VATICANO, 2 de dez de 2015 às 10:39
O Papa Francisco falou sobre sua recente viagem à África na Audiência Geral desta quarta-feira, na Praça de São Pedro. Por sua vez, convidou os jovens a pensar em sua vocação e sobre a possibilidade de o Senhor os chamar para ser missionários e evangelizar em qualquer lugar do mundo.
Os missionários são “homens e mulheres que deixaram tudo, a pátria, desde jovens e se foram, em uma vida de muito trabalho, às vezes dormindo sobre a terra, toda a vida”, disse Francisco.
Em seguida, contou uma anedota que lhe ocorreu na República Centro-Africana: “Em um momento encontrei em Bangui uma religiosa italiana, via-se que era anciã: ‘Quantos anos tem?’, perguntei-lhe. ‘81’. ‘Ah, não muito… dois a mais do que eu, não muito’. Estava com uma menina e a menina, em italiano, chamava a freira de ‘vovó’. 81 anos e estava ali desde que tinha 23 ou 24 anos. Toda a vida. E, como ela, muitos. ‘Mas eu não sou daqui, sou do país vizinho, do Congo, mas vim em canoa com esta menina’”.
“Assim são os missionários, valentes. ‘E o que você faz, irmã?’. ‘Eu sou enfermeira e depois estudei um pouco e me tornei parteira, ajudei a nascer 3.280 crianças”.
“Uma vida inteira pela vida dos outros. Como ela, existem tantos outros, religiosos, padres, missionários que ‘queimam’ suas vidas para anunciar Jesus Cristo. Isto é muito bonito”.
O Papa continuou improvisando: “Eu gostaria de dizer uma coisa aos jovens… há poucos porque a natalidade na Europa parece que é um luxo. Natalidade 0%, natalidade 1%. Mas, me dirijo aos jovens: pensem no que farão de suas vidas, pensem nesta religiosa e em tantas como ela, que deram a vida e muitos morreram ali. A missionariedade não é fazer proselitismo, porque esta irmã me disse que até os muçulmanos vão até elas porque sabem que as freiras são boas enfermeiras que curam bem e não fazem catequese para convertê-los, a não ser testemunho, e a quem quiser, dão catequese. Testemunho: esta é a grande missionariedade heroica da Igreja, anunciar Jesus Cristo com a própria vida”.
“Dirijo-me aos jovens: o que pensam, o que querem fazer com sua vida? É o momento de pensar e pedir ao Senhor que te faça sentir a vontade dele, mas não excluam por favor esta possibilidade de ser missionários para levar o amor, a humanidade, a fé a outros países. Não para fazer proselitismo, isso o fazem outros que procuram outra coisa. A fé se prega primeiro com o testemunho e depois com a palavra, lentamente”.
Na catequese, o Pontífice relembrou os três países do continente africano que visitou durante seis dias, Quênia, Uganda e República Centro-Africana, de onde retornou a Roma na segunda-feira, 30 de novembro.
Francisco afirmou que o Quênia “representa bem o desafio global de nossos tempos: tutelar a criação reformando o modelo de desenvolvimento de modo que seja justo, inclusivo e sustentável”.
Sobre a capital, Nairóbi, (onde esteve), afirmou que “convivem a riqueza e a miséria, e isto é um escândalo, não só na África, mas aqui também, a convivência entre riqueza e miséria é uma vergonha para a humanidade”.
Ao repassar os atos que celebrou, sublinhou que se encontrou com muitos jovens. “Em cada ocasião animei-os a tomar como um tesouro a grande riqueza desse país: riqueza natural e espiritual, constituída dos recursos da terra, das novas gerações e dos valores que formam a sabedoria do povo”.
“Neste contexto assim dramaticamente atual, tive a alegria de levar a palavra de esperança de Jesus Ressuscitado: ‘Sejam firmes na fé, não tenham medo’ era o lema da visita. Uma palavra que é vivida cada dia por tantas pessoas humildes e singelas, com uma nobre dignidade”.
De Uganda, explicou que sua visita se celebrou no contexto dos 50 anos de canonização dos mártires deste país, pelo Papa Paulo VI. O lema foi “Vocês serão minhas testemunhas’’ e “toda a visita se desenvolveu no ardor do testemunho animado pelo Espírito Santo”.
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“Testemunho no sentido explícito é o serviço dos catequistas, aos quais agradeci e animei por seu compromisso, que frequentemente corresponde também a suas famílias”.
“Testemunho como o da caridade, que pude tocar com a mão na Casa do Nalukolongo, e que vê comprometidas tantas comunidades e associações no serviço aos mais pobres, incapacitados e doentes”.
“Testemunho dos jovens que, apesar das dificuldades, guardam o dom da esperança e procuram viver segundo o Evangelho e não segundo o mundo, indo contra a corrente”.
“Testemunhos dos sacerdotes, dos consagrados e consagradas que renovam dia a dia seu ‘sim’ total a Cristo e se dedicam com alegria ao serviço do povo santo de Deus”.
Francisco disse que “todo este testemunho multiforme, animado pelo Espírito Santo, é levedura para toda a sociedade”.
Em relação à República Centro-Africana, o Santo Padre revelou que esta visita era, na verdade, a primeira de suas intenções, “porque o país está tentando sair de uma fase difícil, de conflitos violentos e muito sofrimento para a população”.
“Foi por isso que quis abrir, uma semana antes, a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia em um país que sofre muito, como sinal de fé e esperança para aquele povo e simbolicamente para todos os povos africanos mais necessitados de resgate e consolo”.
Fazendo referência às palavras do Evangelho “passar À outra borda”, Francisco explicou que “significa deixar para trás a guerra, as divisões, a miséria, e escolher a paz, a reconciliação, o progresso”.
“Mas isto pressupõe um ‘passo’ que se dá nas consciências, nas atitudes e nas intenções das pessoas”.
O Papa recordou que na última Missa, no estádio do Bangui, “renovamos o compromisso de seguir Jesus, nossa esperança, nossa paz, Rosto da divina misericórdia”.
“Esta última Missa foi maravilhosa, estava cheia de jovens, um estádio jovem, mas mais da metade da população da República Centro-Africana são menores, têm menos de 18 anos, é uma promessa para ir adiante”.
Na última parte da Audiência, ao saudar os peregrinos de língua italiana, fez um convite a viver o Advento. “No domingo passado, iniciamos o Tempo de Advento. Exorto todos a viver este tempo de preparação ao nascimento do Jesus, Rosto do Pai misericordioso, no contexto extraordinário do Jubileu, com espírito de caridade, maior atenção a quem está na necessidade, e com momentos de oração pessoal e comunitária”.
“Dirijo uma saudação aos jovens, enfermos e recém-casados. Que o Deus da paz os de estímulo, queridos jovens, para ser promotores de diálogo e compreensão; ajude vocês, queridos enfermos, a olhar a cruz de Cristo para aprender a confrontar com serenidade o sofrimento; e favoreça a vocês, queridos esposos recém-casados, o crescimento da paz e do amor em suas novas famílias”.