REDAÇÃO CENTRAL, 19 de mai de 2016 às 20:00
Os seis mil habitantes cristãos de Alqosh (Iraque) vivem a poucos quilômetros do território ocupado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, mas conseguem manter a paz e a alegria. Como fazem? Um sacerdote missionário que os visitou recentemente assegurou que foi “muito edificante estar em um lugar onde as pessoas vivem dia a dia tão perto” do perigo.
“Você vê, por exemplo, as expressões de seus rostos e não é possível imaginar que essas pessoas estão tão perto do perigo ou que sofrem tanto”, disse ao Grupo ACI o Pe. Luis Montes, missionário argentino do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), que exerce seu ministério sacerdotal há 20 anos no Oriente Médio e está há mais de cinco anos no Iraque.
Atualmente, o Pe. Montes é diretor espiritual dos seminaristas em Erbil, localizado no Curdistão iraquiano.
“Essa paz e essa alegria é mantida somente através da união com Deus, nosso Senhor”, assegurou.
Recentemente, o Pe. Montes e os seminaristas pelos quais é responsável puderam visitar Alqosh, que fica aproximadamente a 15 quilômetros da fronteira entre o Curdistão iraquiano e a região dominada pelo Estado Islâmico (ISIS).
Visitaram os habitantes e conheceram um mosteiro cristão do século VII, a tumba do profeta Naum –autor de um dos livros do Antigo Testamento – e um santuário yazidi, outro grupo religioso minoritário perseguido pelo ISIS.
A viagem foi organizada pelo Babel College for Philosophy & Theology, faculdade de teologia associada à Pontifícia Universidade Urbaniana que forma religiosos, sacerdotes e leigos no Iraque.
A 15 quilômetros de Alqosh encontra-se a tropa curda, a “Peshmerga” (que significa “o que enfrenta a morte”), que vigia a fronteira com o Estado Islâmico.
“E a um quilômetro da tropa começa o Califado, as tropas do Califado”, assinalou o Pe. Montes ao Grupo ACI.
A visita realizada pelos seminaristas à região durou dois dias.
“Se não nos tivessem avisado da situação deles, não há nada que indique neles que estão tão perto do perigo”, reiterou o Pe. Montes. Mas, como ressaltou, não estiveram isentos de sofrimento.
“Quando o Estado Islâmico avançava sobre a província de Nínive, tomando um povo atrás do outro, a população de Alqosh, assim como as das demais cidades, Qaraqosh entre outras, abandonou o povo, deixando somente 50 jovens que serviam como avançados e cuidavam do povoado”.
O povoado não podia permanecer totalmente vazio, explicou, pois, “se o Estado Islâmico não o tomasse, seria saqueado pelas tribos nômades da região”.
“Então eles permaneceram cuidando e obviamente estavam armados com armas comuns”.
Quando ficou claro que o ISIS não poderia tomar Alqosh graças à defesa das tropas curdas, disse o Pe. Montes, “as pessoas voltaram, todos voltaram para sua casa. Inclusive receberam refugiados”.
“Eu conheci pessoas de Bagdá que eram desse povoado e voltaram para lá, mesmo sabendo que o Estado Islâmico estava por perto”.
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Para o sacerdote missionário, este “é um povo de muita fé, de grande integridade, muito orgulhoso do seu passado, do seu presente, do seu sofrimento”.
“Às vezes, eles veem disparos de projéteis, explosões, entre a tropa Peshmerga e o Estado Islâmico”, indicou e assinalou que durante a noite “veem claramente as luzes de Mossul, que está aproximadamente a 35 quilômetros” e está tomada pelo Estado Islâmico desde 2014.
O Pe. Montes destacou que as tropas do Curdistão iraquiano “lutaram bravamente, não fugiram ante o Estado Islâmico, como fez o exército iraquiano”, e “defenderam sua terra como deviam”.
Entretanto não se trata de um exército profissional e o que a Peshmerga faz agora é “custodiar suas fronteiras”.
“Agora estamos em um impasse. O Estado Islâmico não está avançando nem está retrocedendo, no Iraque não. Na Síria ocorreu um retrocesso muito importante pela intervenção da Rússia, mas no Iraque não”, assinalou.
Mais alegria no Oriente Médio do que no Ocidente?
O missionário do IVE assinalou também: “Vejo muitíssimas vezes mais alegria, paz é obvio, nos acampamentos de refugiados em Bagdá e em Erbil do que muitas vezes nas cidades do Ocidente”.
Isto acontece porque “as pessoas valorizam o que realmente é importante na vida, não estão preocupadas com as coisas materiais”, explicou.
“Certamente estão preocupadas pelo seu futuro etc., mas não se esforçam por algo que é meramente material, e isso lhes dá uma liberdade interior que não existe no Ocidente”.
O Pe. Montes advertiu: “Se você estiver pendente do último telefone, do último isso ou aquilo, isso não pode encher sua alma, isso não pode encher seu coração”.
“Isso faz com que estas pessoas vivam mais em paz, haja mais alegria, que tantos lugares no Ocidente”, sublinhou.
O Pe. Luis Montes e os missionários do IVE no Oriente Médio criaram as páginas ‘Amigos do Iraque’ e ‘S.O.S. Cristãos na Síria’ para direcionar a ajuda solidária aos cristãos perseguidos.
Confira também:
Quatro formas práticas para ajudar os cristãos perseguidos no Iraque e na Síria https://t.co/R8iLbv55XY
— ACI Digital (@acidigital) 15 de abril de 2016