ROMA, 2 de dez de 2015 às 13:45
A “International Commission of Jurists”, uma organização formada por mais de 60 peritos do mundo inteiro com sede em Genebra, afirmou que é urgente derrogar a lei sobre blasfêmia no Paquistão.
Segundo assinalou a agência vaticana Fides, esta instituição assegura que a lei de blasfêmia é “cruel” pelas sanções que esta prevê, como a cadeia perpétua ou a pena de morte quando se trata de uma ofensa a Maomé.
Os juristas pedem ao governo do Paquistão que mude “a lei de forma substancial a fim de que esteja de acordo com as normas internacionais sobre liberdade de expressão; liberdade de pensamento, de consciência e de religião”.
É muito comum que os muçulmanos no Paquistão abusem desta lei a fim de que possam resolver conflitos pessoais.
O juiz Asif Saeed Khosa assinalou em relação a este tema: “É desagradável e não podemos negar que muitos casos registrados por delito de blasfêmia, na verdade, são denúncias falsas por fins alheios à lei”.
Segundo os dados da Comissão Nacional “Justiça e Paz”, 200 cristãos, 633 muçulmanos, 494 ahmadíes e 21 hindus foram acusados de delitos relacionados com a “blasfêmia” desde 1987.
O relatório indicou que “o número de cristãos e membros de outras minorias religiosas acusados é enormemente desproporcional ao número de muçulmanos acusados, embora o número de muçulmanos acusados seja mais alto em seu conjunto”.
Também explicam que em 25 casos de apelação apresentados ante o Tribunal Superior, o Tribunal Internacional de Justiça descobriu que na maioria dos casos (60%) aqueles que apelaram foram absolvidos depois que os juízes estipularam que os cargos apresentados contra estas pessoas tinham sido “fabricados ou movidos por razões pessoais ou políticas”.
A Comissão de Juristas pediu ainda a abolição da pena de morte para os delitos de blasfêmia e assinalou a necessidade de estabelecer com certeza a intenção do infrator.
Além disso, denuncia as execuções extrajudiciais que permanecem impunes, das quais os acusados de blasfêmia normalmente são vítimas, embora sejam inocentes.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
O que é a lei de blasfêmia?
A Lei de Blasfêmia reúne várias normas contidas no Código Penal, inspiradas diretamente na Shariah – lei religiosa muçulmana – a fim de sancionar qualquer ofensa com palavras ou obras usadas contra Alá, Maomé ou o Corão. A ofensa pode ser denunciada por um muçulmano sem necessidade de testemunhas ou provas adicionais e o castigo supõe o julgamento imediato e a posterior condenação a prisão ou morte do acusado.
Normalmente esta lei é usada para perseguir a minoria cristã, os quais costumam ser explorados no trabalho e discriminados no acesso à educação e aos cargos públicos.
Asia Bibi
Em junho de 2009, Asia Bibi trabalhava recolhendo frutas com outras mulheres muçulmanas em Sheikhupura, perto de Lahore (Paquistão). Em certa ocasião, aproximou-se de um poço local para beber um pouco d´água e suas companheiras a acusaram de ter poluído a água inteira para o resto dos trabalhadores, apenas pelo fato de ser cristã.
No dia seguinte, Asia foi atacada por uma multidão e levada a uma delegacia “por sua segurança”, onde foi acusada de blasfêmia contra Maomé.
Desde sua prisão, Asia denunciou ter sido perseguida em razão de sua fé e negou ter pronunciado algum tipo de ofensa contra o Islã.
Há alguns meses, a família de Asia Bibi saudou o Papa Francisco graças às gestões da associação HazteOir. Naquela ocasião, o Santo Padre disse ao esposo desta mulher católica e mãe de cinco filhos que reza por ela e pela sua libertação.
Asia Bibi foi presa injustamente no Paquistão há cinco anos, desde que foi condenada no dia 8 de novembro de 2010.