Vaticano, 18 de jan de 2016 às 12:10
O Papa Francisco visitou ontem à tarde a Sinagoga de Roma, a mais antiga da Europa. Tornou-se o terceiro Pontífice a visitar a sinagoga, depois de São João Paulo II (há 30 anos) e Bento XVI, em janeiro de 2010.
Em seu discurso, o Pontífice destacou as boas relações das duas confissões durante os últimos 50 anos graças ao Concílio Vaticano II e pediu aprofundar “a compreensão recíproca, a confiança mútua e a amizade”.
O Papa também dirigiu uma oração especial aos seis milhões de judeus que morreram no Holocausto e, de maneira especial, aqueles que foram levados de Roma aos campos de concentração.
#PapaFrancisco visitó la Sinagoga de Roma. Es el tercer Pontífice que lo hace. https://t.co/L8JXms30Rr pic.twitter.com/W2PWNIE9nu
— ACI Prensa (@aciprensa) 17 janeiro 2016
Estavam presentes no local, o Presidente da Comunidade Judia romana, o Presidente das Comunidades judias da Itália e o Rabino Chefe de Roma, Riccardo Di Segni.
O Pontífice destacou que esta era sua primeira visita à Sinagoga como Bispo de Roma e desejava estender a todas as comunidades judias “a saudação fraterna de paz desta Igreja e de toda a Igreja católica”.
“As nossas relações me interessam muito. Em Buenos Aires, eu já estava acostumado a frequentar as sinagogas para encontrar as comunidades lá reunidas”.
“Com o passar dos anos, criou-se uma união espiritual, que favoreceu o nascimento de autênticas relações de amizade e também inspirou um compromisso comum”.
“No diálogo inter-religioso é fundamental encontrar-nos, como irmãos e irmãs, diante do nosso Criador e a Ele prestar louvor; respeitar-nos e apreciar-nos mutuamente e colaborar”, disse no discurso.
O Santo Padre sublinhou: “No diálogo judeu-cristão há uma ligação única e peculiar em virtude das raízes judaicas do cristianismo: judeus e cristãos devem, portanto, sentir-se irmãos, unidos pelo próprio Deus e por um rico patrimônio espiritual comum no qual basear-nos e continuar a construir o futuro.
Francisco recordou as visitas de seus predecessores há alguns anos e, como João Paulo II, cunhou a bela expressão “irmãos mais velhos”. De fato, vocês são as nossas irmãs e as nossos irmãos mais velhos na fé. Todos nós pertencemos a uma única família, a família de Deus; juntos, Ele nos acompanha e nos protege como seu Povo.
“Juntos, como judeus e como católicos, somos chamados a assumir as nossas responsabilidades por esta cidade, dando a nossa contribuição, também espiritual, e favorecendo a resolução dos diversos problemas atuais”, disse no Templo Maior da Sinagoga.
Continuando, indicou: “Espero que aumentem, sempre mais, a proximidade espiritual, o conhecimento e a estima recíprocos entre as nossas duas comunidades de fé”.
Graças ao Concílio
Grande parte de sua intervenção foi dedicada também à Declaração Nostra Aetate, publicada pelo Papa Paulo VI e que acaba de completar 50 anos. Tratava de regular as relações com as diferentes confissões, sobretudo, com o judaísmo.
“O Concílio, com a Declaração Nostra Aetate, traçou o caminho: ‘sim’ à descoberta das raízes judaicas do cristianismo; ‘não’ a toda forma de antissemitismo e condenação de toda injúria, discriminação e perseguição, que disso derivam”, disse recordando umas palavras que pronunciou em outra ocasião.
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O Santo Padre ainda mencionou o documento aprovado no último dia 10 de dezembro pela Comissão para a relações religiosas com o judaísmo, o qual “aborda as questões teológicas emergidas nos últimos decênios, após a Declaração Nostra Aetate”.
“A dimensão teológica do diálogo judeu-católico merece ser sempre mais aprofundada. Por isso, encorajo todos aqueles que estão comprometidos com este diálogo a continuar neste caminho, com discernimento e perseverança”.
“Os cristãos não podem não fazer referência às raízes judaicas; a própria Igreja, professando a salvação, mediante a fé em Cristo, reconhece a irrevocabilidade da Antiga Aliança e o amor constante e fiel de Deus por Israel”.
Desafios atuais
A respeito dos desafios que devem ser enfrentados hoje em dia, o Pontífice destacou “uma ecologia integral e prioritária”. “Como cristãos e judeus, podemos e devemos oferecer a toda a humanidade a mensagem da Bíblia sobre o cuidado da criação”.
“Os conflitos, as guerras, as violências e as injustiças causam ferimentos profundos na humanidade e nos impelem a comprometer-nos pela paz e pela justiça. A violência do homem contra o homem está em absoluta contradição com qualquer religião, digna deste nome e, em particular, com as três grandes Religiões monoteístas. A vida é sagrada, como dom de Deus. O quinto mandamento do Decálogo, diz: ‘Não matar’”, recordou.
“Deus, que é Deus da vida, quer sempre promovê-la e salvaguardá-la. E nós, criados à sua imagem e semelhança, devemos fazer o mesmo. Todo o ser humano, como criatura de Deus, é irmão, independentemente da sua origem ou da sua pertença religiosa”, assinalou o Papa.
“Toda pessoa deve ser vista com benevolência, como faz Deus, que estende a sua mão misericordiosa a todos, independentemente da sua fé e da sua proveniência; Ele dispensa atenção particular aos que mais precisam dele: os pobres, os enfermos, os marginalizados, os indefesos”.
O Pontífice assinalou: “Lá, onde a vida corre perigo, somos chamados, por isso, a promovê-la e a salvaguardá-la. A violência e a morte jamais terão a última palavra diante de Deus, que é Deus do amor e da vida!”.
Então, pediu rezar “com insistência” para que nos ajude a praticar – na Europa, na Terra Santa, no Oriente Médio, na África e em qualquer outra parte do mundo – não a lógica da guerra, da violência, da morte, mas a da paz, da reconciliação, do perdão, da vida”.
“O povo judaico, na sua história, teve que padecer violências e perseguições, até ao extermínio dos judeus europeus, durante o período da Shoah. Seis milhões de pessoas, apenas por pertencerem ao povo judaico, foram vítimas da barbárie mais desumana perpetrada em nome de uma ideologia, que queria substituir Deus com o homem”.
O Santo Padre recordou então os mil judeus de Roma que, em 16 de outubro de 1943, foram levados a Auschwitz, um dos principais campos de concentração nazista.
“O passado deve servir de lição para o presente e o futuro. A Shoah nos ensina que é preciso sempre máxima vigilância, para poder intervir, tempestivamente, em defesa da dignidade humana e da paz”.
Ora è il momento per lo scambio dei doni. #shalomfrancesco pic.twitter.com/drwvAUXnr3
— Roma Ebraica (@romaebraica) 17 janeiro 2016
O Pontífice disse: “Queria expressar a minha solidariedade a cada testemunha da Shoah que ainda vive; saúdo, de modo particular, aqueles que hoje estão presentes aqui”.
“Peçamos juntos ao Senhor, a fim de que conduza o nosso caminho rumo a um futuro bom e melhor. Deus tem para nós projetos de salvação”, sublinhou e despediu-se: “Que o Senhor os abençoe e os proteja, resplandeça seu rosto sobre nós e nos dê a sua graça. Que dirija sobre nós seu rosto e nos conceda a paz”.