Roma, 20 de jan de 2016 às 13:30
“Estamos falando do demônio, porque é algo diabólico”, afirmou o Arcebispo de Abuja (Nigéria), Cardeal John Onaiyekan, ao denunciar os crimes cometidos pelo Boko Haram, grupo fundamentalista islâmico, que há mais de dez anos provoca terror no norte deste país e nos seus vizinhos Níger, Chade e Camarões, com o objetivo de impor um califado.
Niger : des dizaines de milliers de déplacés à cause des attaques de Boko Haram - https://t.co/c7FakWYY37 pic.twitter.com/OCsgFAUJDR
— Cybercomnet (@kvachris) 20 dezembro 2015
“Raptaram 200 meninas do colégio e desde então não as vimos. Bombardearam muitos lugares. Bombardearam igrejas. Agora bombardeiam mesquitas. São simples terroristas e o governo está tentando confrontá-lo”, recordou o Cardeal no programa “Tras las huellas del Nazareno” (Nas pegadas do Nazareno), transmitido por HM Television.
Boko Haram, cujo nome significa “a educação ocidental é pecado”, apareceu em 2002 e em março de 2015 jurou lealdade ao Estado Islâmico (ISIS). Ao longo dos anos, cometeu uma série de crimes, como o ataque a uma escola cristã em fevereiro de 2014, onde queimou vivos cerca de 60 estudantes; ou o sequestro de mais de 200 estudantes em 14 de abril desse mesmo ano. Entre elas, 53 meninas puderam escapar nos dias seguintes.
O último crime deste grupo fundamentalista foi o assassinato de um menino de 12 anos, o qual foi usado em um atentado suicida perto de uma mesquita de Nguetchewe, localizada no norte de Camarões, perto da fronteira com a Nigéria, onde também morreram outras quatro pessoas. Além disso, provocou a fuga de milhares de pessoas e usou as mulheres jovens como suicidas.
“As bombas que explodiram recentemente nas mesquitas foram levadas por mulheres jovens. Achamos que fazem muita lavagem cerebral. Se não fosse por esta razão, não entendo por que uma garota tão jovem poderia se matar desta forma. O que eu não entendo é por que estas pessoas as preparam e dão as bombas a estas mulheres, e não vão eles mesmos. Estamos falando do demônio, porque é algo diabólico”, expressou no programa difundido no dia 18 de dezembro de 2015.
O Arcebispo explicou que na Nigéria os 180 milhões de habitantes estão divididos em 50% cristãos e 50% muçulmanos, com zonas onde predomina mais uma religião do que a outra.
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“Nas regiões norte, nordeste, noroeste predominam os muçulmanos. No sul e no sudoeste são mais cristãos, no sudoeste, de onde eu venho, estão misturados cristãos e muçulmanos. Então, a partir do ponto de vista da Nigéria, geralmente somos metade cristãos e metade muçulmanos (…). Vivendo juntos, em um mesmo país”, destacou.
Indicou que na Nigéria “os cristãos podem viver sua fé livremente. Fazemos procissões... A constituição da Nigéria permite a liberdade religiosa”, inclusive “se uma pessoa quiser, poderia trocar de religião”.
“Entretanto, quanto a pressão social, se mora em uma região onde todos são muçulmanos, não é tão fácil expressar sua fé. Se mora em um lugar onde todos são cristãos, não é tão fácil proclamar sua fé islâmica. Então, tudo está relacionado com o que vão pensar aqueles que estão ao seu redor”, explicou.
“Deste ponto de vista, não somos como o Paquistão, por exemplo, onde as pessoas não podem expressar livremente: ‘sou cristão’. Possivelmente, também não somos como o Egito nem como o Iraque e a Síria. Nigéria é mais ou menos um país típico da África, onde há cristãos e muçulmanos. Alguns de nós somos conversos de nossa religião tradicional. Meu pai se converteu da religião tradicional ao cristianismo e eu fui educado católico, mas meu tio e meus primos são muçulmanos”.
Nesse sentido, disse que “uma coisa importante que merece ser destacada é que Boko Haram é um grupo muito pequeno. Dizem que atuam por parte do Islã, mas a grande maioria dos muçulmanos não estão de acordo com eles. Além disso, como digo, também estão matando os mesmos muçulmanos”.
Este grupo terrorista procura impor um califado na África. Até agora seu campo de ação é o norte da Nigéria e suas fronteiras com o Chade, Camarões e Níger. Entretanto, em março de 2015 jurou lealdade ao Estado Islâmico (ISIS) e, segundo a ministra de justiça alemã, Ursula von der Leyen, temem que ambas as organizações formem um “eixo do terror” e desestabilizem outras regiões da África.