ROMA, 14 de abr de 2015 às 13:39
Eram perto de mil as pessoas que participaram da vigília de Páscoa em Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, em uma tenda levantada pelos fiéis onde todo domingo celebram a Missa. Essa noite o celebrante foi o Cardeal Fernando Filoni, que em agosto já esteve no Iraque como enviado especial do Papa Francisco. Depois do dia de Páscoa, o Cardeal celebrou em Sulemainja junto a quase 400 famílias cristãs. A história de cada uma delas mostra o triste dilema dos cristãos iraquianos: enfrentar o refúgio ou a morte pelos radicais islâmicos.
ACI Digital conheceu histórias de refugiados no Iraque ao participar de uma viagem organizada pelo Pontifício Conselho Cor Unum, entre Erbil e Duhok, de 26 a 29 de março.
A precariedade dos dois milhões e meio de deslocados, assistidos por várias instituições de caridade, é realmente indescritível. A Missa é para eles o único momento para afirmar sua própria identidade. Sobre tudo, o único momento no qual se aferram à esperança de que as coisas mudarão. É o momento no qual cada um confia sua história pessoal, seus dramas e temores, diretamente a Deus.
Os idosos
Entre estas histórias está a de um casal de idosos que vive no campo de Nishtiman Bazaar, Erbil. Vieram de Karmles. Entretanto, tiveram que passar previamente o drama de ter sido capturados pelo Estado Islâmico quando tentavam escapar de suas casas.
Permaneceram cinco dias como prisioneiros do ISIS, em uma das casas onde tinham sido confinados junto a outros idosos e mulheres. Durante seu cativeiro os jihadistas lhes deram a possibilidade de converter-se ao islã, do contrário deveriam deixar o lugar ou ser assassinados. Eles decidiram partir.
Deixaram Karmles a pé junto a outras pessoas. Entretanto, no meio do calor da região foram ficando atrás, pois não podiam seguir o passo dos mais jovens. No meio da marcha o idoso feriu-se e não podiam mais caminhar devido à lesão em uma das suas pernas.
Felizmente, uma freira do grupo com quem tinham partido se deu conta que ambos se ficaram atrás e decidiu voltar para buscá-los. O homem foi posto em uma espécie de carroça até que chegaram a Erbil. Chegaram a salvo, mas o homem teve sua perna amputada.
As famílias
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Além disso, está o drama das famílias, como o casal yazidí Nora de 37 anos e seu marido de 55 anos, que foram evacuados em 3 de agosto de Sinjar, onde viviam junto dos seus filhos. Agora estão refugiados em Ozal City, em um dos tantos edifícios que inacabados. Ambos tiveram que fugir a pé às 10 da manhã para alcançar as montanhas. Não levaram consigo mais que suas roupas.
Entretanto, os jihadistas do Estado Islâmico estavam no meio do caminho. As crianças estavam assustadas. Sua casa estava destruída e tudo tinha sido roubado. Permaneceram nas montanhas por nove dias, depois planejaram fugir para a Síria, também a pé. De lá foram para Zakho.
Sem comida nem água tiveram que suportar as altas temperaturas, que no Iraque podem chegar até os 50 graus. A fome, o calor e a sede os obrigaram a uma parada em Zakho, onde procuraram ajuda e puderam recuperar-se. Logo partiram para Erbil, onde a vida não é fácil. O mais velho dos filhos, de 17 anos, teve que deixar a escola para encontrar trabalho e ajudar ao sustento da família.
A vida dos refugiados não é simples. A ajuda financeira chega, mas os gastos são altíssimos. A Diocese cosntruiu três novas clínicas para ajudar estas pessoas e se projeta construir uma universidade católica, mas tudo tem um preço, como o aluguel das casas ou espaços onde vivem provisoriamente.
Por último está o caso de Gerges Fares, de 49 anos e sua família de cinco pessoas. São cristãos provenientes de Karmles, lugar que abandonaram no dia 8 de agosto e agora vivem em Ankawa em uma casa alugada.
Dois dias antes ele disse à população de Karmles que não deixassem suas casas e resistissem. Entretanto, no 8 agosto às 7 da manhã, Fares viu por sua janela que os terroristas do ISIS estavam ingressando na cidade. Reuniu a sua família, tomou alguns pertences e abandonou sua moradia.
Porém os terroristas o detiveram. Entre ameaças perguntaram-lhes por que estavam partindo. Fares respondeu que não havia água nem comida e por isso deixavam a cidade. Mas no seguinte posto de controle, jihadistas armados os ameaçaram por ser cristãos. Mesmo assim conseguiram chegar a Kazhir, controlado pelos peshmerge, um grupo de Curdos armados que resiste a invasão do ISSI, que os ajudou.
Na Missa presidida pelo Cardeal Filoni a noite de Páscoa houve este incrível cruzamento de histórias. Histórias infelizmente cotidianas em um Iraque sempre em conflito, mas além em Síria, país também atacado pelo Estado Islâmico.