Lima, 4 de fev de 2015 às 12:31
Nesta terça-feira, 3 de fevereiro, o Papa Francisco aprovou o decreto que reconhece o martírio dos sacerdotes poloneses Michele Tomaszek (31) e Zbigneo Strzalkowski (33), da Ordem dos Irmãos Menores Conventuais assassinados em 9 de agosto de 1991 pelo movimento maoísta Sendero Luminoso que por esses anos semeava o terror no Peru.
Os jovens faziam um trabalho pastoral na região de Pariacoto, nos Andes de Ancash (Peru), país onde viviam há onze anos e que nesta época tentava sair da profunda crise econômica na qual se encontrava, enquanto os terroristas do Sendero Luminoso continuavam assassinando milhares de civis e autoridades em povoados e cidades –incluindo a capital-, com o fim de instaurar um regime comunista.
Nesse sentido, o trabalho evangelizador realizado pelos dois sacerdotes com os pobres de Pariacoto –onde estavam há três anos- era considerado uma ameaça pelos terroristas, pois não deixavam que o ódio se apoderasse dos corações dos fiéis. Sem esse ódio, Sendero não podia ter mais membros para a sua luta armada.
Assim, ao ver que as suas ameaças não afetavam o trabalho pastoral dos franciscanos, em 9 de agosto de 1991 os senderistas decidem pichar as paredes dos edifícios da praça de Pariacoto. Ao anoitecer, armados e com os rostos cobertos, prendem o prefeito.
Paralelamente, frei Zbigniew fazia a exposição do Santíssimo Sacramento na igreja, enquanto esperava o seu companheiro para celebrar a Missa. Após a eucaristia, fecharam o templo e neste momento apareceram uns homens encapuzados que bateram na porta e pediram a presença dos sacerdotes “para falar com eles”.
Quando os viram, amarraram-lhes as mãos e os levaram na caminhonete da missão. Foram levados junto com o prefeito a Pueblo Viejo. Durante o caminho, os terroristas submeteram os sacerdotes a um “interrogatório”, acusando-os de “enganar as pessoas” e “infectar as pessoas mediante a distribuição de alimentos da imperialista Caritas". E inclusive os acusaram de adormecer “o ímpeto revolucionário com a pregação da paz”. Depois disso, quando chegaram às imediações do cemitério, assassinaram todos.
A Conferência Episcopal Peruana condenou o assassinato de ambos os missionários e assinalou que “a Igreja, mais uma vez comprometida na criação da Civilização do Amor em nosso povo, rejeita energicamente esta ignomínia sangrenta que não abre nenhum caminho de salvação na situação crítica que o Peru enfrenta".
Quando São João Paulo II soube do acontecimento, afirmou que ambos os frades “são os novos mártires do Peru”. Naquele momento estava com o Papa um franciscano, o Pe. Jarek Wysoczanski, o "terceiro companheiro” de frei Miguel e frei Zbigniew, que sobreviveu à tragédia porque estava na Polônia para assistir ao matrimônio de sua irmã.
Dias depois do assassinato, uma religiosa que colaborava na missão disse que o ocorrido lhe parecia um sonho, “impressiona-me mais uma vez em Miguel e Zbigniew sua fidelidade ao Senhor e a este povo andino, e a vontade que tinham de ser consequentes com o que pregaram. Lembro-me de seu entusiasmo pela vocação franciscana e missionária e a sua disponibilidade para o serviço, apesar, tantas vezes, do grande cansaço”.
“Permaneceram lá até o final. Isso não se improvisa, é um dom. Vi Zbigniew uns dias antes de seu martírio, perguntei-lhe se estavam ameaçados, sorriu e disse: ‘Não podemos abandonar o povo. Nunca se sabe, mas se nos matarem, que nos enterrem aqui’. Vi Miguel um mês antes, vivia como se nada estivesse acontecendo, abandonado em Deus. Ambos, homens de Deus, talvez viviam pensando que ainda não era sua hora; entretanto, foi a hora de Deus”, relatou a religiosa.
O martírio dos dois sacerdotes poloneses foi reconhecido nesta terça-feira pelo Papa Francisco, junto ao martírio do sacerdote italiano Alessandro Dordi, assassinado também pelo Sendero Luminoso 16 dias depois.