SANTIAGO DE CUBA, 22 de set de 2015 às 11:10
O Papa Francisco recordou que a alma de Cuba foi forjada entre dores e penúrias “que não conseguiram apagar a fé” e desafiou os cubanos a “viver a revolução da ternura como Maria”. As declarações foram feitas durante a Missa que presidiu no Santuário da Virgem da Caridade do Cobre.
A Virgem da Caridade do Cobre é a padroeira de Cuba e é considerada por crentes e não crentes como “símbolo cubano”. Segundo o governo cubano, esta é a imagem mais venerada em toda a ilha. Mede 35 centímetros sem contar sua base nem a coroa e foi achada há 400 anos por três meninos na baía de Nipe.
Na primeira Missa de um Pontífice celebrada dentro do histórico templo cubano na cidade do Santiago, o Papa disse que “somos convidados a viver a revolução da ternura, como Maria, Mãe da Caridade. Somos convidados a ‘sair de casa’, a ter os olhos e o coração abertos aos outros”.
Na Missa participou o primeiro escalão do governo de Cuba, incluindo Raúl Castro, presidente do Conselho de Estado e de Ministros da República, que assistiu às três Missas presididas pelo Papa na ilha.
Francisco assegurou que “nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros”.
“A nossa fé faz-nos sair de casa e ir ao encontro dos outros para partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações”, assinalou.
O Santo Padre destacou ainda que “a presença de Deus na nossa vida nunca nos deixa tranquilos, sempre nos impele a mover-nos. Quando Deus visita, sempre nos tira para fora de casa: visitados para visitar, encontrados para encontrar, amados para amar”.
“Aqui vemos Maria, a primeira discípula. Uma jovem talvez nos seus 15 a 17 anos, que, numa aldeia da Palestina, foi visitada pelo Senhor anunciando-lhe que seria a mãe do Salvador. Longe de ‘Se imaginar sei lá quem’ e pensar que todo o povo deveria vir assisti-la ou servi-la, Ela sai de casa e vai servir”.
As terras cubanas, assinalou o Papa, também “foram visitadas pela sua presença maternal. A pátria cubana nasceu e cresceu ao calor da devoção à Virgem da Caridade”.
Do Santuário da Virgem da Caridade do Cobre, a Virgem “guarda as nossas raízes, a nossa identidade, para não nos perdermos nos caminhos do desespero”.
O Papa recordou que a alma do povo cubano “foi forjada por entre dores e privações que não conseguiram extinguir a fé; aquela fé que se manteve viva, graças a tantas avós que continuaram a tornar possível, na vida diária do lar, a presença viva de Deus”.
“Avós, mães e tantas outras pessoas que, com ternura e carinho, foram sinais de visitação, de valentia, de fé para os seus netos, nas suas famílias. Mantiveram aberta uma fenda, pequena como um grão de mostarda, por onde o Espírito Santo continuou a acompanhar o palpitar deste povo”.
Francisco assinalou que, assim como Santa Maria, “queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade”.
“Como Maria, Mãe da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação”, disse.
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“Todos juntos, servindo, ajudando. Todos filhos de Deus, filhos da Maria, filhos desta nobre terra cubana”, destacou.
Ao finalizar sua homilia, o Santo Padre destacou que a maior riqueza e o melhor legado que se pode deixar “aprender a sair de casa, como Maria, pelas sendas da visitação. E aprender a rezar com Maria, pois a sua oração é cheia de memória e agradecimento; é o cântico do povo de Deus que caminha na história. É a memória viva de que Deus está no nosso meio; é a memória perene de que Deus olhou para a humildade do seu povo, socorreu o seu servo como prometera aos nossos pais e à sua descendência para sempre”, indicou.
Concluída a celebração da Missa, o Arcebispo do Santiago de Cuba, Dom Dionisio García lbáñez, agradeceu ao Papa “por ter chegado como peregrino até estas planícies no oriente cubano”.
“Na pequena e formosa imagem da Virgem da Caridade do Cobre os cubanos experimentam a misericórdia de Deus para com nosso povo; é fonte de inspiração e, diante ela, naturalmente brota a oração pelo bem de todos”, explicou o Arcebispo.
O Prelado pediu também ao Santo Padre “que abra solenemente o Ano Jubilar Mariano que celebraremos, começando no dia de hoje e concluindo em 24 de setembro de 2016”.
Este ano jubilar celebra os 100 anos da proclamação da Virgem da Caridade como padroeira de Cuba.
“Deste Santuário, casa de todos os cubanos, onde pulsa o coração de Cuba, prometemos-lhe orar por sua pessoa e seu ministério”, assegurou o Arcebispo cubano ao Papa.
O Papa Francisco, assim como fez no Holguín, presenteou Dom Dionisio García lbáñez com um cálice.
Dom García lbáñez, por sua parte, deu de presente ao Papa uma cópia da petição feita a Bento XV há 100 anos para que proclamasse a Virgem da Caridade do Cobre padroeira de Cuba.
Ao fim da cerimônia, o Santo Padre desejou aos fiéis “um feliz ano jubilar, que a Virgem os abençoe, que dê a cada um o mais deseja e mais necessita” e lhes pediu que “não se esqueçam de rezar por mim”.
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