MADRI, 28 de abr de 2016 às 19:00
“Para os cristãos, é muito mais difícil chegar à Europa” do que para os migrantes muçulmanos, criticou o Pe. Behnam Benoka, sacerdote iraquiano que atende os refugiados em Erbil (Iraque), em uma recente entrevista com o jornal espanhol ‘La Razón’.
O Pe. Benoka enviou uma carta ao Papa Francisco em 2014, para contar-lhe sobre a trágica situação dos cristãos perseguidos pelo Estado Islâmico (ISIS) no Iraque. Nessa ocasião, o Santo Padre lhe respondeu com uma ligação telefônica, assegurando que sempre reza por ele e pelos refugiados.
Na metade deste mês, o sacerdote visitou Madri (Espanha) para participar da conferência internacional “Migração e Asilo”, organizada pela Universidade CEU São Paulo.
Em sua entrevista a ‘La Razón’, publicada em 24 de abril, o Pe. Behnam Benoka indicou que enquanto a maioria dos migrantes muçulmanos entram na Europa, os cristãos estão “na Turquia, no Líbano e na Jordânia, bloqueados nos campos” de refugiados.
“Além disso, os cristãos não arriscam a vida da sua família no mar. Alguns o fizeram e recentemente os enterramos no Iraque”, assinalou.
“Os cristãos são refugiados legais, mas ninguém se importa com eles”, lamentou.
O sacerdote iraquiano explicou que atualmente em Erbil, região segura no Curdistão iraquiano onde são acolhidos principalmente os cristãos perseguidos pelo Estado Islâmico no Iraque, “há 2.000 famílias vivendo em contêineres, outras tantas em casas alugadas pela Igreja”.
“Em cada moradia, de 150 metros quadrados, vivem quatro ou cinco famílias, ou seja, entre 20 e 30 pessoas. Podem imaginar as dificuldades e os problemas familiares e sociais pelos quais estão passando”.
Além disso, indicou, “há um grupo de 6.000 famílias que vivem por conta própria, mas têm os mesmos problemas”.
Entre os problemas que enfrentam os cristãos refugiados nessa região do Iraque estão o desemprego, a educação, o transporte e os cuidados médicos.
“Os deslocados não têm direito a remédios financiados pelo Governo. Bagdá negou, sobretudo nos casos de doenças graves”, criticou e advertiu que nos casos de doenças mais graves “tomar ou não um remédio pode ser questão de vida ou morte”.
“Sabemos que o Departamento de Saúde de Nínive, temporariamente em Erbil, recebeu toneladas de vários tipos de remédios, mas ninguém sabe onde estão”, disse e expressou que suspeitam que “foram vendidos. Isto seria um dos problemas de corrupção do país”.
“A Igreja Católica criou em Erbil três centros de saúde que oferecem remédios a mais de 500 pessoas por dia. Não é fácil, pois cada receita custa cerca de cinco dólares e em 2015 gastamos aproximadamente 100.000”, indicou.
“Que a justiça seja feita”
O Pe. Benoka indicou que, embora o atendimento médico também seja para os muçulmanos “porque precisam ser curados”, isto não significa que renunciem “a que a justiça seja feita”.
“O culpado deve submeter-se à justiça. Pelo bem comum, a justiça deve ser aplicada”, insistiu.
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O sacerdote iraquiano assinalou que “toda a planície de Nínive é cristã e os muçulmanos sempre nos atacaram. O último foi o ISIS. Quando pudermos voltar, quem nos garante estar em paz e que não continuaremos sendo atacados?”.
“Muitas organizações, entre eles a União Europeia e os Estados Unidos, reconhecem que o que está acontecendo com os cristãos no Iraque é um genocídio. Portanto, queremos uma zona pacífica, somente para nós”.
Isto, explicou, não se deve a que os cristãos “não queiram conviver com os muçulmanos, mas porque eles é que não querem conviver conosco. Chegamos primeiro, o Iraque era quase totalmente cristão e agora somos uma minoria”.
Muçulmanos “moderados”?
“Para nós, uma pessoa moderada é aquela que pode conviver com outros sem impor-se. Isto no islã é diferente. O ISIS é a aplicação máxima da lei islâmica, apresentam-se como Santos”, assinalou.
O sacerdote explicou que “um muçulmano moderado é aquele que aplica menos a lei islâmica, que é menos muçulmano”.
“O problema é que aqueles muçulmanos moderados, nossos amigos em Mossul, ocuparam nossas casas e permaneceram com nossos bens quando fomos obrigados a sair. Estes eram os moderados”.
Segundo o Pe. Benoka “não é possível garantir a moderação, porque depende da condição de vida e da força do islã. Quanto mais forte, menos moderação”.
Convidaria ao Papa para visitar refugiados cristãos
O sacerdote iraquiano assinalou que, se puder falar novamente com o Papa Francisco, “falaria acerca da situação dos refugiados cristãos e o convidaria a visitá-los. Com certeza ele pensa nisso e quer procurar uma solução”.
“Se o Papa tivesse visitado os refugiados da Turquia, Líbano e Jordânia, teria ensinado ao mundo a situação dos cristãos, bloqueados nos campos destes países”, explicou.
Para o Pe. Benoka, “seria maravilhoso que o Papa fosse ao Líbano, à Jordânia e à Turquia, pudesse visitar os refugiados cristãos e levar com ele várias famílias”.
Confira também:
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— ACI Digital (@acidigital) 23 de abril de 2016