MUNIQUE, 26 de abr de 2005 às 14:46
A semana que passou foi muito intensa para o Padre Georg Ratzinger. além de lutar com a avalanche dos meios, teve que sair à frente de certa mídia que acusou o seu irmão, o Papa Bento XVI, de ter simpatizado com o regime nazista.
Quando o jornal britânico Sun, o tablóide mais popular de Grã-Bretanha, escreveu “das juventudes hitlerianas... a Papa Ratzi” em um de seus titulares, Georg Ratzinger viu a necessidade de explicar com claridade o passado de sua família e de seu irmão.
“Quem escreve tal tipo de coisas o faz porque precisa escrever”, indicou o P. Georg com relação aos titulares mais sensacionalistas e acrescentou que “quem escreve isso... não entende aqueles tempos”.
Nos tempos da Alemanha nazista, os Ratzinger escutavam na rádio as notícias dos aliados. “Era um ato de desafio simples mas arriscado na pequena cidade bávara. Nosso pai o fazia para que seus filhos soubéssemos a verdade sobre os nazistas e a Segunda Grande Guerra”, recordou.
O P. Georg comentou que escutar aos aliados “estava absolutamente proibido. Se algúem era apanhado o enviavam a um campo de concentração, assim que o fazíamos em segredo. As notícias alemãs não eram certas. Meu pai queria escutar o que na verdade acontecia”.
Opções como a de pertencer às juventudes hitlerianas aos 14 anos e ao exército aos 18 anos, permitiram sobreviver ao atual Pontífice e seu irmão..
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“(O Papa) Não tinha alternativa. Tinhas que unir-te ou te atiravam. Era um regime brutal. Era uma ditadura desumana”, declarou o sacerdote e acrescentou que “não havia nada de bom nela. Ele (o Papa) foi operador de rádio. Nunca brigou. Eram tempos duros e teve que manter os canhões, pistolas e outros fornecimentos”.
Segundo Volker Dahm, diretor de investigação sobre a era nazista do Instituto de História Contemporânea de Munique “aproximadamente 90 por cento dos jovens na Alemanha formou parte das juventudes hitlerianas. Negar-se a pertencer a elas era condenar-se a ser enviado a um campo de ré-educação, algo similar a um campo de concentração”.
Em 1943, quando Joseph Ratzinger tinha 16 anos, toda sua classe do seminário foi convocada para ajudar nas baterias anti-aéreas que defendiam uma planta de BMW e logo uma fábrica de aviões no Oberpfaffenhofen, em que se construíram os primeiros jatos alemães.
Em 1944, foi obrigado a servir na construção de diques antitanques na fronteira austro-húngara. “Um oficial do SS veio e nos obrigou a nos alistar”, conforme escreveu a novo Papa em seu livro autobiográfico Memórias 1927 - 1977. “Alguns se alistaram neste grupo criminal. Eu tive a sorte de dizer que queria ser sacerdote católico e me mandaram emboram com insultos”, comentou em dito livro.
Franz Haselbeck, um ativista, assegurou que “Traunstein –aonde chegaram os Ratzinger– era como todas as outras cidades nesse tempo, todos deviam formar parte do partido nazista. Existia tal repressão que era impossível viver uma vida normal. Ninguém podia. Não há forma em que um menino normal pudesse ter enfrentado isso”.
Personagens tão polêmicos como Abraham Foxman, diretor da Liga Anti-difamação dos Estados Unidos, saíram em defesa do novo Pontífice. Foxman declarou que o Papa Bento XVI “é um sobrevivente da tirania e deve ser valorado como um homem que viu o pior da humanidade e passou o resto de sua vida em prol de algo muitíssimo melhor”.