ROMA, 7 de nov de 2014 às 13:20
A Santa Sé se pronunciou sobre o trágico caso dos dois jovens casados, cristãos, pais de 4 filhos, queimados vivos no Paquistão por uma multidão muçulmana. O casal foi injustamente acusado de blasfêmia por um muçulmano.
Sobre este acontecimento, o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, o Cardeal Jean-Louis Tauran, falou com a Rádio Vaticano: “estou perplexo, ficamos sem palavras, obviamente, perante um ato de tamanha barbárie. Aquilo que é ainda mais grave é que foi invocada a religião, em modo específico”.
“Uma religião não pode justificar crimes desse gênero. Existe essa lei da blasfêmia, que representa um problema: a comunidade internacional, não deveria intervir?”
O Cardeal disse que “de um lado, certamente estão as convicções religiosas que devem ser respeitadas, mas é necessário, também, manter um mínimo de humanidade, de solidariedade. Acredito, então, que o diálogo se imponha: infelizmente, não se diz nunca o bastante sobre isso. Mais delicada é a situação, mais se impõe o diálogo”. “Eu me pergunto: podemos ficar assim, passivos frente a crimes declarados legítimos pela religião? Desde o ano em que foi introduzida a lei da blasfêmia, foram registradas cerca de 60 execuções”.
O Cardeal Tauran disse logo que “não envolvem somente os cristãos: inclusive outras minorias foram atingidas, como advogados, opositores ao regime que foram mortos de maneira bárbara. Estamos perante a um grande problema...”.
Pensando que “muitos cristãos se encontram, atualmente, nos braços da morte do Paquistão: pensamos, obviamente, também em Asia Bibi, mas existem tantos outros casos. Hoje seria realmente necessária uma ação para solicitar a reforma dessa lei...”.
“Sim, mas no ponto em que nos encontramos agora, não se pode intervir nos assuntos internos de um Estado, mas, ao menos, é preciso ajudar os responsáveis da política a encontrarem soluções dignas do homem e da civilização”.
A Comissão de Justiça e Paz do Paquistão reagiu a este drama, denunciando a falta de vontade por parte da política e afirmando que tudo isso rende as minorias ainda mais vulneráveis: “Penso que, efetivamente, a Igreja local seja muito corajosa. É necessário apoiá-la e, sobretudo, denunciar, denunciar rigorosamente que não há nenhuma justificativa pra esse tipo de coisa. Na realidade, a humanidade inteira acaba sendo humilhada...”.
Sobre uma possível reação dos líderes muçulmanos locais, o Cardeal disse: “Espero, sim! Isso é o que desejamos desde agosto... Por isso, é preciso reconhecer que as primeiras vítimas são os muçulmanos, porque esses crimes dão ao islamismo uma imagem terrível, muito negativa. Então, teriam todo o interesse de denunciar, e também de maneira contundente...”.
“Acredito que tenhamos chegado ao que São Paulo define “o mistério da iniquidade”, isto é, o mal ao estado puro. Nem os animais se comportam desse modo!”.
Para concluir, o Cardeal afirmou que “a gente se encontra realmente numa época de precariedade total, onde tudo pode acontecer, a pessoa humana não é respeitada, a vida não conta mais”.