Roma, 11 de nov de 2015 às 14:44
A guerra no Iraque e na Síria cobrou um alto preço dos cristãos caldeus do Oriente Médio. Agora, os Bispos dessa Igreja oriental em comunhão com Roma, como Dom Bashar Warda, Arcebispo de Erbil (Iraque), perguntam-se o que podem fazer para ajudar os refugiados cristãos a sobreviver e a preservar na fé diante da perseguição.
“Meu plano está em como ajudar as famílias cristãs que decidiram ficar a permanecerem e viverem com dignidade. Essa é minha grande preocupação, todo o plano”, disse Dom Warda ao Grupo ACI.
“Para ser honesto, eu não posso dizer a ninguém que fique. Há centenas de razões que motivam as pessoas a irem embora. Não há alguma razão que realmente os incentive e ajude a ficar. Mas, temos a fé e a esperança de que esta comunidade ficará, e, pela graça de Deus, que esteja fortalecida pelas orações que recebemos”, comentou.
A sede patriarcal da Igreja Católica Caldeia é Bagdá. Esta Igreja está presente no Irã, Síria, Líbano, Turquia, Israel e Egito, assim como na França e nos Estados Unidos. Segundo afirmou a Associação para o Bem-estar do Oriente Próximo Católico há cerca de 400 mil católicos caldeus no mundo.
A violência no Iraque depois da invasão norte-americana no ano 2003 e o surgimento do Estado Islâmico no Iraque e na Síria se traduziu nos assassinatos e expulsões seletivas de muitos cristãos. Este conflito causou a fuga de milhões de pessoas, incluindo centenas de milhares de cristãos.
Muitos fugiram para Jordânia, Líbano e Turquia, enquanto outros são deslocados dentro de seus países de origem. Os caldeus iraquianos foram deslocados para Erbil e Dohuk.
Erbil, a cidade natal de Dom Warda, está localizada na região do Curdistão, ao norte do Iraque. Esta é uma região segura, apesar de ter uma fronteira de pouco mais de mil quilômetros de comprimento que limita com o território controlado pelo Estado Islâmico.
“A atitude de acolhida do governo curdo foi realmente uma grande ajuda para os refugiados cristãos e yazidis”, disse o Arcebispo e acrescentou que “temos no Curdistão 1.800.000 refugiados”.
A Diocese em si acolhe 10.300 famílias cristãs que abandonaram Mosul e a planície de Nínive. Mas 3.000 famílias cristãs se foram desde o ano 2014.
O Arcebispo de Erbil explicou que a pressão para emigrar é enorme. “Se hoje oferecerem um visto a todos os refugiados, eles aceitarão. Mas sabemos que alguns irão em meio a lágrimas”.
“Nem todos querem ir porque, durante o tempo em que havia uma possibilidade de fugir, eles preferiram ficar”, indicou.
O Bispo caldeu no Líbano está “fazendo o melhor” para cuidar dos refugiados e para convencê-los a ficar no Oriente Médio.
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Os cristãos iraquianos que permanecerem no Oriente Médio terão mais possibilidades para retornar a seus lares na planície de Nínive e em Mosul. “Mas, uma vez que deixem Oriente Médio, será o final da história”, assinalou Dom Warda.
Também indicou que a Igreja Caldeia não quer forçar as famílias a permanecer. A Igreja “só quer estar com eles e, inclusive, ajudar com as necessidades materiais, espirituais e pastorais que eles têm nestes momentos difíceis”.
“Tudo está mudando, mas assim mesmo, nós queremos responder às necessidades imediatas dos refugiados, que são o refúgio, a saúde, a educação e outros assuntos materiais”, indicou o Prelado, ao referir-se ao trabalho dos Bispos com os diferentes organismos católicos de ajuda.
Os Bispos caldeus estão trabalhando com os Bispos, os clérigos e as religiosas deslocados de Mosul para garantir a atenção espiritual e pastoral de seu rebanho.
O Arcebispo disse que seria “muito doloroso” voltar para Mosul. Inclusive, se o Estado Islâmico abandonasse a cidade, “necessitaríamos um pouco de tempo”.
“Mas, o povo da planície de Nínive e suas aldeias queriam voltar e reconstruir suas vidas. Seria difícil, realmente não é uma decisão fácil. O compromisso e o risco são altos, sobretudo, quando a confiança entre as comunidades foi quebrada. Mas, acredito que a missão da Igreja e de todos os cristãos é ficar e construir pontes. Fizemos antes, acredito que seremos capazes de fazê-lo de novo”, indicou.
Acrescentou ainda que o diálogo com o Estado Islâmico não é possível porque “eles não imaginam a si mesmos em qualquer posição de diálogo. Para eles, somos infiéis”.
Contudo, ele sugeriu aos cristãos que se relacionem com as outras vítimas do grupo Estado Islâmico e “construam pontes de paz e confiança”.
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