ROMA, 8 de jan de 2015 às 07:23
A comunidade muçulmana deve levantar-se para expressar o seu desgosto pelo sequestro do Islã realizado pelos criminosos, indicaram dois imãs franceses depois do atentado contra o escritório do semanário satírico “Charlie Hebdo”, em Paris (França), que deixou pelo menos 12 mortos.
O ataque se realizou na manhã de 7 de janeiro, quando os imãs participavam da Audiência Geral do Papa Francisco na Sala Paulo VI do Vaticano como parte de uma visita de quatro dias, organizada pelo escritório para as relações com o Islã da Conferência dos Bispos Franceses.
Quatro imãs participam junto ao Presidente do Conselho para as Relações Inter-religiosas, Dom Michel Dubost, em uma visita de três dias a Roma. O propósito desta viagem, de acordo com os organizadores, é dar testemunho das boas relações entre os líderes muçulmanos e a Igreja na França.
Esta foi também a primeira vez, desde que se realizam os diálogos entre cristãos e muçulmanos franceses, em que os imãs desse país assistem a uma Audiência Geral para saudar o Papa.
Ao sair de seu encontro com o Papa Francisco, os líderes religiosos muçulmanos foram informados sobre o ataque e fizeram os seus primeiros comentários à imprensa francesa La Croix e I-Media.
Tareq Oubrou, reitor da Mesquita de Bordeaux (França), ressaltou que “é necessário que a comunidade muçulmana se levante” para expressar o “seu desgosto” pelo sequestro do Islã realizado por pessoas delinquentes.
Oubrou destacou que “os muçulmanos estão surpreendidos e cansados. A silente maioria deles se sente como se estivesse sendo sequestrada” pelas ações dos extremistas.
Para o religioso muçulmano, este crime afeta “o Islã e os muçulmanos franceses”.
“Este ato poderia dividir a sociedade e atrasar a assimilação e integração dos muçulmanos na sociedade francesa. Quem se beneficia com este crime? Nem o Islã, nem os muçulmanos. As religiões estão feitas para unir as pessoas, e todo ato que divida a humanidade não é um ato religioso”, disse Oubrou.
O imã acrescentou que o massacre do “Charlie Hebdo” foi o primeiro deste tipo desde a instalação, em 1980, da comunidade muçulmana na França.
Por sua parte, Mohammed Moussaoui, presidente da União de Mesquitas Francesas, assegurou que se sentiu “assustado e surpreso” quando soube da notícia, já que justo tinha rezado com o Papa Francisco “pela paz e fraternidade capaz de consolidar e fortalecer o mundo”, com uma intenção especial pelos cristãos no Oriente Médio.
De acordo com Mossaoui, os muçulmanos franceses são “vítimas duas vezes”, já que por um lado “a religião é explorada por criminosos”, e por outro há uma “tentativa populista de tomar vantagem destas ações criminosas para piorar e reavivar as divisões e temores da sociedade francesa”.
“Se os extremistas continuam duplicando seus esforços e intensificando as suas ações, violência e atrocidades, os muçulmanos devem intensificar sua reação a estes atos bárbaros, às vezes infelizmente cometidos em nome do Islã”, assinalou.