Um novo livro-entrevista do Papa Francisco será lançado amanhã em 86 países. Com o título “O nome de Deus é misericórdia”, a obra traz declarações do Pontífice sobre o pecado, a corrupção, o perdão, a Igreja e ele próprio.

“O Papa é um homem que tem necessidade da misericórdia de Deus”, confidencia o Santo Padre na entrevista ao vaticanista Andrea Tornielli, do La Stampa, ao revelar ainda que tem uma “relação especial” com os presos.

Conforme trechos da publicação, antecipados pela Rádio Vaticano, Francisco declara que cada vez que passa “pela porta de uma prisão para uma celebração ou para uma visita”, sempre vem em sua mente “este pensamento: porque eles e não eu?”.

 “A queda deles poderia ter sido a minha”, observa o Bispo de Roma, acrescentando que não se sente “melhor” do que aqueles que estão diante dele.

E, para Francisco, é um consolo poder olhar para São Pedro e ver que, embora tenha negado Jesus, o Senhor o escolheu.

“E se os Evangelhos nos descrevem o seu pecado, a sua negação e se não obstante tudo isto Jesus lhe disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’, não acredito que se deva maravilhar se também os seus Sucessores descrevem a si mesmos como pecadores”, indica.

Francisco ainda admite poder ler a sua vida “através do capítulo 16 do livro do profeta Ezequiel”, que “fala da vergonha, e a vergonha é uma graça”, porque “quando alguém experimenta a misericórdia de Deus, sente uma grande vergonha de si próprio, do próprio pecado”.

Segundo o Pontífice, o texto de Ezequiel “ensina a envergonhar-se”. Entretanto, “com toda a tua história de miséria e de pecado, Deus permanece fiel e te levanta”.

Um fato marcante dessa misericórdia divina em sua própria vida e que recorda neste livro-entrevista é a relação com Padre Carlos Duarte Ibarra, com quem se confessou em 21 de setembro de 1953, dia de São Mateus, momento em que se sentiu “acolhido pela misericórdia de Deus” e que também foi seu despertar vocacional.

A Igreja, o pecado e a misericórdia

“A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”, sublinha o Papa ao lembrar que a “Igreja condena o pecado porque deve dizer a verdade”. Mas, ao mesmo tempo, explica, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala a ele da misericórdia infinita de Deus”.

Neste sentido, Francisco recorda a Parábola do Pai misericordioso e do filho pródigo, lembrando que o Senhor está sempre “à nossa espera”

“Seguindo o Senhor – indica –, a Igreja é chamada a efundir a sua misericórdia sobre todos aqueles que se reconhecem pecadores, responsáveis pelo mal praticado, que se sentem necessitados do perdão”.

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Para isso, o Santo Padre recorda a imagem da Igreja em saída e diz que é necessário “sair das Igrejas e das paróquias, sair e andar em busca das pessoas lá onde elas vivem, onde sofrem e onde esperam”.

Trata-se, conforme pontua Francisco, da Igreja como “hospital de campanha”, que “tem uma característica de surgir lá onde se combate: não é a estrutura sólida, dotada de tudo, onde se vai para curar as pequenas e grandes enfermidades”.

Por isso, o Sumo Pontífice expressa o desejo de que “o Jubileu Extraordinário faça surgir sempre mais o rosto de uma Igreja que redescubra as vísceras maternas da misericórdia e que vá de encontro aos tantos feridos, necessitados de escuta, compaixão, perdão, amor”.

No livro-entrevista, o Papa Francisco faz ainda uma distinção entre corrupção e pecado, o corrupto e o pecador.

“A corrupção – explica – é o pecado que ao invés de ser reconhecido como tal e de tornar-nos humildes, é elevado à sistema, torna-se um hábito mental, um modo de vida”. Assim, enquanto o pecador arrependido encontra o perdão quando reconhece sua necessidade de misericórdia, o corrupto não se arrepende de ter pecado, é “aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua dupla vida provoca escândalo”.

O Pontífice reitera que são duas realidades distintas, embora interligadas. Ele esclarece que o corrupto se cansa de pedir perdão e chega a acreditar que não precisa mais pedi-lo.

“Alguém pode ser um grande pecador e não obstante isto não ter caído na corrupção”, sublinha, ao citar como exemplos algumas figuras do Evangelho tais como Zaqueu, São Mateus, a samaritana, Nicodemos, o bom ladrão. “Nos seus corações pecadores – ressalva – todos tinham alguma coisa que os salvava da corrupção”, pois “eram abertos ao perdão, o coração deles advertia a própria fraqueza e esta foi a brecha que fez entrar a força de Deus”.

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Francisco observa, então, que “o pecador, ao reconhecer-se como tal, de alguma forma admite que aquilo a que aderiu, ou adere, é falso”. “Por sua vez – contrapõe –, o corrupto esconde aquilo que considera o seu verdadeiro tesouro, aquilo que o torna escravo, e disfarça o seu vício com a boa educação, arranjando sempre uma forma de salvar as aparências”.

O livro será lançado no Brasil pela editora Planeta e se encontra em pré-venda na internet.

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