LUANDA, 12 de mar de 2016 às 14:00
A Angola vem passando nos últimos meses por uma dura crise econômico-financeira, atribuída a baixa cotação do petróleo, que reflete na vida da população. Entretanto, mais do que este fator que estaria causando à crise, outros elementos como a má gestão e a corrupção agravam o cenário do país, segundo a Igreja local.
No início de março, em uma reunião com parlamentares, o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José Pedro de Morais, reconheceu que, devido à nova conjuntura, o país está mais pobre. Segundo ele, desde 2015, o país registra de forma acentuada, um desequilíbrio no mercado de divisas, que tem criado significativa pressão cambial e a depreciação do kwanza, a moeda nacional angolana.
Porém, conforme denunciaram os Bispos angolanos em uma carta pastoral divulgada na quarta-feira, 9, “falta de ética, má gestão do erário público, corrupção generalizada” também são as causas da crise que o país enfrenta, além da “mentalidade de compadrio, nepotismo” e “discriminação derivada da partidarização crescente da Função Pública, que sacrifica a competência e o mérito”.
A esta situação se acrescenta o agravamento da pobreza da população, a instabilidade econômica que paralisa “paulatinamente os agentes econômicos, impossibilitando-lhes a renovação de mercadorias, por falta de poder aquisitivo”.
“Aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, riquezas muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”, advertem os Prelados, segundo os quais, o país precisa lidar como uma “falta de critério no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes, importação de coisas supérfluas que não aproveitam a comunidade”.
Para as famílias angolanas, a crise se agrava com os “atrasos de salários e subida vertiginosa de preços de bens elementares” enfrentados tanto no setor público quanto no privado.
Tudo isso se reflete na qualidade de vida da população, como por exemplo na saúde, onde se observa o aumento do “índice de mortalidade de crianças e adultos, vítimas de doenças como o paludismo, diarreia e febre amarela”, resultado do “descuido da saúde pública” e da “insensibilidade quase crónica perante o mal, a doença e a morte do próximo”.
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“Em muitos hospitais – denunciam os Bispos –, isto traduz-se no desvio de medicamentos para farmácias ou unidades de saúde privadas e mercado paralelo, onde são vendidos a preços insuportáveis para a maioria da população”.
Ligado ao campo da política, a Angola também vive uma situação “preocupante”, de acordo com os Prelados, que é “a partidarização dos meios de comunicação social”, os quais, “por direito, devem estar ao serviço de todos”.
“É verdade que, nesta crise, as responsabilidades não são as mesmas para todos. Ninguém pretenda possuir o monopólio da verdade, nem se iluda com soluções vindas de fora”, assinalam os Bispos, ao proporem que solução passa pela “mudança de mentalidade e de comportamentos” de todos.
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— ACI Digital (@acidigital) 10 de março de 2016