Vaticano, 3 de mar de 2016 às 17:00
“Em nosso tempo, algumas orientações culturais não reconhecem mais a marca da sabedoria divina nas realidades criadas e nem mesmo no homem”, denunciou o Papa Francisco ao receber os participantes da 22ª assembleia plenária da Pontifícia Academia para a Vida. Em seu discurso, indicou que “não faltam conhecimentos científicos” para proteger a vida frágil, mas necessitam estar junto com a virtude e o cuidado humano.
“Hoje, não faltam conhecimentos científicos e instrumentos técnicos capazes de oferecer apoio à vida humana nas situações em que se mostra frágil. Porém, às vezes falta a humanidade. A boa ação não é a aplicação correta do saber ético, mas pressupõe um interesse real pela pessoa frágil. Os médicos e os agentes de saúde nunca deixem de conjugar ciência, técnica e humanidade”, expressou o Papa durante o encontro realizado na Sala Clementina.
Em seu discurso, Francisco abordou o tema eleito este ano pela Pontifícia Academia para a Vida, “As virtudes na ética da vida: mensagem importante para a cultura contemporânea”. Um tema de interesse acadêmico – afirmou –, que recorda à cultura contemporânea que “o bem que o homem realiza não é o resultado de cálculos e estratégias, e nem o produto da constituição genética ou de condicionamentos sociais, mas é o fruto de um coração bem disposto, da escolha livre que tende ao bem verdadeiro”.
O Santo Padre recordou que “a Sagrada Escritura de diversas formas nos diz que as intenções boas ou más não entram no ser humano vindas de fora, mas sim brotam de seu ‘coração’... Na Bíblia, o coração não é somente o órgão dos afetos, mas também o das faculdades espirituais, da razão e da vontade; é a sede das decisões, do modo de pensar e de atuar. A sabedoria das decisões, aberta ao movimento do Espírito Santo, também implica ao coração”.
Entretanto, advertiu que “em nosso tempo, algumas orientações culturais não reconhecem mais a marca da sabedoria divina nas realidades criadas e nem mesmo no homem. A natureza permanece reduzida somente a matéria, que se plasma segundo qualquer desígnio”.
“A nossa humanidade, porém, é única e muito preciosa aos olhos de Deus! Por isso, a primeira natureza a ser protegida a fim de que dê fruto é a nossa humanidade. Devemos dar-lhe o ar puro da liberdade e a água viva da verdade, protegendo-a dos venenos do egoísmo e da mentira. Assim, no terreno de nossa humanidade poderá desabrochar uma grande variedade de virtudes”. E a virtude, afirmou, é “a expressão mais autêntica do bem que o homem, com a ajuda de Deus, é capaz de realizar”.
A virtude, acrescentou Francisco, “não é um simples hábito, mas a atitude constantemente renovada de escolher o bem”, é a expressão mais elevada da liberdade humana, “o melhor que o coração do homem oferece. Quando o coração se distancia do bem e da verdade contida na Palavra de Deus, corre muitos perigos, permanece sem uma orientação e corre o risco de chamar o bem de mal e o mal de bem... cai no engano moral e se sente oprimido por uma crescente angústia existencial”.
Nesse sentido, recordou que a advertência de Cristo: “Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”; e que a corrupção do coração tem graves consequências para a vida social. “Esta condição –afirmou – não pode mudar nem pelas teorias, nem pelo efeito das reformas sociais ou políticas. Só a obra do Espírito Santo pode reformar nosso coração, se colaboramos: Deus mesmo, de fato, assegurou sua graça eficaz para os que procuram e os que se convertem ‘de todo coração’”.
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“Falar de virtude significa afirmar que a escolha do bem envolve e compromete toda a pessoa; não é uma questão cosmética, um embelezamento exterior que não dá fruto. Trata-se de desarraigar do coração os desejos desonestos e buscar o bem com sinceridade”.
“Também no âmbito da ética da vida as normas necessárias, que sancionam o respeito das pessoas, não são por si suficientes para realizar plenamente o bem do homem. As virtudes dos que trabalham na promoção da vida são a garantia última de que o bem será respeitado realmente”, assinalou.
Nesse sentido, advertiu que embora a cultura contemporânea “ainda conserve as premissas para afirmar que o homem, qualquer que sejam suas condições de vida, é um valor que deve ser protegido”, esta mesma cultura é também “vítima de incertezas morais que não lhe consentem defender a vida de forma eficaz”.
Por isso, pediu às universidades formar os jovens para que acolham a vida humana e cuidem dela “de acordo com a dignidade que lhe pertence, em todas as circunstâncias”. “Em qualquer caso, que os que se dedicam à defesa e à promoção da vida mostrem acima de tudo sua beleza. De fato, ‘a Igreja não cresce por proselitismo, mas sim por atração, por isso a vida humana se defende e promove eficazmente só quando sua beleza se conhece e se mostra”, afirmou.
Finalmente, reiterou seu chamado a não deixar que o pensamento humano, inclusive cristão, caia sob as novas colonizações ideológicas “sob forma de virtude, de modernidade, de comportamentos novos”. “São colonizações, ou seja, tiram a liberdade, e são ideológicas, porque têm medo da realidade assim como Deus criou”, assinalou.
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— ACI Digital (@acidigital) 29 de janeiro de 2016