LIMA, 7 de abr de 2016 às 14:00
Uma característica comum nas histórias de todos os santos é que Deus sempre está junto a eles, inclusive nas circunstâncias mais difíceis. Isto é possível perceber com o martírio do Beato Franz Jagerstatter, um pai de família que foi morto durante a ocupação nazista da Áustria.
Franz nasceu em um pequeno povoado de Alta Áustria, foi agricultor e se casou com Franziska Schwaninger na Quinta-feira Santa de 1936. Sua esposa foi uma mulher muito devota e, por sua influência, tornou-se sacristão da igreja deste local, onde começou a ler a Bíblia e conhecer a vida dos santos.
Em 1938, perto do dia do nascimento da mais velha de suas três filhas, os alemães invadiram a Áustria no contexto da Segunda Guerra Mundial.
A Igreja Católica no país havia advertido contra o nazismo durante anos. Os católicos na Alemanha enfrentavam graves restrições, incluindo a proibição da Missa – exceto aos domingos – inclusive para as solenidades mais sagradas e dias festivos.
Em 1937, Pio XI publicou a encíclica Mit Brennender sorge (Com ardente inquietação), que tratava acerca das tensas relações entre a Igreja e a Alemanha nazista.
Jagerstatter foi a única pessoa em todo seu povoado que repudiou e votou contra a anexação da Áustria pela Alemanha nazista em 1938. Estava consternado ao ver que muitos católicos apoiavam os nazistas. Inclusive um cardeal exigiu que todas as paróquias erguessem a bandeira nazista em suas igrejas no dia do aniversário de Hitler.
“Dificilmente poderia existir uma hora mais triste para a fé cristã em nosso país”, escreveu o pai de família.
O hoje beato sentiu naquele momento que não podia chamar a si mesmo de discípulo de Cristo se aceitasse os mandatos de um regime ao qual considerava “satânico”.
A princípio, parecia que ser agricultor lhe impediria de lutar pelo exército da Alemanha, pois requeriam a produção de grandes quantidades de alimentos. Infelizmente, em 1943, a necessidade de mais soldados aumentou e Jagerstatter foi chamado ao serviço ativo.
Dirigiu-se ao centro de indução e anunciou que não lutaria, por isso, foi enviado à prisão militar de Linz. “Estou convencido de que a melhor decisão é dizer a verdade, embora corra perigo de vida”, escreveu.
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Amigos, familiares e até mesmo o Bispo local visitaram Jagerstatter na prisão, tentando convencê-lo a se alistar, mas ninguém lhe deu um argumento convincente para que desistisse de suas convicções morais e religiosas ao fazer uso da objeção de consciência.
Em vez disso, todos tentaram convencê-lo de que Deus não o tornaria responsável por fazer o que o obrigavam. Mas não o convenceram.
“Desde a morte de Cristo, cada século foi testemunha da perseguição dos cristãos; sempre houve heróis e mártires que entregaram sua vida – normalmente de maneiras horríveis – por Cristo e sua fé. Se esperamos chegar à nossa meta algum dia, então nós também devemos chegar a ser heróis dá fé”, escreveu Franz Jagerstatter.
O Beato permaneceu de maio a agosto de 1943 na mesma prisão do conhecido pastor luterano e mártir Dietrich Bonhoeffer. Além disso, soube que um sacerdote havia sido martirizado na mesma prisão pelas mesmas razões que ele e muitos outros.
Essa convicção lhe custou a própria vida. Foi levado a Berlim, onde foi condenado à morte. Suas últimas palavras registradas antes de morrer na guilhotina foram: “Estou completamente unido em união interior com o Senhor”.
Durante o Concílio Vaticano II, o testemunho de Jagerstatter ajudou a dar forma à seção do documento Gaudium et spes que menciona as objeções de consciência à guerra.
Foi beatificado 50 anos depois de sua morte pelo então Papa Bento XVI. Suas filhas, netos e bisnetos participaram da cerimônia.
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— ACI Digital (@acidigital) 7 de abril de 2016