Cinco meses após o rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco que causou um grande desastre em distritos de Mariana (MG), o Arcebispo local, dom Geraldo Lyrio Rocha considera que ainda “estamos longe de vislumbrar soluções efetivas” para a “recomposição” do quadro deixado pela tragédia.

Durante a coletiva de imprensa da 54ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ontem, 6, o Arcebispo de Mariana comentou sobre a tragédia ocorrida em 5 de novembro de 2015, quando duas barragens de rejeitos se romperam, destruindo “uma localidade chamada Bento Rodrigues, onde não sobrou nada”, além de outras regiões atingidas.

 “Nós não estamos diante de uma catástrofe provocada pela natureza, como é, por exemplo, uma enchente”, observou o Prelado, acrescentando que o ocorrido se trata “de uma grande catástrofe, de uma tragédia ambiental de magnitude incalculável, causada pela mão humana”.

Nesse sentido, Dom Lyrio indicou que há responsabilidades “das empresas mineradoras, do Estado – porque temos uma legislação que permite o que aconteceu – e uma ausência de fiscalização por parte dos órgãos públicos”.

O desastre deixou 18 mortos e, segundo o Arcebispo, espera-se a identificação do 19º. Entretanto, muitas famílias foram prejudicadas pelo ocorrido, perdendo tudo o que tinham.

“As famílias atingidas foram levadas para a cidade de Mariana”, contou o Prelado, esclarecendo que embora o rompimento da barragem não tenha atingido diretamente a cidade, esta vem lidando com muitas consequências ao acolher as vítimas.

“E escolas para essas crianças; e atendimento de saúde para esse povo; e moradia para todo mundo?”, questionou.

De acordo com Dom Geraldo, mesmo que a empresa responsável dê assistência às famílias com aluguel de moradia, salário e cesta básica, falta ainda elementos importantes, tais como “a recomposição da vida, da história, das lembranças e o atendimento a tantas necessidades de uma população que ficou agora dispersa no conjunto de uma cidade”.

Além disso, pontuou a destruição da natureza e as consequências econômicas para muitas famílias.

Após o rompimento das barragens em Bento Rodrigues, os rejeitos atingiram um vale, chegando até um rio que segue para o rio Doce, o qual banha os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, tendo sua foz no Oceano Atlântico.

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“Muitos municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo foram e estão sendo atingidos”, constatou o Arcebispo, ao ressaltar que “não basta recuperar a carga do rio Doce”.

“E a vida às margens do rio Doce? Aí há cidades, algumas de porte médio e grande, como Governador Valadares, Colatina. A tragédia atingiu as populações ribeirinhas, os pescadores que estão sem pescar desde que aconteceu a tragédia. Vão viver de quê? E os agricultores que tinham suas lavouras às margens do rio Doce? Muitas dessas lavouras era irrigadas e acabou não sendo mais possível fazer a irrigação”, elencou.

Ele lembrou ainda que ao atingir o Oceano Atlântico, o lamaçal prejudicou “uma região de grande importância, por causa da biodiversidade”. “Ali, entre Bahia e Espírito Santo, há um encontro das correntes marinhas que vêm do sul e do norte, portanto de temperaturas diferentes, que se encontram e permitem uma biodiversidade extraordinária, um lugar de reprodução das espécies marinhas”, explicou.

O desastre causou também, segundo o Arcebispo, “prejuízos que são irrecuperáveis” quanto ao patrimônio da sociedade. Como exemplo, citou “uma Igreja preciosíssima do século XVIII” que foi destruída.

“As empresas responsáveis poderão até construir um novo templo. Mas, uma Igreja do século XVIII não vão construir, com todo seu valor afetivo, histórico, cultural. Isso não é apenas um patrimônio da Igreja Católica, da Arquidiocese de Mariana. Isso é um patrimônio da humanidade”.

Diante de tantos estragos, Dom Lyrio se questionou: “Se a recuperação da carga do rio Doce vai levar cerca de 15 anos, a minha pergunta é essa: e a recuperação do conjunto dos atingidos por esta grande tragédia?”.

“Então, nós estamos longe de vislumbrar soluções efetivas que permitam uma recomposição de um quadro que foi destruído dessa maneira”, completou.

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