Vaticano, 2 de fev de 2015 às 17:06
O Arcebispo Michael Fitzgerald é atualmente um dos maiores peritos em Islã. Foi Núncio Apostólico no Egito até 2012 e participou recentemente em Roma de um congresso em comemoração aos 50 anos do Pontifício Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI) da Santa Sé, do qual participa como membro. Conversou com o Grupo ACI sobre a situação atual do Islã e do diálogo inter-religioso.
Consultado sobre os radicais islâmicos, o Prelado indicou que “instrumentalizam a religião que professam sem entender realmente o que é o Islã”, por isso se trata de “uma falsificação do Islã pelo poder”.
Nesse sentido, assinalou que “nós -no PISAI- procuramos trabalhar com outros muçulmanos sérios que estão contra os fundamentalistas e precisam fazer com que entendam que isso não é o verdadeiro Islã. Muitos muçulmanos dizem 'basta!', mas a imprensa ocidental não divulga estas declarações”.
Dom Fitzgerald, que também foi Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso de 2002 a 2006, destacou que “atualmente só vemos na imprensa notícias ruins sobre o Islã já que não se fala das relações pacíficas entre cristãos e muçulmanos”. Entretanto, “há relações e experiências no mundo entre muçulmanos e cristãos que são belas, mas não são conhecidas”. Por isso, “nosso Instituto procura trabalhar na verdade, no amor, na paz e na compreensão de maneira séria”.
Perguntado sobre se estes muçulmanos poderiam frear os fundamentalistas, Dom Fitzgerald acredita que “os fundamentalistas como o Estado Islâmico (ISIS) não escutam”, mas “é importante convencer os outros muçulmanos de que este não é o caminho”.
Por isso, assinalou que o trabalho da Igreja neste aspecto é fundamental. Indicou que diante da existência destes grupos terroristas “é importante que os bispos locais trabalhem e peçam aos responsáveis políticos que intervenham mais fortemente”.
“Penso, por exemplo, na Nigéria. Não estão contentes com o que o Governo federal está fazendo. Não parece que seja bastante para proteger os cristãos e os muçulmanos, porque estes sofrem muitas vezes mais que os cristãos. Mas é importante que os líderes religiosos caminhem juntos e favoreçam assim o conhecimento e a confiança”, indicou.
Durante seu trabalho como Núncio no Egito, Dom Fitzgerald viveu em primeira pessoa a chamada Primavera Árabe que começou em 2010 e que teve este país como um de seus protagonistas. “Sou um pouco mais otimista em relação ao Egito. Síria e Líbia são um desastre e não sei como se pode sair dessa situação. Também o Iraque, onde devemos esperar para ver o que acontece… É uma pena porque estes países têm uma história, uma cultura, especialmente o Iraque e a Síria, que está sendo destruída. Ao mesmo tempo, outros países sofrem com os refugiados. Devemos trabalhar e rezar para que este mundo seja melhor”, assegurou.