Rio de Janeiro, 19 de mar de 2015 às 16:52
Autoridades da Fraternidade São Pio X, a comunidade sacerdotal composta por seguidores do falecido arcebispo Marcel Lefebvre que iniciou um cisma com a Igreja Católica, repudiaram a ordenação episcopal realizada neste 19 de Março pelo bispo cismático Richard Williamson sem o mandato pontifício no Mosteiro da Santa Cruz na região serrana do Rio de Janeiro. Com o ato, Williamson, que não é membro da Fraternidade São Pio X incorreria em excomunhão latae sententiae (automática), da mesma forma que o sacerdote Jean Michel Faure ordenado bispo por ele. Por sua parte, Dom Edney Gouvêa, bispo diocesano de Nova Friburgo lamentou a ordenação ilegítima e condenou o ato como grave ofensa a Deus, ao Santo Padre e a toda a Igreja.
O comunicado da Fraternidade S. Pio X recordou que Williamson e o Pe. Faure não são membros da Fraternidade São Pio X desde 2012 e 2014 respectivamente, “em razão das vivas críticas que formulassem contra toda relação com as autoridades romanas, denunciando que representavam – segundo eles – uma traição à obra de Dom Marcel Lefebvre”.
“A Fraternidade São Pio X deplora que este espírito de oposição resulte nesta consagração episcopal. Em 1988 Mons. Lefebvre tinha manifestado claramente sua intenção de consagrar bispos auxiliares, sem jurisdição, e em razão do estado de necessidade em que se encontravam a Fraternidade São Pio X e os fiéis católicos, com o único fim de permitir a estes fiéis receber os sacramentos através do ministério dos sacerdotes que foram ordenados por estes bispos. Depois de ter feito tudo o que estava a seu alcance ante a Santa Sé, Dom Lefebvre procedeu às consagrações em 30 de junho de 1988, feitas solenemente em presença de vários milhares de sacerdotes e fiéis, e de algumas centenas de jornalistas do mundo inteiro. Tudo mostrava que este ato, não obstante a ausência de autorização de Roma, realizava-se publicamente pelo bem da Igreja e das almas”, afirma ainda o comunicado.
“A Fraternidade São Pio X denúncia a consagração episcopal do R. P. Faure, que, apesar das afirmações do consagrante e do consagrado, não se parecem em nada às consagrações de 1988. Em realidade, todas as declarações de Dom Williamson e do Rev. Pe. Faure demonstram constantemente que já não reconhecem as autoridades romanas, salvo de modo puramente retórico”, conclui a nota das autoridades da FSSPX.
Por sua parte, Dom Edney Gouvêa, bispo diocesano de Nova Friburgo, lamentou profundamente a ordenação ilegítima ocorrida no Mosteiro da Santa Cruz e emitiu nota oficial um dia antes da ordenação repudiando o ato como uma grave ofensa a Deus e ao Santo Padre.
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“A ilegítima ordenação episcopal ora em causa será uma desobediência ao Papa em matéria gravíssima, num tema de importância capital para a unidade da Igreja, a ordenação dos Bispos, mediante a qual é mantida sacramentalmente a sucessão apostólica. Tal ato ilegítimo leva a uma rejeição prática do Primado do Romano Pontífice, constituindo mesmo um ato cismático, com pena de excomunhão automática prevista pelo Código de Direito Canônico, tanto quanto ao Bispo Ordenante Richard Williamson como a quem será ordenado Bispo. Ora, não se pode permanecer fiel rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja”.
Vale recordar que esta é a segunda vez que o bispo Williamson incorre em excomunhão automática. A primeira, ocorrida quando foi ordenado por Lefebvre, foi levantada por Bento XVI.
“Como Bispo de Nova Friburgo, cabe-me exortar a todos os fiéis católicos para que cumpram o grave dever de permanecerem unidos ao Papa na unidade da Igreja Católica, e de não apoiarem de modo algum essa ilegítima ordenação episcopal e as consequências que dela advirão. Ninguém deve ignorar que a adesão formal ao cisma constitui grave ofensa a Deus e comporta excomunhão também prevista pelo Código de Direito Canônico. Portanto, os sacerdotes e fiéis são advertidos para não apoiar o cisma, caso contrário, incorrerão, ipso facto, na gravíssima pena de excomunhão”.
“Penso poder garantir em nome de todo o Clero, religiosos e fiéis leigos ao Sucessor de Pedro Papa Francisco, o primeiro a quem compete a tutela da unidade da Igreja, a nossa filial união e obediência, em especial nesse doloroso momento. Para tanto, enviarei uma carta para Sua Santidade. De qualquer forma, tal ato ilegítimo e cismático oferece a todos a ocasião de uma profunda reflexão e um renovado empenho de fidelidade a Cristo e a Sua Igreja”.
“Finalmente, supliquemos incessantemente a intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, a fim de que possamos exigir-nos mais diante das palavras do próprio Cristo: Ut omnes unum sint!”, conclui a nota de Dom Edney.