ROMA, 3 de mar de 2015 às 11:00
Ajudem-nos a sustentar este povo que está vivendo esta tragédia, expressou da Síria o Pe. David Fernández, sacerdote argentino que se encontra em Aleppo e que conhece de perto o drama vivido pelos cristãos dia a dia, primeiro como resultado da guerra civil que está a ponto de fazer cinco anos e agora devido à perseguição do Estado Islâmico (ISIS), que na última semana sequestrou cerca de 300 pessoas no nordeste do país.
“Apesar da integridade das pessoas, o cansaço que experimentam por estes quatro anos de pressão pelos contínuos conflitos é grande, sua vida normal se reduz a sair de casa só para as coisas mais necessárias, com a possibilidade diária de talvez não retornar. Para muitos, o único lugar seguro para reunir-se em família e compartilhar com outros é a igreja”, assinalou ao Grupo ACI o sacerdote do Instituto do Verbo Encarnado (IVE).
“Ajudem-nos em primeiro lugar com a oração, pedindo continuamente a Deus o dom da Paz e a fortaleza na fé deste povo. E também a ajuda material segundo o que cada um em consciência possa dar, especialmente em dinheiro, já que em geral os alimentos ou outros produtos são difíceis de introduzir ao país”, acrescentou.
Em comunicação com o Grupo ACI neste sábado, explicou que Aleppo está a 350 quilômetros ao oeste de Hassakeh, zona próxima à Turquia onde os jihadistas invadiram desde a semana passada vários povoados cristãos assírios. “Tomaram como reféns famílias cristãs inteiras”, separando “os homens das mulheres com as crianças”. “Também profanaram templos, sabemos também que até agora morreram 15 cristãos na tentativa de defender suas aldeias e famílias, que uma mulher foi decapitada e dois homens fuzilados”, assinalou.
O sacerdote alertou que o povoado de Tel Shamiran, onde se encontram 51 famílias cristãs, está “rodeado pelo ISIS. Sabemos que o exército curdo esteve resistindo aos ataques por toda a noite, mas se teme que as famílias tenham sido capturadas. Os cristãos na localidade de Hassakeh são minoria, 30 por cento, e embora haja também xiitas, a localidade é de maioria sunita. De todos os modos, além da distinção de religiões, a convivência entre eles em geral sempre foi boa”.
No caso de Aleppo, o Pe. Fernández indicou que a situação em geral é muito insegura. “Atualmente persiste pela contenção que o exército nacional faz de dentro, combatendo os grupos rebeldes e os terroristas que faz mais de um ano têm grande parte da cidade sitiada e que com a pretensão de tomá-la realizam ataques contínuos por volta de diversas zonas da parte urbana” e que por sua vez “há algumas semanas sofrem também a pressão de fora do exército sírio”.
“Por causa disso é que está morrendo muita gente, os sequestros continuam por parte dos extremistas e a população tem caído em um estado de pobreza preocupante, muitas famílias perderam tudo. Há escassez de tudo, o pouco que se consegue é muito caro e difícil de adquirir. Os caminhos são inseguros, muitos de nossos jovens estudantes tiveram que retornar a suas casas em aviões militares por não haver caminhos para suas cidades ou por caminhos novos protegidos pelo exército nacional, mas perigosos e muito mais longos que os normais”, assinalou.
Por sua parte, a Madre Maria de Nazaré –também da família do Instituto do Verbo Encarnado- disse ao Grupo ACI que em Aleppo o serviço elétrico é de duas horas ao dia “no melhor dos casos”. As religiosas atendem um pensionato “de jovens cristãs universitárias”, algumas das quais têm famílias nas imediações de Hassakeh.
Neste domingo o enviado especial da ONU para Síria, Steffan de Mistura, anunciou o envio de uma missão para tentar uma trégua em Aleppo e permitir o ingresso de ajuda humanitária de maneira significativa. Entretanto, a agência AFP informou que os rebeldes nesta cidade rejeitaram qualquer reunião “que não seja sobre uma solução integral para o drama da Síria através da saída do (presidente) Bashar al-Assad”.
O Pe. Fernández indicou que na população em geral há “desconcerto e perplexidade” pelo trabalho da ONU e da comunidade internacional “porque as intervenções não são claras nem muito definidas. A opinião geral é que eles fazem o problema e depois trazem ajuda humanitária, e não se entende por que quanto mais intervêm ao chamado Estado Islâmico, mais parece crescer em quantidade e em força armada”, tomando mais regiões completas.
“Muitas vezes se pensa que o desempenho da ONU e da comunidade internacional foi negativo quando derivo em ajuda a grupos rebeldes ou quando decidiram colocar embargos ao país, que ocasionou a triste realidade da falta de combustível falta de gás, etc. Em síntese não há confiança nestas intervenções”, assinalou.
Em meio desta situação, afirmou, a fé dos cristãos “é exemplar”. “Muitos tiveram que sair do país pressionados pela situação, outros tiveram que ficar por não terem meios econômicos para sair, mas é certo que muitos decidiram ficar também por questões de fé, decisão heroica que é uma grande graça para a Igreja”.
“Em todos os casos podem dizer que o testemunho de fé é exemplar, apesar das duras provações e riscos reais aos quais estão expostos continuamente e que, entre tantas explosões, podemos distinguir uma explosão de fé e de caridade que levou muitos inclusive ao próprio martírio, ou seja, a morrer por essa mesma fé”, acrescentou.
O sacerdote destacou a importância da proximidade do Papa Francisco e da Igreja. Os cristãos sírios “sabem que o Papa reza por eles, que está pendente da situação aqui, que manifestou sua preocupação e que ajudou concretamente em distintas ocasiões e valorizam enormemente isso e os fortalece”.
O Pe. Fernández reiterou o pedido de ajuda para a população síria. “As necessidades são muitas e de todo tipo, por isso novamente pedimos a todos aqueles que puderem que nos ajudem a ajudar aqui dentro, onde tantos missionários sírios como estrangeiros quisemos ficar para colocar o nosso grãozinho de areia e poder aliviar na medida do possível a dor de tantas pessoas”.
“Sabemos que não estamos sozinhos, que a caridade de Cristo está viva no coração de muitos cristãos, que de fora farão resplandecer a glória deste Deus misericordioso que não se deixa ganhar em generosidade”, expressou.
Nesse sentido, indicou que as pessoas que desejem ajudar podem fazê-lo através desta conta em um banco do Líbano, em nome do sacerdote:
Blom Bank, Beirute (Líbano)
Swift: BLOMLBBX
Número de conta: 1179668. Nome: Gerardo David Fernández
IBAN N°: LB34001400000804308117966817