ROMA, 13 de abr de 2016 às 15:30
“O dom que temos na África é sermos capazes de sorrir apesar do sofrimento. Se não fosse desta maneira, estaríamos depressivos e sem esperança. Temos muitos problemas, mas quando não somos capazes de resolvê-los, a única solução é confiar em Deus”, expressou o Presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, Dom Ignatius Kaigama.
Em sua viagem ao Chile, Dom Kaigama, também Arcebispo de Jos, compartilhou seu testemunho no auditório da Faculdade de História, Geografia e Ciência Política da Universidade Católica no campus San Joaquín.
O Prelado relatou que devido à perseguição “tivemos que suspender as festas religiosas nas ruas por temor a Boko Haram” – grupo terrorista muçulmano da Nigéria, Níger e Chad – e tomar uma série de medidas de segurança ante possíveis atentados como: estacionar os automóveis longe das igrejas, participar da Missa sem bolsas ou carteiras, passar por detector de metais, entre outras medidas.
“Há bombas por todas as partes, nos mercados, nas igrejas, nos bazares, colégios e bancos. Inclusive nos campos de refugiados as mulheres estão com cinturões de bombas, dizendo que são refugiadas e pedindo ajuda, deste modo entram e explodem”, explicou Dom Kaigama.
“Mas a vida deve continuar. Eu lhes digo – aos cristãos - que não fiquem assustados, pois isto os torna vulneráveis e isso é o que Boko Haram quer que aconteça”, disse Dom Kaigama.
Esse apelo, faz com que os cristãos continuem enchendo as igrejas aos domingos, mas não evita que muitas vezes haja desejos de vingança ante a grave violência da qual são vítimas.
Em uma ocasião, recorda o Arcebispo, os terroristas muçulmanos do Boko Haram explodiram uma bomba perto de sua igreja. “Depois de rezar cinco minutos, saí e disse: ‘Eu estou mais revoltado que todos vocês. Tenho vontade de queimar tudo isto. Mas Jesus não me ensinou a ser violento. Ele ensinou a não fazer o mal apesar de outras pessoas fazerem maldade comigo’. Apesar disso, voltamos para a casa tranquilos. Não foi fácil, mas aceitaram, ouviram a voz do Espírito Santo e foram embora tranquilos”.
Dom Kaigama, que também lidera o “Comitê Inter-religioso pela Paz”, explicou que embora Boko Haram ataque principalmente aos cristãos com o objetivo de aniquilá-los e praticar a sharia (lei religiosa muçulmana), também chegou a atacar os mesmos compatriotas islâmicos, “tornando-se um tema não só religioso, mas humanitário”.
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O Arcebispo de Jos, região central da Nigéria, visitou o Chile entre os dias 7 e 9 de abril convidado pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) a fim de explicar qual é a situação atual do povo cristão nesse país.
A convivência na Nigéria normalmente é difícil. Existem mais de 200 idiomas e 500 dialetos. Viveram uma guerra civil entre os anos 1967 e 1970 que causou fome e morte, além de uma crise que se acrescentou com os conflitos políticos, religiosos e étnicos.
De acordo ao último relatório de ACN (2014), 49,3% da população nigeriana são cristãos que vivem na região central e no sul do país e 48,8% muçulmanos estão no norte. A população total é de 170 milhões de habitantes.
A violência de Boko Haram, cujo significado é “a educação ocidental é pecado”, aumentou em todo o país, sobretudo depois de que em 2009 seu líder Mohammed Yusuf foi preso e assassinado pela polícia.
Um dos últimos atentados de Boko Haram, que jurou lealdade ao também grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS), ocorreu em 30 de janeiro na localidade de Dalori, onde queimaram vivos algumas crianças cristãs.
Confira ainda:
Boko Haram queima crianças vivas em ataque anticristão na Nigéria https://t.co/Nm5QXkZqsA
— ACI Digital (@acidigital) 4 de fevereiro de 2016