A Turquia anunciou na noite de segunda-feira, 8, que chamou de volta a Ancara o seu embaixador no Brasil, Hüseyin Diriöz, para consultas. A decisão foi motivada pela aprovação, no dia 2, de uma moção do Senado brasileiro que reconhece o genocídio armênio ocorrido de 1915 a 1917.

O genocídio armênio é conhecido como o assassinato de um milhão e meio de cristãos armênios pelos turcos, entre 1915 e 1923. No dia 24 de abril, recorda-se os 100 anos do início do massacre pois foi nesta data em 1915, que as autoridades turcas prenderam 235 membros da comunidade de armênios em Istambul; dias depois a cifra de prisioneiros subiu para 600. Posteriormente, uma ordem do governo central decretou a deportação de toda a população armênia, sem a possibilidade de obter os meios para a subsistência ao longo do caminho. Eles foram forçados a caminhar centenas de quilômetros, enfrentando zonas desérticas, a fome, a sede e enfrentamentos com salteadores, que levaram a grande maioria à morte.

No texto da moção do senado brasileiro, afirma-se que o objetivo é “reconhecer a contribuição para a formação econômica, social e cultural do Brasil de milhares de brasileiros descendentes de refugiados armênios”. Além disso, destaca que “nenhum genocídio deve ser esquecido, para que não volte a acontecer”.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia manifestou seu repúdio a essa medida. “Condenamos a resolução do Senado brasileiro sobre os eventos de 1915, que distorce as verdades históricas e ignora a lei, e a consideramos um exemplo de irresponsabilidade”.

De acordo com o comunicado, o ministério turco também convocou o embaixador do Brasil em Ancara, Antonio Luis Espinola Salgado, no dia 3 de junho, para consultas.

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Esta convocação segue as das últimas semanas, pelas mesmas razões, dos embaixadores turcos no Vaticano, na Áustria e em Luxemburgo. No caso do Vaticano, a reação turca se deu após declaração do Papa Francisco durante Missa no dia 12 de abril, na Basílica Vaticana, que recordou o centenário do massacre dos armênios, majoritariamente cristãos.

Na ocasião, o Pontífice citou três tragédias vividas pela humanidade no século passado. “A primeira, que geralmente é considerada como ‘o primeiro genocídio do século XX’ atingiu o vosso povo armênio – a primeira nação cristã – juntamente com os sírios católicos e ortodoxos, os assírios, os caldeus e os gregos. Foram mortos bispos, sacerdotes, religiosos, mulheres, homens, idosos e até crianças e doentes indefesos. As outras duas são as perpetradas pelo nazismo e pelo estalinismo”, disse naquele então.

Os armênios consideram que os massacres no Império Otomano mataram 1,5 milhão de pessoas entre 1915 e 1917 e configuram o crime de genocídio. Já a Turquia estima o número de mortos entre 250 mil e 500 mil. Além disso, insiste que não se pode empregar a expressão genocídio para acontecimentos anteriores à sua definição legal, em 1948.

O termo é reconhecido por muitos historiadores e cerca de vinte países, como Argentina, Uruguai, França, Suíça, Rússia e, desde 1987, pelo Parlamento Europeu.