SANTIAGO, 18 de abr de 2016 às 08:00
Somente durante este ano, seis igrejas católicas e dois templos evangélicos foram destruídos por ocasião do intenso conflito mapuche ocorrido na região sul do Chile.
O último ataque ocorreu na madrugada do dia 12 de abril, na capela da Assunção da Virgem Maria, na cidade de Cañete, onde um grupo de indivíduos ficou completamente queimado.
Nesse mesmo momento, denunciaram o incêndio em uma cabana particular a 43 quilômetros de distância do templo.
O sacerdote encarregado da capela, Pe. Oscar García, comentou à AraucoTV que quando há uma atitude como esta “é o mal o que prevalece na mente”, por isso “temos que continuar procurando o bem e a paz de todos os cidadãos”.
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Imagem da Virgem de Lourdes profanada no Chile https://t.co/qQoUp3BFr2
— ACI Digital (@acidigital) 26 de fevereiro de 2016
Dom Fernando Chomali, Arcebispo de Concepción – arquidiocese à qual pertence a capela – lamentou o ataque e exortou a “dizer não à violência” para “abrir caminhos de diálogo”.
O Prelado pediu para “gerar maiores e mais reais laços com o povo mapuche, porque é a região mais deprimida do Chile. Os habitantes são pessoas que tiveram escasso acesso ao desenvolvimento do qual nosso país teve”.
“Se as pessoas que cometeram este lamentável atentado, que não aprovo sob nenhum ponto de vista, tivessem tido educação e oportunidades de trabalho, não estariam nisto”, acrescentou.
Por sua parte, Dom Jorge Concha Cayuqueo, primeiro Bispo de origem mapuche no Chile e Auxiliar da Arquidiocese de Santiago, disse ao jornal ‘La Terceira’: “O problema é que os afetados são do povo mapuche, são comunidades cristãs aos quais suas capelas foram queimadas”.
FOTOS: Incendeiam igreja católica de São Sebastião no sul do Chile https://t.co/OCgHpAxg8v pic.twitter.com/oe2ISfb2jX
— ACI Digital (@acidigital) 10 de março de 2016
“Isto nos causa dor, não só pelo que significa a perda de um templo, mas também porque isto mostra uma situação centenária que não foi resolvida. É um sintoma de um problema mais profundo”, indicou.
Nesse sentido, Dom Francisco Javier Stegmeier, Bispo de Villarrica, disse ao Grupo ACI: “É claro que nossas comunidades cristãs estão sofrendo perseguição religiosa por causa de Jesus Cristo. Ele continuará sendo a nossa fortaleza, alegria e esperança. Ele também nos capacita para sempre perdoar e responder com o bem ao que nos faz mal”.
Antes deste último atentado, no documento da 111ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal do Chile, realizada em abril de 2016, os bispos afirmaram que “quando não se respeitam valores tão essenciais para a existência de um povo crente, como são o direito à vida humana, sua segurança e seus espaços sagrados, estão ferindo a própria alma mesma deste povo”.
“Estes fatos, que são rechaçados pela imensa maioria da população, correm o risco de estigmatizar todo o povo mapuche e desacreditar sua busca de reconhecimento e reparação”, sustentaram.
Conflito na Araucanía
As comunidades mapuches que habitam no sul do Chile realizaram uma forte campanha pela recuperação do que consideram suas terras ancestrais e o reconhecimento dos seus direitos, entre outros.
Consideram que o Estado não deu importância a estas denúncias ao permitir projetos hidrelétricos e florestais, o que provocou diversos tipos de violência nas regiões Biobío, Araucanía e Los Rios.
Entre os atos violentos estão: a ocupação do Seminário Maior São Fidel, na diocese de Villarrica, pela comunidade mapuche Trapilhue, desde junho de 2014 e que no último dia 2 de março foram retirados a força deste local.
Entre 2014 e 2016 foram destruídos 11 templos católicos na região. A estes são somados diversos ataques contra agricultores, zonas florestais, motoristas de caminhões e pequenas parcelas durante 2015.
Em 2003, os bispos do Chile publicaram um extenso documento intitulado “Ao serviço de um novo acordo com o povo mapuche”, no qual, depois de um exaustivo estudo, convidam a conhecer as causas e realidade deste povo a fim de chegar a soluções pelo caminho do diálogo.