REDAÇÃO CENTRAL, 6 de ago de 2015 às 12:51
“Eu tenho uma pergunta para fazer a vocês – mas não respondam em voz alta, apenas em seus corações. Quem de vocês reza pelos cristãos que estão sendo perseguidos? Quantos rezam?”. Esse é um questionamento feito pelo Papa Francisco, que ressaltou a importância de “olhar para além de nossas próprias fronteiras, para sentir que nós somos uma só igreja, uma só família em Deus!”. Nesta quinta-feira, um incentivo a mais para que toda a Igreja esteja unida em oração pelos irmãos que sofrem por ódio à fé é o Dia Internacional de Oração pelos Cristãos Perseguidos no Oriente Médio, promovido pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Em 6 de agosto de 2014, a vida da Igreja no Iraque mudou para sempre: mais de 120 mil cristãos foram obrigados a fugir de jihadistas do grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS). Desde então, a maioria dos refugiados tem vivido como indigentes, dentro ou fora do país. Um ano depois, neste dia 6 de agosto, a AIS está promovendo o evento de oração por essas pessoas, para recorda a data que nunca será esquecida por aqueles que a vivenciaram.
A fim de fazer memória do ocorrido, a AIS relatou em seu site testemunhos de cristãos que passaram por aqueles dias de fuga e, hoje, buscam retomar suas histórias. Um deles é o jovem Rami, de 22 anos, que atualmente vive no Centro Mar Elia, um campo de refugiados em Erbil, a capital da região autônoma curda no norte do Iraque.
“Foi horrível. Nós fugimos na noite do dia 6 de agosto. Eu ainda posso ver o horror estampado nos rostos das pessoas. Eles temiam por suas vidas. Eles achavam que o Estado Islâmico iria matá-los. Eu pensei o mesmo. Eu não sabia se eu iria viver para ver o dia seguinte”.
Rami morava em Mossul e, em janeiro de 2014, fugiu com seus pais e sua irmã para Qaraquosh, a maior cidade cristã no Iraque, após perceber a ação do ISIS. Em agosto de 2014, tornaram-se refugiados mais uma vez, ao partir para Erbil. “Quando vimos que os soldados curdos, que até o momento nos defendiam, estavam se retirando, sabíamos que também era hora de ir embora. Afinal de contas, não havia mais ninguém entre nós e o ISIS”.
O jovem recordou o pânico que viu estampado nos rostos das pessoas, que saíram correndo, apenas tentando ficar seguras. Hoje, Rami, como centenas de outras pessoas, vive em um container que foi comprado com a ajuda da AIS. Um ano depois, Rami já não está confiante de que ele em breve poderá voltar para casa. “Eu não posso contar com o governo ou o exército do meu país. Eles simplesmente deixaram Mossul e outros lugares à mercê do grupo Estado Islâmico”.
“Aqui, nós cristãos não temos direitos, nem segurança. Além disso, os xiitas e sunitas estão em guerra uns com os outros. É por isso que eu quero ir embora. Hoje, e não amanhã. Eu não vejo um futuro para mim aqui no Iraque. A minha impressão é que a maioria dos cristãos querem ir embora”, relatou o rapaz.
Para conseguir ir para o Ocidente, como deseja, ele teria que se registrar como um refugiado nas Nações Unidas (ONU) em um dos países vizinhos. Mas, ele ressaltou que não têm autorização para trabalhar no Líbano, Turquia ou Jordânia e que, para conseguir a permissão para deixar o país, poderia levar até três anos. “Até lá você tem que viver de suas economias. Mas eu não tenho nenhuma”.
A memória daquele 6 de agosto, porém, ainda se faz muito forte não só para os refugiados, mas também para aqueles que os receberam em Erbil e se colocaram prontos a ajudar. Ao site da AIS, o sacerdote caldeu cuida do Centro de Mar Elia, Padre Douglas Bazi, contou que estava nos Estados Unidos naquele dia e, logo que soube do ocorrido, decidiu retornar para casa. Entretanto, como o aeroporto de Erbil foi fechado, ele ficou preso em Ankara(Turquia).
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Quando chegou a Erbil, o sacerdote viu a grande necessidade. “Dezenas de milhares de pessoas que chegaram aqui sem nada; no início, isso estava me consumindo totalmente. O povo estava totalmente perdido. Seus rostos refletiam a raiva, confusão e desolação. Para mim eles eram como corpos com almas mortas. Alguns não queriam nem mesmo comer. Eles diziam: 'Porquê? Viver? Para quê?' Quando eu vi isso, pensei: Este é o fim. Por fora, eu tentei ser forte. Mas interiormente, eu estava destruído. O que poderíamos fazer agora? Eu sabia que 60 mil cristãos viviam em Qaraqosh sozinhos. Como poderíamos ajudar tantas pessoas?”, perguntou-se antes de concentrar todas suas energias na organização da ajuda de emergência.
“O dia 6 de agosto é um dia de tristeza, mas também o dia em que Deus nos salvou. Afinal, ainda estamos vivos. Vamos celebrar uma missa. Não podemos esquecer o que aconteceu. Mas vamos pedir a Deus para perdoar os nossos perseguidores e para mudar seu jeito de pensar”.
Padre Douglas reforçou o pedido para que, hoje, todos os cristãos estejam unidos em oração. “Nós sentimos o poder de suas orações. Esta é a única razão de nós conseguirmos continuar. Como membros de um só corpo de Cristo é nossa responsabilidade estar lá um para o outro. A igreja na Mesopotâmia é confrontada com o mal. Por favor, rezem para que meu povo seja capaz de se manter firme diante do diabo!”.
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