ROMA, 25 de fev de 2015 às 15:12
A perseguição aos cristãos se encontra em uma de suas piores épocas e se assemelha ao que aconteceu com os mártires durante os primeiros séculos da Igreja.
O Patriarca Copto Católico de Alexandria (Egito) Ibrahim Isaac Sidrak, conversou com o Grupo ACI sobre o terrível assassinato de 21 cristãos coptos egípcios na Líbia às mãos do autodenominado Estado Islâmico e sobre a situação de instabilidade que se vive em todo o Oriente Médio.
“Eu nunca lhes chamo ISIS porque sou egípcio e para nós esse é um nome bonito (é o nome grego de uma deusa da mitologia egípcia), chamamo-los terroristas”, explica logo no início da entrevista.
Sobre sua origem e desenvolvimento, afirma que “este grupo terrorista não está sozinho” mas “faz pensar em muitos outros, não só indivíduos, não só grupos, mas também, infelizmente, governos que estão por trás”. “Têm seus próprios interesses políticos, econômicos...”. E se pergunta: “Desde quando começamos a escutar falar deles? Faz dois ou três anos? Onde estavam antes? Foi criado por quem? Quem lhes apoia agora? Quem lhes dá dinheiro? E armas?”.
Em relação ao assassinato dos 21 homens, explica que “os cristãos, falando sempre do Egito e dos coptos, foram um instrumento de negociação. São a parte frágil”.
Esta é a razão pela qual “são usados como instrumento, para criar desordem no Egito, para criar uma guerra civil... mas não são vistos só como cristãos. Este grupo não tem nada para fazer com o mundo muçulmano simples”, disse o Patriarca.
A isto adicionou que “o mundo muçulmano que nós conhecemos no Egito está formado por pessoas simples que querem viver em paz, com todos”.
De novo em alusão aos sanguinários terroristas afirma que “são pagos por alguém e fazem o que outros pedem que façam”.
Mas o Patriarca lança também uma advertência: “infelizmente, há muito tempo atrás dissemos para a América e a Europa: 'Estejam atentos, porque um dia chegarão até vocês', mas ninguém acreditava. Agora vemos o que aconteceu em Paris e ameaçam a todo mundo”.
“Não se pode deter estes terroristas se a América ou Europa não deixam estes planos egoístas”, adverte. Para ele, “só buscam o comércio de armas e colocar a mão no petróleo... Se não fizermos que estes deixem de ser o objetivo essencial, se não olharmos para a pessoa humana, infelizmente isto continuará”.
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Sobre a atual situação do Iraque, assinala que “antes da guerra havia problemas, mas não tão graves como agora. Agora todo Oriente Médio está destruído. Isto é o resultado do egoísmo mundial”.
“Não sei o que o Estado Egípcio fará a partir de agora, realizaram alguns ataques, mas isto ao final é algo momentâneo. Não queremos entrar em uma guerra, provamos a guerra e ninguém ganha, todos perdem”, diz cortante.
“A guerra é um ato diabólico. Assassinar as pessoas, destruir a vida é ir contra a humanidade”, assegura ao ser perguntado pela resposta do Egito depois do assassinato dos cristãos.
Precisamente, em alusão ao terrível atentado, assegura que “o medo não resolve nada”.
“Estes pobres egípcios que foram assassinados eram jovens simples, jovens de cultura média que tinham uma fé muito forte. Eu aprendi com eles e não eles comigo”.
E por sua vez faz uma revelação: “não vi, porque não quero, o vídeo de sua execução, mas imagino que estes jovens verdadeiramente se apresentaram com fé. Isso me dá mais coragem”.
“São um exemplo do qual devemos aprender e imitar”, diz acrescentando depois: “Estamos voltando aos primeiros tempos dos mártires”.
De fato, “o calendário da Igreja no Egito se chama o 'calendário dos mártires'. No século III, quando foi assassinado um número grande de cristãos, cerca do ano 280, criamos o calendário copto”.
“Eu digo que os cristãos não devem ter medo porque o medo bloqueia a mente. Devemos pensar bem e fazer o bem para todos. Criar e educar uma nova geração que ame a vida. Também por exemplo no que se refere aos filmes, aos vídeos e aos jogos de caráter violento, que criam uma psicologia doentia”.