VATICANO, 29 de out de 2014 às 11:47
Nesta terça-feira, 28, o Papa Francisco se reuniu Sala do Sínodo com os participantes do encontro Mundial dos Movimentos Populares, que se realiza em Roma entre os dias 27 e 29 de outubro. O evento é organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais e com os líderes de vários movimentos. Em um extenso discurso pronunciado em espanhol, o Santo Padre assegurou que o amor pelos pobres está no coração do Evangelho e explicou que ter essa perspectiva é próprio do cristianismo não do comunismo.
Segundo a Rádio Vaticano, O Pontífice ressaltou na ocasião que é preciso revitalizar as democracias, erradicar a fome e a guerra, assegurar a dignidade a todos, sobretudo aos mais pobres e marginalizados. Tratou-se de um veemente pronunciamento, ao mesmo tempo, de esperança e de denúncia.
O Santo Padre observou que não se vence "o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que servem unicamente para transformar os pobres em seres domésticos e inofensivos". Quem reduz os pobres à "passividade", disse o Pontífice, Jesus "os chamaria de hipócritas".
O Papa acentuou no encontro os temas: "Terra, teto e trabalho” e afirmou: “É estranho – disse –, mas quando falo sobre estas coisas, para alguns parece que o Papa é comunista. Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho." Portanto, acrescentou, terra, casa e trabalho são "direitos sagrados", "é a Doutrina social da Igreja".
O Papa Francisco ressaltou que "no mundo globalizado das injustiças proliferam-se os eufemismos para os quais uma pessoa que sofre a miséria se define simplesmente 'sem morada fixa'" e denunciou que muitas vezes "por trás de um eufemismo há um delito". “Vivemos em cidades que constroem centros comerciais e abandonam "uma parte de si às margens, nas periferias"”, denunciou Francisco.
"Não existe – ressaltou – uma pobreza material pior do que a que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho." Em particular, Francisco citou o caso dos jovens desempregados como o resultado "de uma opção social, de um sistema econômico que coloca os benefícios antes do homem", de uma cultura que descarta o ser humano como "um bem de consumo".
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Falando espontaneamente o Pontífice retomou a Exortação apostólica "Evangelii Gaudium" para denunciar mais uma vez que as crianças e os anciãos são descartados. E agora se descartam os jovens, com milhões de desempregados, disse ainda. Trata-se de um desemprego juvenil que em alguns países supera 50%, constatou. Todos, reiterou, têm direito a "uma digna remuneração e à segurança social".
O Papa mencionou ainda a situação de miséria causada pelas nações em guerra e pediu pelo fim dos conflitos armados no mundo, que segundo ele, já são uma espécie de III Guerra Mundial: "Quanto sofrimento, quanta destruição _ disse o Papa –, quanta dor! Hoje, o grito da paz se eleva de todas as partes da terra, em todos os povos, em todo coração e nos movimentos populares: Nunca mais a guerra!"
"Nenhuma família sem casa. Nenhum camponês sem terra! Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá" – exclamou o Papa no final do encontro.
Entre os participantes do encontro dos Movimentos Populares figura também o presidente da Bolívia, Evo Morales.
O Pe. Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, em nota reproduzida pela Rádio Vaticano, explicou que, nesta ocasião, a visita do chefe de Estado boliviano não foi "organizada mediante os habituais canais diplomáticos" e que o encontro "privado e informal" no final da tarde desta terça-feira entre o Papa Francisco e o presidente deve ser considerado "uma expressão de afeto e proximidade ao povo e à Igreja boliviana e um apoio à melhoria das relações entre as Autoridades e a Igreja no país".