WASHINGTON DC, 16 de mai de 2016 às 12:30
“Sonho com uma Nigéria segura”. Esta é a esperança de uma das estudantes nigerianas que fugiram do sequestro nas mãos do grupo terrorista Boko Haram e assim o expressou ante membros do Congresso dos Estados Unidos na quarta-feira, 11 de maio.
“Sa’a” foi uma das centenas de estudantes de Chibok (Nigéria) – um povoado majoritariamente cristão – sequestradas pelo Boko Haram em 14 de abril de 2014. Ela deu seu testemunho na quarta-feira ante o Subcomitê do Congresso sobre a África, Saúde Mundial, Direitos Humanos Mundiais e Organizações Internacionais.
Em seu testemunho, disse que sonhava com “uma Nigéria onde as meninas como eu não sejam convertidas em atacantes suicidas e os meninos pequenos não sejam roubados rotineiramente e convertidos em terroristas. Uma Nigéria onde (se) inclusive o pior chegasse a acontecer e os meninos fossem roubados, fossem realizados todos os esforços para resgatá-los rapidamente, e aqueles que possam ajudar, ajudem, e aqueles que possam falar, façam algo por aqueles que não podem fazê-lo”.
O Boko Haram, cujo significado é “a educação ocidental é pecaminosa”, é um grupo terrorista islâmico considerado como o mais letal do mundo. A organização é responsável por ataques em povoados, escolas e igrejas no norte da Nigéria, matando milhares de cristãos e outros muçulmanos durante os últimos anos.
Depois de perder recentemente alguns territórios que controlava, o grupo enviou mais meninos em missões de bombardeio suicida.
O grupo recebeu a condenação internacional em 2014, quando atacou uma escola em Chibok e sequestrou 276 meninas adolescentes. Naquela ocasião, foi lançada uma campanha internacional nas redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls (Tragam nossas meninas de volta).
Aproximadamente 57 meninas escaparam do Boko Haram, mas acreditam que 219 permanecem sequestradas. No mês passado, 15 adolescentes apareceram vivas, em um vídeo obtido pela CNN e supostamente filmado em dezembro de 2015.
O deputado Chris Smith, presidente do subcomitê, lamentou a difícil situação das adolescentes sequestradas.
“Acreditamos que muitas destas estudantes foram obrigadas a converter-se ao Islã e casar-se com combatentes do Boko Haram ou são prostituídas por este grupo”, disse. “Agora recebemos informações de que algumas delas foram usadas como atacantes suicidas”.
Sa’a recordou quando Boko Haram atacou a escola de Chibok durante a noite, há dois anos. “Todos eles atiravam e gritavam ‘Allahu Akbar’ (Alá é o maior)”, disse.
Os terroristas queimaram a escola e colocaram as adolescentes em caminhões.
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Sa’a e sua amiga fugiram do caminhão e se esconderam no bosque. Sua amiga sofreu feridas em suas pernas e “não podia andar”, explicou. Ela lhe disse que continuasse fugindo sozinha, mas a adolescente respondeu: “Se tivermos que morrer, morreremos juntas. Não vou deixar você sozinha aqui”.
Graças à ajuda de nômades Fulani, eventualmente conseguiram voltar para casa. Agora, ela estuda em uma universidade nos Estados Unidos. No princípio não queria voltar para a escola, inclusive em
outro país. A adolescente disse a uma amiga que “não queria voltar para a escola depois do que aconteceu”. O ataque de Boko Haram foi o segundo ataque que Sa’a havia suportado e os sequestradores ameaçaram as estudantes. Disseram que deveriam estar casadas e não na escola.
“Sinto que se voltasse para a escola outra vez, nos sequestrarão onde quer que estejamos”, pensava nesse tempo, mas foi animada pelo seu irmão e seus amigos a não deixar que o terror impeça a sua educação. Começou a estudar na universidade em janeiro deste ano, através da Education Must Continue Initiative (Iniciativa Educação Deve Continuar).
Durante este período nos Estados Unidos, Sa’a disse que visitou os Arquivos Nacionais em Washington e viu a Declaração da Independência, a Constituição e uma cópia da Carta Magna.
“Aprendi que as pessoas que escreveram estes documentos enfrentaram momentos difíceis através dos anos, mas não se renderam e esperaram, e a liberdade triunfou”, disse. Quando soube do famoso discurso “me deem a liberdade ou a morte” de Patrick Henry – um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos –, se sentiu inspirada porque “percebi que foi exatamente assim como me senti quando tive que decidir pular do caminhão para fugir do Boko Haram”.
Quando o vídeo de suas companheiras desaparecidas foi divulgado, Sa’a disse que chorou “com lágrimas de alegria, agradecendo a Deus pela vida delas. Vê-las me deu coragem para dizer ao mundo que não devemos perder a esperança”.
Ela sempre entra em contato com a sua família na Nigéria e com algumas companheiras que escaparam do Boko Haram. “Sonho e rezo pela liberdade, segurança e paz na Nigéria”, disse ao concluir seu testemunho.
Confira também:
VÍDEO: Falar do Boko Haram é falar do demônio, afirma Cardeal nigeriano https://t.co/jFURv3HaSe
— ACI Digital (@acidigital) 20 de janeiro de 2016