VATICANO, 26 de abr de 2016 às 20:00
O Papa Francisco poderia oferecer em um curto prazo o status canônico regular na Igreja Católica à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), fundada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre e dirigida atualmente pelo bispo Bernard Fellay.
A FSSPX estaria perto de dar este passo histórico, depois de ter assinalado que “talvez somente Francisco seja capaz de fazer isto, devido à sua imprevisibilidade e improvisação”, segundo afirma um documento interno da instituição, vazado à imprensa nas últimas semanas.
O documento é um memorando intitulado “Considerações sobre Igreja e a posição da Fraternidade Sacerdotal São Pio X” e propõe seis razões pelas quais o grupo deveria aceitar a regularização oferecida pelo Papa, com a garantia de “uma estrutura eclesiástica apropriada”. Também se ocupa de possíveis objeções contra a medida.
“Parece que o tempo para normalizar a situação da Sociedade chegou ao fim”, diz o memorando do dia 19 de fevereiro, escrito pelo Pe. Franz Schmidberger, reitor do seminário FSSPX na Alemanha e ex-superior geral da sociedade entre 1982 e 1994.
Na nota, o Pe. Schmidberger afirma que o Vaticano “diminuiu gradualmente suas recentes propostas, pois já não pedem para reconhecer o Concílio Vaticano II nem a legitimidade da Novus Ordo Missae” (a Missa do Novo Ordo).
No dia 10 de abril, o bispo Bernard Fellay, atual superior geral da FSSPX, disse ante cerca de 4 mil pessoas na cidade francesa de Le Puy-en-Velay que existe uma “mudança profunda” na relação da sociedade com o Vaticano, provocada pela “grave situação” da Igreja.
“Em meio a esta desordem... chega um sussurro: ‘Não, não podemos obrigá-los a aceitar o Concílio’. Talvez eles (a Igreja) não o dirão tão claramente, mas nos dirão depois de tudo”, acrescentou.
Por sua parte, o Arcebispo Guido Pozzo, Secretário da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei – dependência da Congregação para a Doutrina da Fé responsável pelo diálogo com a FSSPX – disse em uma entrevista ao jornal francês ‘La Croix’ em 6 de abril que, “no que se refere ao Concílio Vaticano II, o terreno coberto nas reuniões dos últimos anos evidenciaram uma importante elucidação: o Vaticano II pode compreender-se adequadamente somente no contexto da completa Tradição da Igreja e seu constante Magistério”.
“Algumas perguntas podem permanecer como ‘objeto de discussão e clarificação’”, precisou o Arcebispo.
No memorando, o Pe. Schmidberger afirma que apesar de que a sociedade gostaria de “regressar do seu ‘exílio’”, esperam mais discussões: “não vamos permanecer em silêncio, muito pelo contrário, vamos assinalar os erros por seus nomes. Antes e depois da nossa normalização”.
Fontes confiáveis dentro da FSSPX confirmaram ao Grupo ACI que o memorando vazado do Pe. Schmidberger, que ao parecer havia sido destinado à circulação entre os líderes da sociedade, é autêntico.
O texto apresenta 7 seções, conta com um resumo conciso da história da relação com o Vaticano, um esboço de argumentos para uma plena reconciliação e as considerações práticas de tal ação.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Também inclui uma seção de “Perguntas frequentes” para responder as inquietações normalmente expostas por lefebvristas sobre a reconciliação com a Santa Sé.
O Pe. Schmidberger citou várias razões pelas quais chegou o momento para regularizar a situação canônica com a FSSPX. Assinalou também o perigo de perder a consciência de que a situação da sociedade sacerdotal é “anormal” e que comece a vê-la como “normal”
“Se os padres da sociedade se sentem tranquilos nesta situação de liberdade com relação à dependência da hierarquia, então isto implica uma perda gradual da sensus ecclesiae (humildade, fidelidade e serviço da oração)”, acrescentou.
O memorando também assinala que existem membros da hierarquia da Igreja que “simpatizam com eles, mas que somente poderão colaborar depois da regularização”. Do modo que a FSSPX necessitará de novos bispos no futuro e alcançar a consagração de forma lícita.
Em sua conclusão, o texto argumenta que se “Deus quer chegar a ajudar de forma efetiva a sua Igreja, que está sangrando com mil feridas, tem milhares de meios diferentes para fazê-lo. Entre eles está o reconhecimento oficial da FSSPX pelas autoridades do Vaticano”.
Especulou-se que a normalização da FSSPX aconteceria mediante o reconhecimento do grupo como uma “prelatura pessoal”, uma estrutura canônica que até então apenas foi utilizada para a Opus Dei.
A FSSPX foi fundada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre em 1970, como resposta ao que descreve como os erros na Igreja depois do Concílio Vaticano II. Suas relações com a Santa Sé se tornaram mais tensas em 1988, quando Lefebvre consagrou quatro bispos sem permissão de São João Paulo II. A consagração ilícita teve como consequência a excomunhão dos cinco bispos.
Em 2009, as excomunhões foram retiradas por Bento XVI e desde então as negociações entre a Sociedade e o Vaticano continuaram para “reencontrar a plena comunhão com a Igreja”.
Na sexta-feira, 1º de abril deste ano, a Santa Sé e a FSSPX informaram que aconteceu um encontro informal entre o Papa Francisco e o superior geral dos lefebvristas, o bispo Bernard Fellay, no Vaticano.
Confira também:
Papa Francisco se reúne com o superior geral dos lefebvristas https://t.co/GonDQJmLWc
— ACI Digital (@acidigital) 5 de abril de 2016