Quando uma mulher está grávida na Índia, a família espera que nasça um menino, pois deste modo todos celebram. Quando nasce uma menina, os parentes se entristecem e inclusive chegam a rechaçar o bebê.

O doutor Ganesh Rakh decidiu melhorar a situação das meninas no país. Desde 2012 começou um projeto muito especial: celebrar cada vez que nasce uma menina em seu hospital, na cidade de Pune (oeste da Índia). E o mais importante é que não cobra nada para evitar que as mães abortem as filhas.

 

“O maior desafio para um médico é dizer aos familiares que um paciente morreu. Para mim, do mesmo modo é difícil dizer às famílias que nascerá uma menina”, comentou à BBC.

“Eles comemoram e distribuem doces quando nasce um filho homem, mas quando nasce uma menina os familiares a abandonam no hospital, a mãe chora, enquanto as famílias pedem um desconto. Ficam muito decepcionados”, expressou.

“Muitas mulheres me disseram que fizeram um tratamento a fim de assegurar o nascimento de um filho homem. Estava surpreendido e não tinha ideia de que havia esse tipo de tratamento. Inclusive, eles falaram sobre consultar um homem santo ou ver a possibilidade de pôr algum medicamento nasal na mãe para assegurar-se de que dê à luz a um menino”.

Em 1961, havia 976 meninas por cada mil meninos menores de sete anos. No último censo realizado em 2011, a cifra das meninas descendeu a 914. Estes resultados surpreenderam o Dr. Rack.

Com estas cifras, o então primeiro-ministro, Manmohan Singh, qualificou a situação como uma “vergonha nacional” e convocou uma “cruzada” para salvar as meninas da Índia.

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Deste modo, o médico se sentiu motivado a organizar sua própria “cruzada” chamada Mulgi Vachva Abhiyan (Campanha para salvar as meninas). Durante estes quatro anos nasceram 464 meninas em seu hospital e não cobrou nada aos pais pelo nascimento delas.

“Decidi não cobrar caso nascesse uma menina. Inclusive, como o nascimento de um filho é celebrado em família, decidimos que no hospital celebraríamos o nascimento de uma filha”, manifestou. Assim ele e seus colegas levam flores aos pais, acendem velas e compartilham uma torta de chocolate. Todos se reúnem em torno da recém-nascida, cantam e aplaudem.

Inclusive, durante os últimos meses, pediu aos médicos de todo o país que realizem pelo menos um parto gratuito de meninas e vários se uniram a esta iniciativa.

Rakh contou também que antes não queria ser médico, mas lutador, e sua mãe lhe disse: “comerá em excesso e deixará o resto das pessoas sem alimento”. Nesse sentido ela tinha razão, porque se dedicava a lavar pratos em casas de família e o seu pai carregava sacos em um mercado de grãos. O dinheiro apenas dava para alimentar o jovem e seus dois irmãos. Por isso decidiu ser médico.

O fato de ajudar a que as mulheres deem à luz as suas filhas gratuitamente não foi nada fácil. Quando o Dr. Rakh tomou esta decisão, sua esposa e seus irmãos ficaram contra ele.

“Não estávamos passando por uma boa situação econômica. Quando ele me contou sobre sua decisão estava preocupada de como sustentaria a casa”, disse sua esposa Trupti a BBC.

Entretanto, seu pai, Adinath Vithal Rakh, sempre o apoiou. “Ele me disse que continue com meu bom trabalho e que inclusive, se fosse necessário, carregaria novamente sacos no mercado”, comentou o médico.

Seus esforços deram fruto porque vários ministros e políticos apreciam seu trabalho e também atores como a famosa estrela de Bollywood Amitabh Bachchan o descreveram como “um verdadeiro herói”.

“Iniciei algo pequeno. Não pensei que seria recebido desta forma, mas as vezes as coisas pequenas impactam a mente de uma maneira enorme”, afirmou.