“Irmãos e irmãs, pensem bem: com as crianças não se brinca!”. Desta forma enérgica o Papa se manifestou nesta quarta-feira pela manhã em sua catequese da Audiência Geral, a primeira no tempo de Páscoa, falando sobre as crianças e afirmou: é vergonhoso dizer que trazer uma criança ao mundo é um erro.

O Papa dedicou a ocasião a falar das crianças, que são “o fruto mais bonito da bênção que o Criador deu ao homem e à mulher”. Mas se nas semanas anteriores explicou que elas são um dom, desta vez falou das “histórias de paixão” que vivem muitos deles devido ao abandono e ao descarte.

“Muitas crianças desde o início são rechaçadas, abandonadas, despojadas de sua infância e de seu futuro. Alguns dizem, quase para justificar-se, que foi um erro trazê-las ao mundo. Isto é vergonhoso! Não descarreguemos sobre as crianças nossas culpas, por favor! As crianças nunca são 'um erro'”.

O Pontífice afirmou que apesar da pobreza, da fragilidade, do abandono e da fome que possam sofrer, jamais são um erro. “O que fazemos com as solenes declarações dos direitos do homem e da criança se depois as castigamos pelos erros dos adultos?”, indagou.

Portanto, “aqueles que têm o dever de governar, de educar, diria que todos os adultos, somos responsáveis pelas crianças e de fazer o que cada um possa para reverter esta situação”.

Para o Santo Padre, “cada criança marginalizada, abandonada, que vive nas ruas mendigando” e que se encontra “sem escola, sem cuidados médicos, é um grito que chega a Deus e que acusa a nosso sistema, que os adultos construímos. E por desgraça estes crianças são presas dos delinquentes, que as exploram para o tráfico e negócios indignos, ou as adestram para a guerra e a violência”.

Mas, Francisco advertiu, isto não se dá só apenas em países pobres, mas “também nos considerados países ricos muitas crianças vivem dramas que as marcam de maneira profunda por causa da crise da família, dos vazios educativos e das condições de vida às vezes desumanas”.

Trata-se de “infâncias violadas no corpo e na alma”, mas “nenhuma destes crianças é esquecida pelo Pai que está nos céus!”, exclamou o Papa acrescentando: “Nenhuma lágrima se perde!, como também não se perde nossa responsabilidade, a responsabilidade social das pessoas, de cada um de nós e dos países”.

“É comovente a narração evangélica: Trouxeram-lhe então umas crianças para que lhes impusesse as mãos e orasse sobre eles. Os discípulos os repreenderam, mas Jesus lhes disse: ‘Deixai as crianças, e não as impeçam que venham para mim, porque o Reino dos Céus pertence aos que são como elas’. E depois de impor-lhes as mãos, saiu dali”, afirmou.

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“Como gostaria –disse o Papa- que esta página se convertesse na história normal de todos. As crianças! É verdade que graças a Deus crianças com graves dificuldades encontram muitas vezes pais extraordinários, preparados para todo sacrifício e toda generosidade”.

Não obstante, “estes pais não devem ser deixados a sós! Devemos acompanha-los em sua fadiga, mas também oferecer seus momentos de alegria compartilhada e de alegria despreocupada, para que não sejam detentos apenas da rotina terapêutica”.

O Papa destacou que “muito frequentemente sobre as crianças recai os efeitos de ter um trabalho precário e mal pago, de horários insustentáveis, de transportes ineficientes... Mas as crianças pagam também o preço de uniões imaturas e de separações irresponsáveis; são as primeiras vítimas”. Também “sofrem os êxitos da cultura dos direitos individuais exasperados, e se convertem depois em filhos mais precoces”.

O Pontífice alertou de que “frequentemente elas absorvem violência que não estão em grau de 'aguentar' e sob os olhos dos grandes estão obrigados a acostumar-se à degradação”.

Sobre o papel da Igreja a este respeito, Francisco recordou que tanto agora como no passado, a Igreja “põe sua maternidade a serviço das crianças e suas famílias”.

A Igreja “leva aos pais e aos filhos deste mundo a bênção de Deus, a ternura materna, a firme recriminação e a condenação decidida. Irmãos e irmãs, pensem bem: Com as crianças não se brinca! Pensem o que seria de uma sociedade se decidisse, de uma vez por todas, estabelecer este princípio: 'é verdade que não somos perfeitos e que cometemos muitos erros, mas quando se trata das crianças que vêm ao mundo, nenhum sacrifício dos adultos será julgado demasiado custoso ou muito grande para evitar que uma criança pense ser um equívoco, que não vale nada e seja abandonada às feridas da vida e à prepotência dos homens”.

“Que bela seria uma sociedade assim! Eu digo que a esta sociedade se perdoaria muito dos seus inumeráveis erros. Muito, de verdade”, afirmou.

Finalmente, Francisco assinalou que “o Senhor julga nossa vida escutando o que os anjos das crianças lhe contam, anjos que 'veem sempre o rosto do Pai que está nos céus'. Perguntemo-nos sempre, o que contarão a Deus, de nós, estes anjos das crianças?”

Durante a saudação em língua italiana, o Papa disse aos jovens que “só o Senhor Jesus pode responder inteiramente às aspirações de felicidade e de bem em sua vida”, aos doentes que “não há consolo mais bonito em seu sofrimento que o da certeza na Ressurreição de Cristo”; e aos recém casados pediu viver “seu matrimônio em concreta adesão a Cristo e aos ensinamentos do Evangelho”.