Participante da 14ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, considerou ter sido “profético para o mundo que a Igreja se ocupasse tão intensamente com a família nesta época”. Em entrevista ao portal da Arquidiocese (ArquiSP), o Purpurado expressou que o Sínodo veio “para dizer uma palavra clara e orientadora sobre essa célula básica da sociedade e da Igreja”.

O Sínodo dos Bispos aconteceu entre os dias 4 e 25 de outubro, no Vaticano, refletindo sobre o tema A vocação e a missão da família na Igreja e na sociedade contemporânea. Segundo Dom Odilo, “foram abordados praticamente todos os temas referentes ao casamento e à família”.

“Creio que o resultado foi muito positivo e algumas questões apareceram claras: uma renovada valorização da família pela Igreja, como realidade boa e querida por Deus; o casamento entre um homem e uma mulher dá início a uma família; a família tem uma missão importante em relação a cada pessoa, à comunidade humana e à Igreja”, analisou.

O Cardeal reconheceu que “muitas situações novas e complexas envolvem hoje a família e requerem a atenção pastoral renovada da Igreja, que precisa estar próxima das famílias marcadas pela dor e todo tipo de sofrimento”.

A Igreja, completou, “ao mesmo tempo que convida todos a acolherem a Boa Nova de Jesus, precisa olhar com paciência e misericórdia os casais e as famílias que vivem em situações contrastantes com o ensinamento do Evangelho”.

Diante disso, sublinhou que se refletiu muito “sobre a necessidade da boa preparação para o casamento cristão e o casamento em geral”.

Para Dom Odilo, “a preparação para o casamento deverá ser uma das ações principais da pastoral da família, de maneira que haja menos casamentos nulos ou divórcios no futuro”. “Precisamos perseverar, na certeza de que Deus não pede coisas impossíveis aos homens. É possível casar, perseverar e ser feliz no casamento”, declarou.

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Durante o Sínodo, um dos assuntos mais recorrentes na mídia foi a questão do acesso à Comunhão Eucarística aos divorciados e recasados. Entretanto, o Cardeal esclareceu ao portal da Arquidiocese que “o Sínodo não tinha a missão de ‘resolver’ essa questão, pois a natureza do sínodo é consultiva, e não decisória”.

Conforme relatou, este assunto foi refletido durante o Sínodo e os padres sinodais ofereceram “algumas indicações ao Papa” quanto a isso. Porém, sublinhou que “permanecem válidas as indicações dadas pelo Papa São João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, de 1981”.

“O Sínodo consultivo e, por si mesmo, não lhe cabia tomar nenhuma decisão. O Papa convocou a assembleia do Sínodo para ouvir a Igreja sobre as questões relativas ao casamento e a família, através dos seus pastores locais. Isso foi feito, o Papa ouviu atentamente e recebeu o relatório final, com as indicações dos participantes do Sínodo. Agora, depois de algum tempo, certamente haverá uma palavra ‘de autoridade’ do Papa, como aconteceu nos Sínodos anteriores”, disse o Cardeal.

Para o Cardeal Scherer, o Sínodo foi uma intensa experiência eclesial, sendo possível perceber a universalidade da Igreja. “Foram três semanas de reuniões com a presença quase diária do Papa Francisco e com representantes dos episcopados do mundo inteiro, além de outros membros da Igreja”.

Logo na abertura do Sínodo, o Papa Francisco, ao saudar os participantes, explicou o “espírito de colegialidade” deste evento e ressaltou que “o Sínodo não é um congresso ou um parlatório, não é um parlamento nem um senado onde fazemos acordo”, mas sim “uma expressão eclesial, isto é, a Igreja que caminha unida para ler a realidade com os olhos da fé e com o coração de Deus”.

Segundo Dom Odilo, foi exatamente isso o que se viu durante esses dias. “Não se tratou de um Parlamento, onde a maioria decide, ou os partidos tentam negociar composições e compromissos, para vencer um debate... Procuramos todos falar com liberdade e colocar-nos à escuta do outro, na tentativa de discernir o que o Espírito de Deus ensina”, indicou.