamento seja feliz.

“Antes de tudo é preciso que haja Deus na vida do casal, uma boa vida espiritual, com a participação nos sacramentos da Eucaristia e Confissão, oração diária em casa, sobretudo o Terço, e muito diálogo com paciência, compreensão, tolerância, humildade e carinho com o outro. Não pode haver ofensas, brigas, discussões, críticas ácidas, falta de atenção, displicência com outro, menosprezo, orgulho e egoísmo. É vencendo essas fraquezas e erros que se constrói a felicidade conjugal. ‘Amar não é querer alguém construído, é construir alguém querido’. Para construir o outro é preciso tudo isso”.

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Ele reforça a necessidade da maturidade e da tolerância. “O casal nunca deve colocar a paz da família em risco com atitudes apressadas, agressivas e grosseiras. Com a graça de Deus, e um bom diálogo, tudo é possível de ser resolvido, com calma e confiança em Deus, que cuida do casal. É preciso evitar a irritação mútua, os gritos, as ofensas, não jogar no rosto do outro os erros do passado, nunca ir dormir brigados, sempre dizer ao outro uma palavra amorosa, um elogio, saber pedir perdão quando se errou, saber corrigir o outro corretamente e com amor, sem que seja na frente dos outros ou dos filhos”, ilustrou.

Abertura à vida

“Meus filhos e netos são o tesouro da minha vida. Um casal que não quer ter filhos, podendo, não sabe o que é felicidade conjugal e familiar. Diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC) que: ‘Os filhos são o dom mais excelente do matrimônio’ (n.2378). ‘A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais’ (n.2373). Ter filhos não é algo facultativo para o casal, é uma missão dada por Deus, ‘multiplicai-vos’. O casal só deve limitar o número de nascimentos quando de fato o amor exige isso, não o comodismo, o egoísmo ou o medo de enfrentar o futuro. É preciso viver pela fé. O mais importante na nossa vida, é poder olhar para traz e constatar que se foi fiel a Deus e a missão que nos deu, mesmo que isso seja feito com imperfeições e erros. Somos felizes por aquilo que nós construímos; e não há nada mais belo e sagrado que dar a vida a um ser humano e o educar para Deus e para a sociedade. É nisto que está a felicidade. É claro que haverá momentos de dores e de lágrimas, mas ‘a beleza da vida supera todas as suas dores’. Se eu tivesse de começar de novo, faria tudo outra vez, mas, com mais generosidade”, garantiu.

Para um casal que recebeu de forma válida o Sacramento do Matrimônio e está pensando em se separar, o professor orienta: “Eu diria a este casal não ter pressa em se separar, que procurem alguém para orientá-los, conversar, ouvir os seus desabafos, etc. E dar tempo ao tempo para que as mágoas possam ser vencidas, perdoadas, etc. Que se voltem para Deus e peçam a sua graça para superar os problemas. Não há casal que não tenha problemas, isso faz parte do casamento. O feio não é ter problemas, o feio é não saber superá-los com amor e carinho. Esta é a grande beleza e vitória do casamento, saber superar as diferenças, as dificuldades e defeitos que cada um trouxe para a vida a dois. Não somos anjos. O bonito no casamento é saber ‘construir o outro’. Para isso é preciso ter o verdadeiro amor que é ‘dar-se’ ".

A respeito dos casais em segunda união, outro tema que vem sendo tratado no Sínodo para as Famílias, no contexto dos desafios para a Nova Evangelização, o autor católico afirma: “O Papa São João Paulo II, escreveu na Exortação Apostólica sobre a Família, ‘Familiaris Consortio’, de 1981, que os casais de segunda união não podem ser discriminados na Igreja, devem ser ajudados, devem educar seus filhos na fé, etc.; mas disse que eles não podem participar do sacramento da Eucaristia e da Confissão, por não estarem vivendo segundo a lei de Cristo (n. 84; cf. Cat. n.1651). Então, esses casais devem fazer na Missa a ‘Comunhão Espiritual’, receber Cristo no coração em desejo profundo, e suplicar-lhe as graças para superar o problema. Sempre é conveniente o casal examinar se o primeiro casamento rompido foi válido; e se convier, entrar com a Petição de ‘declaração de nulidade’ no Tribunal da Igreja", indicou.

"A respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja: Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da missa, a perseverar na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus" (CIC n.1652).