O Vaticano viveu uma nova jornada histórica na manhã deste domingo. O Papa Francisco recebeu pela primeira vez o presidente da República de Cuba, Raúl Castro. Entre os temas tratados na reunião de 50 minutos nas salas anexas à Sala Paulo VI, onde foi recebido o mandatário, destacou-se a visita do Papa à ilha em setembro.

Ambos conversaram sobre o papel do Papa na aproximação entre Cuba e Estados Unidos assim como da próxima viagem do Santo Padre aos dois países em setembro para o Encontro Mundial das Famílias, a ser realizado na cidade da Filadélfia de 22 a 25 do mesmo mês.

A Santa Sé, em um comunicado enviado à imprensa após a reunião, explicou que Raúl Castro “quis agradecer ao Santo Padre pelo papel ativo que teve no desenvolvimento da melhoria das relações entre Cuba e os Estados Unidos da América” e “apresentou ao Papa os sentimentos do povo cubano que aguarda e se prepara para sua próxima visita à ilha no mês de setembro”.

Como é habitual, o Papa e o presidente de Cuba intercambiaram presentes. Raúl Castro entregou uma medalha de prata comemorativa dos 200 anos da fundação da Catedral de Havana, das quais só existe 25 exemplares. Também deu de presente um quadro de arte contemporânea representando uma grande cruz composta de restos de naufrágios de barcaças empilhadas, diante da qual há um imigrante em atitude de oração. É uma obra do artista cubano Kcho que se encontrava presente e explicou ao Santo Padre que a obra “foi inspirada por seu compromisso de chamar a atenção mundial para os problemas dos migrantes e daqueles que se veem na necessidade de fugir, durante a famosa viagem do Papa a Lampedusa” em julho de 2013.

Por sua parte, o Papa deu de presente a Castro sua exortação apostólica Evangelii Gaudium e um grande medalhão que representa a São Martinho de Tours cobrindo um pobre com sua capa. O Papa explicou que este presente “é uma intuição do que devemos fazer: cobrir a miséria da nossa gente e depois promover as pessoas. Eu lhe ofereço com gosto este presente como sinal de boa vontade”.

Depois da audiência com o Papa, o Presidente cubano teve também uma reunião com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, na sede de Governo.

Em uma conferência de imprensa posterior à sua reunião com o Santo Padre, Castro elogiou o Papa Francisco por sua sabedoria e sua modéstia e assegurou que lê todos seus discursos e disse que se o Papa continuar assim “eu voltarei a rezar e voltarei à Igreja, e não o digo de brincadeira".

Castro prometeu também comparecer “a todas as Missas” que o Papa presida durante sua viagem a Cuba, e recordou que ele é ex-aluno de instituições educativas dos jesuítas, a ordem à qual pertence Francisco.

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Em dezembro passado, tanto Castro como o presidente americano, Barack Obama, anunciaram ao mundo o degelo em suas relações diplomáticas e surpreenderam ao agradecer e elogiar o trabalho de mediação do Papa Francisco.

A Santa Sé confirmou então que nos meses prévios ao anúncio, o Santo Padre escreveu várias correspondências a ambos os governantes para convidá-los a “resolver questões humanitárias de comum interesse, como a situação de alguns presos políticos”.

O Papa Francisco, no dia 18 de dezembro do ano passado, manifestou aos embaixadores creditados ante a Santa Sé: “hoje todos estamos contentes, porque vimos como dois povos que se afastaram faz tantos anos, ontem deram um passo para aproximar-se. E isto foi realizado por embaixadores da diplomacia”.

Em 10 de abril de 2015 os presidentes de Cuba e Estados Unidos se saudaram na VII Cúpula das Américas no Panamá, o que constituiu um fato sem precedentes.

Entre 22 e 28 de abril, o Cardeal Beniamino Stella, Prefeito da Congregação para o Clero e Ex-núncio em Cuba entre 1993 e 1999, visitou a ilha. Ali teve uma série de reuniões com autoridades religiosas e políticas. Visitou padres e bispos cubanos, e se reuniu com o presidente Raúl Castro.

Castro chegou ao Vaticano procedente da Rússia, onde participou dos atos da celebração do 70º aniversário do final da II Guerra Mundial.

Antes de visitar o Papa Francisco Raúl Castro se reuniu com Bento XVI, no dia 27 de março de 2012 durante a viagem que o hoje Papa Emérito realizou a Cuba.

São João Paulo II foi o primeiro Papa em receber em audiência um mandatário cubano desde o início da ditadura comunista, quando recebeu no Vaticano Fidel Castro, a quem devolveu a visita na ilha de Cuba dois anos depois, sendo o primeiro Sumo Pontífice a pisar o solo cubano.