SARAJEVO, 6 de jun de 2015 às 18:00
O percurso que o Papa Francisco empreendeu hoje logo depois que aterrissou no aeroporto de Sarajevo para chegar ao Palácio presidencial, onde teve o primeiro discurso de sua jornada, é um testemunho vivo da violência da guerra no Sarajevo a inícios da década de 1990 e passou pela ponte onde dois namorados, apesar das diferenças entre suas famílias, tentaram juntos uma fuga que nunca foi possível, e morreram abraçados.
A rota que tomou o Papa, que hoje se chama Zmaja od Bosne, que na época da guerra civil era a Avenida dos Franco-atiradores. Quem passava por ali chegava ferido pelos franco-atiradores localizados na montanha, ou no interior de alguns edifícios.
Dirigindo o olhar à direita, o Papa pôde ver a ponte de Vrbanja. Ali morreu muita gente pelos disparos dos franco-atiradores. Ali morreram também o “Romeu” e a “Julieta” de Sarajevo.
A ponte da Vrbanja une o bairro bósnio com a vizinhança sérvia, passando sobre o rio Miljacka, alvo privilegiado dos franco-atiradores dos dois lados do conflito que não permitiam que ninguém cruzasse o limite dos dois bairros.
Bosko Brkic e Admira Ismic sabiam disto. Ele era sérvio e ela Bósnia. Ele era cristão ortodoxo e ela muçulmana. Apaixonaram-se em um bar, e tinham começado uma história de amor impossível em um país golpeado pelo ódio étnico.
Apesar da diferença entre suas famílias, concordaram em viver na casa dos pais de Admira, e assim, Bosko arrumou todos os papéis para partir deixando atrás a convulsionada Sarajevo.
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Entretanto, o casal primeiro precisava passar uns dias na casa dos pais de Bosko, no bairro sérvio para finalmente, abandonar a cidade. Mas, como atravessar a ponte Vrbaja? Para chegar juntos, ambos tiveram que tentar juntos a façanha.
Em 19 de maio de 1993 decidiram atravessar a ponte, mas nunca chegaram ao outro lado.
Um disparo na cabeça acabou imediatamente com a vida de Bosko. Também Admira recebeu disparos, mas não morreu no momento. Com as últimas forças que restavam-lhe, arrastou-se até o corpo de seu apaixonado e o abraçou.
Morreram assim, abraçados, e permaneceram abraçados oito dias sobre a ponte porque os dois bandos não entravam em acordo para um cessar-fogo que permitisse recolher os cadáveres.
Três anos depois, os jovens apaixonados foram enterrados no Cemitério dos Leões, um do lado do outro. O recinto do cemitério está próximo ao bar onde Bosko e Admira se encontraram, apaixonaram-se e planejaram uma fuga que nunca foi possível.