ROMA, 3 de nov de 2014 às 12:48
O Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, afirmou que o pensamento da Europa precisa assemelhar-se mais ao do Papa Francisco, depois de visitar o pontífice argentino no Palácio Apostólico do Vaticano em 30 de outubro.
“Gostaria tanto que houvesse mais europeus com este olhar sobre a Europa que tem este Papa latino-americano!”, explicou Schulz em declarações à Rádio Vaticano depois do seu encontro com o Pontífice.
O Papa Francisco “olha para o conceito de Europa e para a união dos povos, não somente como uma ocasião de política da paz – isto sim, obviamente – mas também, no mundo multipolar em que vivemos, vê na Europa um instrumento, uma ocasião. E eu gostaria que existissem tantos cidadãos europeus que partilhassem esta opinião”, assinalou o parlamentar socialdemocrata alemão.
“Dentro deste contexto, o Papa é alguém que dá coragem às pessoas com o seu caráter honesto”, acrescentou.
Está previsto que no próximo dia 25 de novembro o Papa Francisco visite o Parlamento Europeu em Estrasburgo (França), onde pronunciará um discurso em uma sessão solene. Schulz considera que este encontro “é uma ocasião única para ambas as partes: nós receberemos no Parlamento Europeu a personalidade que provavelmente neste momento histórico é um ponto de referência, não somente para os católicos, mas para muitas pessoas, um elemento de orientação em uma época em que muitas pessoas, ao contrário, estão realmente desorientadas pois o mundo caminha a uma velocidade dramática, às vezes também em direções um pouco arriscadas”.
Neste contexto, o Papa Francisco será recebido em Estrasburgo por 750 deputados em representação de 507 milhões de pessoas de 28 países. Segundo Schulz “o auditório, servirá de caixa de ressonância para centenas de milhares de pessoas… será um momento importante”.
Muitos se questionam se é possível que a crise atual na Europa deixe espaço para a mensagem de solidariedade do Evangelho e dê abertura à cultura do encontro propostos pelo Santo Padre. Em especial, em referência ao problema da imigração e à situação dos deslocados que fogem da África por causa da violência, da pobreza, e da perseguição religiosa.
No panorama atual, a assistência aos refugiados por parte da Europa poderia considerar-se lamentável. A iniciativa “Mare Nostrum”, lançada pelo governo italiano para ajudar os milhares de imigrantes que arriscam a vida nas águas do Mediterrâneo, foi recentemente substituída pelo “Triton” por não encontrar apoio na Europa. Este é um projeto dirigido à proteção das fronteiras que diminui a atenção para a vida.
“Estou entre os maiores críticos deste comportamento. Há poucos dias estive em Lampedusa para constatar pessoalmente a situação. Vi também o que fizeram e fazem os soldados da Marinha italiana no âmbito da operação ‘Mare Nostrum’. Quero reiterar expressamente que nunca poderia ter imaginado, que veria tanta sensibilidade humana por parte dos soldados, como pude constatar”, disse.
“Os europeus – todos os Estados membros, não somente as instituições -, devem ter bem claro um conceito: devemos olhar com sobriedade que a desintegração de países inteiros nas nossas mais próximas vizinhanças, faz sim com que nós devamos enfrentar estes problemas e que devemos conduzi-los sob controle”, acrescentou.
Por último o parlamentar expressou que “não podemos continuar vivendo segundo aquele comportamento cínico no qual vemos as pessoas morrerem no mar, nos lamentamos por isto e depois voltamos para as nossas atividades cotidianas”.
Schulz destacou a proposta de um órgão que consiga ajuda humanitária nos países de origem, atuando especialmente nos focos que causam a fuga das pessoas. “Portanto, em termos claros, a Europa deve realizar modificações substanciais na sua política em relação aos refugiados”, concluiu.