SANTIAGO, 16 de out de 2014 às 11:08
O Pe. Paul Check, diretor executivo do Courage, uma das pastorais católicas mais importantes do mundo para as pessoas com atração ao mesmo sexo, assinalou que o apoio ao mal chamado “matrimônio” gay que expressaram três sacerdotes no Chile é fruto de uma “compaixão fora de lugar”.
A imprensa chilena difundiu recentemente a informação errada de que o Arcebispo de Santiago, Cardeal Ricardo Ezzati, apresentou uma denúncia ante a Santa Sé contra os sacerdotes Felipe Berríos, José Aldunate e Mariano Puga Concha, devido a suas declarações contrárias à doutrina moral da Igreja sobre as uniões homossexuais e o aborto.
Fontes do Vaticano próximas ao Grupo ACI, e depois o próprio Arcebispado de Santiago, desmentiram a informação da imprensa chilena. Porém, os três sacerdotes realizaram sim uma série de declarações polêmicas.
Entrevistado na emissora TVN no final de maio deste ano, o Pe. Felipe Berríos questionou: “qual é o problema do matrimônio homossexual? Deus os criou homossexuais e lésbicas, e Deus está orgulhoso de que eles sejam assim”, afirmou também que “não são cidadãos de segunda classe nem estão em pecado, têm apenas uma condição distinta que também me ajuda a ampliar a minha concepção da sexualidade”.
O Pe. José Aldunate disse por sua parte na edição chilena do site The Clinic, em agosto de 2014, que aprovava o “matrimônio” gay já que “o homossexual tem direito a amar e compartilhar a sua vida com outra pessoa. Se a natureza lhe pede uma relação homossexual, então, bom: é o que a natureza pede e é legítimo”.
Por outro lado, o Pe. Mariano Puga Concha expressou um apoio parecido ao “matrimônio” gay, assegurando que “a Bíblia diz que nasceram assim e a ciência também. O Deus criador permitiu, através da evolução, que se chegue a produzir este tipo de homem ou de mulher. Quem é você ou eu para proibir que alguém ame uma pessoa igual a si mesma. Quem sou eu para impedir isso? De onde? Falei isso com o Pepe Aldunate outro dia”.
Em declarações ao Grupo ACI, o Pe. Paul Check assegurou que considerar que se pode ampliar a concepção da sexualidade ao aceitar a homossexualidade, como propõe o Pe. Felipe Berríos, é “uma visão muito confusa da natureza humana”.
“A história da nossa identidade, nossa origem, nossa história, nos é contada no livro do Gênesis, onde o autor sagrado transmite o desenho sábio de Deus –‘não é bom que o homem esteja sozinho’– e Eva é o complemento de Adão”.
Para o Pe. Check “essa antropologia –que se converte em antropologia cristã com a vinda do nosso Senhor– é confirmada pelas pessoas que recebem o atendimento do Courage”.
O diretor executivo do Courage assinalou também que “uma das coisas que escuto dos nossos membros, que viveram de uma forma, e agora, com a graça de Deus e a perseverança, estão vivendo uma vida nova, uma vida casta, é que quando estavam vivendo o estilo de vida homossexual antes, sempre sabiam que alguma coisa não estava bem”.
“Eles podiam ignorar a sua consciência ou tentar sufoca-la de diversas formas, mas por trás de tudo isso havia algo que lhes dizia ‘o que estou fazendo pode ser satisfatório, pode ser prazeroso, mas fundamentalmente não é uma coisa boa para mim’”.
O Pe. Check assegurou que uma pessoa com atração ao mesmo sexo “poderia levar anos antes de enfrentar essa realidade e chegar a ter essa mudança de mente e coração, mas é muito bom que reconheçamos essa voz que lhes diz que não é bom, que é uma expressão de sua humanidade, e essa natureza humana é algo que todos compartilhamos”.
Se as pessoas com atração ao mesmo sexo que participam do Courage soubessem das declarações dos sacerdotes chilenos, indicou, “estariam muito desconcertadas, e diriam ‘nossa experiência é realmente muito diferente’”.
Sobre as discrepâncias entre o que os padres chilenos difundem e a doutrina da Igreja, o Pe. Check expressou a sua tristeza “por meus irmãos sacerdotes. Deve haver alguma divisão interior aí, porque já não parecem confiar no que a Igreja lhes confiou em sua ordenação”.
O diretor do Courage recordou que “todos os sacerdotes em sua ordenação, depois de uma reflexão profunda, formação e oração, fazem a declaração solene, o compromisso, a promessa de que acreditam que o que a Igreja diz é verdade, e que com o melhor de suas habilidades, com a graça de Deus, pregarão e ensinarão o que a Igreja nos dá em termos da nossa história, da nossa humanidade, e, é obvio, em termos da revelação divina”.
O Pe. Check considera que com este tipo de declarações os sacerdotes chilenos estariam cedendo “a um tipo de sentimentalismo ou compaixão fora de lugar que não leva em consideração a dignidade da pessoa, ou o poder, a eficácia da graça de Deus”.
Recordando o encontro de Jesus com a mulher adúltera, no capítulo 8 do Evangelho de São João, o diretor do Courage indicou que “depois que todos os hipócritas foram saindo por causa da admoestação de Nosso Senhor, e Ele disse à mulher ‘eu também não te condeno’, diz também ‘vai e de agora em diante não peques mais. Este é um chamado à verdadeira compaixão do Deus-homem que conhece a debilidade à qual estamos propensos, é um chamado à conversão”.
“Ele está dizendo ‘reconheço em você a sua dignidade, está aí, agora você precisa reconhecê-la e a minha graça vai fazer possível que as suas ações sejam satisfatórias, porque estará vivendo essa dignidade, e estará vivendo-a de forma apropriada e completa’”.
Se Jesus tivesse dito somente “eu também não te condeno” e mais nada, disse o sacerdote, “estaríamos perdendo algo muito importante, e estaríamos testemunhando provavelmente algo chamado sentimentalismo, que é muito diferente da compaixão”.
“Enganamos as pessoas, privamos as pessoas do seu pleno entendimento do dom que têm como filhos de Deus, redimidos pelo sangue precioso de Cristo no dom da graça, se não seguimos o chamado de Jesus à conversão de nossos corações, que todos necessitamos, é obvio, em uma ou outra medida”.
O Pe. Check destacou também que buscar na frase do Papa Francisco “Quem sou eu para julgar?” um aval para o estilo de vida gay “é para mim um problema, pelo menos na justiça natural. Não há nada no nosso Santo Padre Francisco que sugira isso”.
Apesar da pressa na sociedade civil para aprovar as uniões civis homossexuais, o sacerdote destacou que “a Igreja não olha para a sociedade civil para que ela nos ensine quem somos, ela olha para a figura de Jesus”.
Por outro lado, frente a quem assegura que Jesus não condenou a homossexualidade, o Pe. Check assinalou que “pode ser que não tenha usado a palavra, mas nos ensinou claramente que a intimidade humana está reservada para a aliança matrimonial”.
Assim, explicou, Jesus no seu ensinamento “excluiu muitas coisas que seriam contrárias” à aliança matrimonial.
“O comportamento homossexual seria uma delas, mas também teríamos que dizer coisas como a convivência, a fornicação, a anticoncepção, a masturbação, a pornografia, todas as quais estão necessariamente excluídas e Jesus mesmo eleva o nível em relação à pureza de coração e a castidade, no Sermão da Montanha”, disse.
“Assim não há razão para que acreditemos que há outra coisa além da doutrina da Igreja na mente de Cristo quando cuidadosamente lemos o Catecismo sobre o sexto mandamento”, concluiu.