VALENCIA, 4 de jun de 2016 às 14:00
O Cardeal Antonio Cañizares, Arcebispo de Valência, na Espanha, respondeu aos ataques dos quais foi objeto desde que criticou energicamente a ideologia de gênero. Ele disse que não é “homofóbico”, “xenófobo” ou “sexista” como afirmaram algumas pessoas nos últimos dias.
A ideologia de gênero pretende afirmar que no mundo moderno a diferença entre homem e mulher é um fato social ou uma construção antes de ser algo biológico ou natural. Dessa forma, a orientação sexual contaria mais do que o sexo biológico.
No último dia 13 de maio, durante o encerramento do Curso do Instituto João Paulo II de Estudos sobre a Família, o Cardeal Cañizares pronunciou um discurso no qual denunciava diversas ameaças para a célula básica da sociedade como “legislações contrárias à família, a ação de forças políticas e sociais, as quais se somam movimentos e ações do império gay, de ideologias como o feminismo radical ou a mais insidiosa de todas, a ideologia de gênero”.
No domingo, 29 de maio, logo depois da procissão de Corpus Christi, o Cardeal reiterou sua crítica à ideologia de gênero e exortou os cristãos a desobedecer as “leis iníquas” que se baseiam nela.
Estas e outras afirmações do Cardeal geraram múltiplos ataques e diversos coletivos do lobby LGBT anunciaram uma denúncia “por incitação ao ódio” contra o Purpurado.
Entre os grupos que se somaram à denúncia estão ‘València en Comú’, ‘Compromís ou Verds Equo València’, ‘Comissione Obreras del País Valenciano’, ‘Intersindical Valenciana’ e ‘UGT del País Valenciano’.
Além disso, diversos membros dos Tribunais de Valência (Parlamento) atacaram o Cardeal Cañizares e o acusaram de “homofóbico”, “machista” e “xenófobo”, recordando com isto algumas declarações do Cardeal sobre os refugiados do Oriente Médio na Europa, as quais foram manipuladas para arremeter contra ele.
Mas nem tudo foram ataques. A agência AVAN informou que a Federação Católica de Associações de Pais de Alunos de Valência (FCAPA), que reúne mais de 55.000 famílias na província, assinalou na quinta-feira que “não só apoia, como agradece ao senhor Cardeal pela defesa da família e da educação”, segundo indicou seu presidente, Vicente Focinho.
Sobre os ataques recebidos, o Cardeal Cañizares questiona na carta que enviou à Arquidiocese se são “casualidade, pura coincidência, ou plano e estratégia preestabelecidos”. “Sou um estorvo, incomodo-os e querem acabar comigo? Não sou homofóbico, xenófobo, nem sexista. Aceito todos e não excluo ninguém, porque acredito firmemente no Senhor”.
“Para mim, todos são filhos de Deus, queridos por Deus, irmãos, como prego constantemente: a tolerância, melhor ainda, a caridade me conduz ao respeito de todos e me leva a não excluir ninguém e, se alguma vez não agisse deste modo, estou convencido de que estaria pecando (…) Mas acredito, pelo menos tento, que procuro a verdade e a justiça, proclamá-la e defendê-la, embora me prejudique”, insistiu.
Na missiva, o Purpurado afirma que “retira as palavras da homilia que possam ter ferido ou incomodado” em relação à ideologia de gênero, mas também pediu que quem o criticou e julgou “retifique-se por respeito” e “deixem de acossar a Igreja, pessoas e instituições”.
Na quinta-feira, 26 de maio, durante a sessão ordinária de controle ao Conselho de Valência, um dos membros do partido político Compromis fez referência à homilia que o Cardeal Antonio Cañizares pronunciou no dia 13 de maio na Universidade Católica de Valência, que, conforme explica o Cardeal, “foi uma exposição da beleza, da grandeza da família, onde está o futuro da humanidade, e fiz uma defesa da mesma”.
Entretanto, durante essa sessão parlamentar e em relação a tal pergunta sobre a homilia, o Cardeal afirma que foi submetido “a um julgamento, sem que me houvessem escutado e sem que eu pudesse me defender, pois foi em minha ausência, e me condenaram violando todo direito”.
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“Condenaram-me, além disso, levados pelos preconceitos e de leituras parciais tiradas de alguns meios de comunicação social e de suas interpretações”, denunciou.
O Arcebispo de Valência assegura que a homilia “não havia sido lida integralmente em seu conjunto pelos acusadores” e, portanto, fizeram julgamentos acerca dele e sobre um texto que não conheciam, “sem me dar a oportunidade de me defender: converteram as Cortes (Parlamento) em um tribunal popular, de tão más lembranças históricas”.
“Insultaram-me gravemente, acusaram-me – dando lições de cristianismo, que paradoxo! – de que não sou ‘nada cristão’; contrapuseram o Papa à minha pessoa – o que, como podem supor, fiquei profundamente triste –, em uma ignorância total da minha relação como Bispo com o Papa e, além disso, como amigo do Papa que sou; utilizaram e manipularam o Papa contra mim a fim de me desprestigiar; o Papa não merece tal utilização, está em outro nível, muito mais digno e elevado”, sublinhou o Cardeal na carta.
Em seguida, o Cardeal questionou: “Sou eu quem fomentei o ódio ou fomentaram contra mim outros em outros âmbitos, como agora nas Cortes com sessões como a realizada na última quinta-feira, com julgamentos e palavras de consequências imprevisíveis e não desejáveis?”.
“Só me importa o julgamento de Deus, não me preocupa o dos homens. Não me preocupo pelos insultos, principalmente se forem por defender a justiça e a verdade do Evangelho, preocupo-me por vós, povo de Deus, que lhes possam danificar, ferir e dispersar”, afirmou.
Comunicado da Arquidiocese
Ante os ataques contra o Cardeal, a Arquidiocese de Valência recordou que a postura da Igreja Católica frente à ideologia de gênero pode se encontrar no número 56 da Exortação Apostólica Amoris Laetitia.
Esse texto assinala que “outro desafio surge de várias formas de uma ideologia genericamente chamada gender, que nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo e esvazia a base antropológica da família”.
A Arquidiocese recorda também que o direito do Cardeal de opinar sobre estes temas está “amparado pela Constituição Espanhola” e indica que lhes consta que em nenhum momento o Arcebispo “teve a intenção de ofender nenhuma pessoa”.
Por isso, a acusação de “homofobia”, da qual o Cardeal foi vítima, “deve ser provada razoavelmente ante um juiz. Caso contrário, não deixa de ser uma afirmação subjetiva e gratuita”.
Confira também:
Ideologia de gênero esvazia o fundamento da família, diz o Papa em Amoris Laetitia https://t.co/CaPi7IwWBd
— ACI Digital (@acidigital) 11 de abril de 2016