Na Missa que presidiu na manhã de hoje no Estádio Koševo de Sarajevo (Bósnia-Herzegovina), diante de cerca de 60 mil participantes, o Papa Francisco alentou aos fiéis a serem ‘artesãos’ da paz e explicou que esta é um “dom de Deus”.

Bósnia-Herzegovina viveu uma violenta guerra entre 1992 e 1995, depois da dissolução da Ex-Iugoslávia. As mortes, segundo as cifras oficiais, superaram 97 mil e cerca de dois milhões de pessoas foram deslocadas por causa do conflito.

O lema da visita apostólica do Papa Francisco ao Bósnia-Herzegovina é precisamente “A paz esteja convosco”.

Em sua homilia, Francisco perguntou: “Como se faz, como se constrói a paz?”, O Santo Padre recordou a frase do profeta Isaías: ‘A obra da justiça será a paz’ ou, segundo a tradução da Vulgata em Latim: ‘Opus iustitiae pax’. A mesma frase que foi convertida em um lema célebre adotado profeticamente pelo Papa Pio XII, que governou a Igreja durante a II Guerra Mundial.

“A paz é obra da justiça”, reiterou, sublinhando que “tampouco aqui se retrata uma justiça declamada, teorizada, planejada… mas uma justiça praticada, vivida”.

“E o Novo Testamento nos ensina que o pleno cumprimento da justiça é amar ao próximo como a si mesmo”.

O Santo Padre sublinhou que “quando nós seguimos, com a graça de Deus, este mandamento, como mudam as coisas! Isso porque nós mudamos! Essa pessoa, esse povo, que vemos como inimigo, em realidade tem o mesmo rosto, o mesmo coração, a mesma alma que eu. Nós temos o mesmo Pai no céu. Então, a verdadeira justiça é fazer a essa pessoa, a esse povo, o que eu gostaria que me fizessem, que fizessem com meu povo”, indicou.

Continuando, Francisco recordou que “São Paulo, na segunda leitura, indicou-nos as atitudes necessárias para a paz: ‘revistam-se de compaixão íntima, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se mutuamente e perdoem quando algum tem queixa contra outro. O Senhor os perdoou: façam o mesmo’”.

Estas, disse o Papa, “são as atitudes para ser ‘artesãos’ de paz no cotidiano, ali onde vivemos”.

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O Santo Padre assegurou que a “paz é o sonho de Deus, é o projeto de Deus para a humanidade, para a história, com toda a criação. E é um projeto que encontra sempre oposição por parte do homem e por parte do maligno”.

“Também em nosso tempo, o desejo de paz e o compromisso por construi-la contrastam com o fato de que no mundo existem numerosos conflitos armados. É uma espécie de terceira guerra mundial combatida ‘em partes’; e, no contexto da comunicação global, percebe-se um clima de guerra”.

Francisco lamentou que existam aqueles que fomentam o confronto “entre as distintas culturas e civilizações, e também quantos especulam com as guerras para vender armas”.

“Mas a guerra significa crianças, mulheres e idosos em campos de refugiados; significa deslocamentos forçados; significa casas, ruas, fábricas destruídas; vocês sabem bem, por tê-lo experimentado precisamente aqui, sofrimento, quanta destruição, quanto dor”.

O Santo Padre assinalou que “hoje, queridos irmãos e irmãs, eleva-se uma vez mais desta cidade o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!”.

O Santo Padre advertiu aos fiéis a não enganar-se ao acreditar que a paz “depende só de nós. Cairíamos em um moralismo ilusório”.

“A paz é dom de Deus, não em sentido mágico, mas porque Ele, com seu Espírito, pode imprimir estas atitudes em nossos corações e em nossa carne, e fazer de nós verdadeiros instrumentos de sua paz. E, aprofundando mais ainda, o Apóstolo diz que a paz é dom de Deus porque é fruto de sua reconciliação conosco”.

“Só quando se deixar reconciliar com Deus, o homem chegará a ser construtor de paz”, assegurou.