Enquanto o pré-candidato presidencial Donald Trump se aproxima da candidatura presidencial pelo Partido Republicano, os católicos se questionam se votar no multimilionário é uma opção sábia ou moral.

No último dia 7 de março, vários proeminentes líderes católicos publicaram um apelo qualificando Trump como “manifestamente incapaz de ser presidente dos Estados Unidos”.

“Sua campanha já levou os nossos políticos a novos níveis de vulgaridade”, diz o comunicado. “Seus apelos a temores e preconceitos raciais e étnicos são ofensivos para qualquer sensibilidade genuinamente católica”.

“Ele prometeu ordenar o exército dos Estados Unidos, torturar suspeitos de terrorismo e matar as famílias dos terroristas, ações condenadas pela Igreja e políticas que envergonhariam o nosso país”.

“E não há nada em sua campanha ou em seu registro anterior que nos dê bases para confiar em que genuinamente compartilha nossos compromissos com o direito à vida, a liberdade religiosa e os direitos de consciência, a reconstruir a cultura do matrimônio ou a subsidiariedade e o princípio do governo limitado constitucionalmente”.

O comunicado foi assinado por mais de 30 líderes católicos dos Estados Unidos, inclusive por Robert George, professor de direito na Universidade de Princeton; Mary Frise Hasson, diretora do Foro das Mulheres Católicas no Centro de Ética e Política Pública; e Thomas Farr, diretor do Projeto de Liberdade Religiosa na Universidade de Georgetown.

O ensinamento da Igreja não diz a qual partido ou candidato um católico deve escolher. Entretanto, o que a Igreja faz é oferecer guias para ser usados pelos fiéis ao tomar sua decisão.

Em seu documento, “Formando a Consciência para ser Cidadãos Fiéis”, os bispos americanos sublinham sua compreensão da responsabilidade política apoiada no desenvolvimento de uma “consciência bem formada”.

“Enquanto os católicos devem votar de acordo com a sua consciência, a consciência pode estar errada, e assim os fiéis católicos devem fazer esforços para ‘educar’ ou formar suas consciências de acordo com os ensinamentos da Igreja”, disse o Dr. Chad Pecknold, professor de teologia na Catholic University of America e um dos assinantes católicos que estão contra Trump.

O ensinamento católico sustenta que o “direito à vida” é fundamental. São João Paulo II o descreveu como “o direito mais básico e fundamental e a condição para todos os outros direitos pessoais”.

O documento dos bispos americanos sublinha que a destruição direta e intencional de uma vida humana inocente “não é somente um entre muitos outros temas. Sempre devemos estar contra isto”.

“Quando um candidato apoia o direito ao aborto ou ao suicídio assistido, os católicos não devem ter dúvidas de que isto se opõe ao ensinamento da Igreja e não devem votar por esse candidato”, disse Pecknold.

Entretanto, além do tema do direito à vida, “Formando a Consciência para ser Cidadãos Fiéis” também menciona uma série de outros temas morais de grave importância que não devem ser ignorados.

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“O racismo é outra discriminação injusta, o uso da pena de morte, recorrer a guerra injusta, o uso da tortura, crimes de guerra, não responder a quem está morrendo de fome ou necessita de atenção na área de saúde, a pornografia, redefinir o matrimônio civil, comprometer a liberdade religiosa, ou uma injusta política de imigração, todos estes são sérios temas morais que desafiam nossas consciências e nos exigem agir”, assinala o guia dos bispos.

Em muitos destes temas, os católicos manifestaram sua preocupação sobre Trump. Enquanto os dois pré-candidatos do Partido Democrata – a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e o senador do estado de Vermont, Bernie Sanders – são velhos promotores do aborto e, portanto, problemáticos de uma perspectiva católica, as críticas a Trump são mais matizadas.

Por um lado, o plano de Trump de deportar a 11 milhões de imigrantes indocumentados contrasta com o repetido apelo dos bispos americanos de uma reforma migratória integral, que enfatize a unidade da família que inclua um programa de legalização merecida.

O cassino de Trump foi o primeiro em Atlantic City que teve um clube de nudistas incluído. Enquanto o pré-candidato republicano diz que se opõe ao “matrimônio” homossexual, recebeu críticas dos grupos defensores do matrimônio, os quais indicaram que no passado se gloriou de ter tido casos amorosos com outras mulheres casadas e fez inúmeras declarações explícitas e degradantes sobre as mulheres.

Além disso, sua proposta de uma proibição indefinida na permissão de muçulmanos nos Estados Unidos gerou séria preocupação de peritos legais, que o qualificam como uma flagrante violação da liberdade religiosa, colocando em perigo esse direito fundamental para outros credos também.

Enquanto Donald Trump diz ser pró-vida, fez fortes declarações pró-aborto em 1999 e 2000. Há poucos meses, disse que sua irmã Maryanne Trump Barry seria uma nomeada ideal para a Corte Suprema, apesar de ela, como juíza, ter derrubado a proibição de abortos de nascimento parcial em Nova Jersey.

O Pe. Thomas Petri, decano acadêmico da Casa de Estudos Dominicanos em Washington D.C., pontuou que quando todos os candidatos políticos apoiam atos intrinsecamente maus, tal como explicita o documento dos bispos americanos, os fiéis podem votar pelo candidato que eles acreditem que “fará menos dano”.

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“Os católicos devem ser cuidadosos ao entender as posturas gravíssimas e imorais que Trump apoia, tanto politicamente como em sua vida pessoal. Se votarem nele, não pode ser devido a seu partidarismo ou a essas posturas gravemente imorais, mas porque um católico, em sã consciência, depois de revisar a situação, possa acreditar que Donald Trump é o mal menor de todos os possíveis candidatos”, disse o Pe. Petri.

Stephen White, associado no Centro de Ética e Política Pública em Washington D.C., pediu aos católicos não votar em Trump como alternativa a deter a pró-abortista Hillary Clinton.

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