“Não nos permitiam chorar, mas eu pensava em minha mãe, pensava que estaria preocupada comigo e chorava em silêncio”, são as palavras de Nasir, um menino de doze anos que estava condenado à morte como “suicida” sob as ordens do Estado Islâmico (ISIS), mas conseguiu escapar e agora está em um campo de refugiados no Iraque.

Este menino apareceu em um vídeo difundido pelo ISIS em fevereiro do ano passado, gravado no Instituto Al Farouq, localizado em Raqqa (Síria) que, segundo os jihadistas, é o principal centro de treinamento para os meninos suicidas, conhecidos como “os cachorrinhos do califado”.

No vídeo, os meninos estão tremendo, alguns não levantam os rostos. São obrigados a gritar “pela jihad, pela jihad”. Depois o instrutor diz: “Pela graça de deus nos próximos dias estarão nas linhas de frente da luta contra os infiéis”.

Pouco depois deste acontecimento, Nasir – nome fictício por razões de segurança – conseguiu escapar do Estado Islâmico. Em uma entrevista concedida à CNN, o menino pediu que não revelasse a sua identidade e deu testemunho das atrocidades que experimentou no campo de treinamento.

“Durante o treinamento nos diziam que nossos pais eram infiéis e que nosso primeiro trabalho seria voltar para matá-los”, indicou. Também disse que os jihadistas repetiam constantemente que eles eram sua única família.

“Éramos 60 meninos. Os piores momentos para nós era quando havia ataques aéreos. Escondiam-nos debaixo da terra, dentro dos túneis. Diziam-nos que os americanos, os infiéis, estavam tentando nos matar, mas eles, os guerreiros, nos amavam e cuidariam de nós melhor do que nossos pais”, contou.

Comentou, inclusive, que o menino mais novo tinha cinco anos e, apesar de ser tão pequeno, não representava nenhum impedimento para que o ISIS o escolhesse para assassinar.

Do mesmo modo, Nasir comentou que os terroristas “não nos permitiam chorar, mas eu pensava na minha mãe, pensava que poderia estar preocupada comigo e chorava em silêncio. Quando escapamos e vi a minha mãe novamente, foi como se voltasse a viver”.

Agora Nasir mora no campo de refugiados Esyan no Curdistão iraquiano junto com a sua mãe.

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A CNN também conta a história de Nouri, um menino de 11 anos sequestrado pelo Estado Islâmico com sua família e levado como prisioneiro ao campo jihadista Tel Aafar, localizado no norte do Iraque.

Assim como Nasir, Nouri foi levado para o treinamento suicida. Mas ele não aceitou e um dos membros do ISIS quebrou a sua perna. Ficou manco e por isso os terroristas o liberaram. Saman, um dos seus irmãos mais novos, tinha apenas cinco anos, também foi libertado, porque depois de ser espancado por um dos membros do ISIS o menor ficou traumatizado.

Ambos foram entregues aos seus avós e atualmente moram com eles. Seus pais e seu irmão bebê continuam sequestrados.

Por outro lado, Azis Abdullah Hadur, um comandante peshmerga, explicou à CNN que o Estado Islâmico treina os meninos para atacar o exército curdo e que são obrigados a colocar coletes e se suicidar.

Em seguida, acrescentou que “quando se aproximam de nós, não sabemos se realmente estão fugindo ou se foram enviados para nos matar (…) Quando conseguem atravessar nossas linhas, matam os nossos combatentes. Esta decisão é extraordinariamente difícil, muitas vezes não sabemos o que fazer, pois se não os matamos, eles nos matarão”.

A respeito das pessoas que conseguem escapar do Estado Islâmico, Hadur disse que “quando os encontramos, normalmente estão muito magros. Dizem que estiveram vivendo em um inferno”.

A crueldade do ISIS com os meninos que tentam escapar não tem limites. Em novembro do ano passado os terroristas assassinaram 12 meninos soldados que tentaram fugir de um campo de treinamento militar no Iraque.

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