VATICANO, 12 de jun de 2016 às 09:05
O Papa Francisco denunciou hoje que na atualidade o homem vive na “falsidade” ao “fechar os olhos para a enfermidade e deficiência”.
“Não compreende o verdadeiro sentido da vida, que inclui também a aceitação do sofrimento e da limitação. O mundo não se torna melhor quando se compõe apenas de pessoas aparentemente ‘perfeitas’, mas quando crescem a solidariedade, a mútua aceitação e o respeito entre os seres humanos”.
O Santo Padre celebrou com uma Missa na Praça de São Pedro o Jubileu dos Enfermos e Deficientes, que durante alguns dias aconteceu em Roma.
Em sua homilia, Francisco explicou que “o modo como vivemos a doença e a deficiência é indicação do amor que estamos dispostos a oferecer. A forma como enfrentamos o sofrimento e a limitação é critério da nossa liberdade em dar sentido às experiências da vida, mesmo quando nos parecem absurdas e não merecidas”.
O Papa recordou ainda que o sofrimento e a enfermidade encontram o seu sentido em “Cristo”. “Na realidade todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos chamados a encarar e, às vezes, a lutar contra as fragilidades e as doenças, nossas e alheias”.
Esta experiência “nos colocam, de forma mais aguda e premente, a questão do sentido da vida” e costuma-se responder de duas formas: com “uma atitude cínica, como se fosse possível resolver tudo suportando ou contando apenas com as próprias forças” ou “coloca-se toda a confiança nas descobertas da ciência, pensando que certamente deverá haver, em algum lugar da terra, um remédio capaz de curar a doença”. Mas, “infelizmente não é assim; e ainda que existisse tal remédio, seria acessível a muito poucas pessoas”.
O Santo Padre também denunciou que na atualidade “considera-se que é impossível ser feliz uma pessoa enferma ou deficiente, porque incapaz de realizar o estilo de vida imposto pela cultura do prazer e da diversão”.
“Em um tempo como o nosso, em que o cuidado do corpo se tornou um mito de massa e consequentemente um negócio, aquilo que é imperfeito deve ser ocultado, porque atenta contra a felicidade e a serenidade dos privilegiados e põe em crise o modelo dominante”.
“É melhor – continuou o Papa – manter tais pessoas segregadas em qualquer ‘recinto’ – eventualmente dourado – ou em ‘reservas’ criadas por um compassivo assistencialismo, para não estorvar o ritmo dum bem-estar falso”.
Inclusive, “por vezes chega-se a sustentar que é melhor desembaraçar-se o mais rapidamente possível de tais pessoas, porque se tornam um encargo financeiro insuportável em tempos de crise”.
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“Na realidade, porém, como é grande a ilusão em que vive o homem de hoje, quando fecha os olhos à enfermidade e à deficiência! Não compreende o verdadeiro sentido da vida, que inclui também a aceitação do sofrimento e da limitação. O mundo não se torna melhor quando se compõe apenas de pessoas aparentemente perfeitas’, mas quando crescem a solidariedade, a mútua aceitação e o respeito entre os seres humanos”.
Francisco também comentou sobre o Evangelho do dia em que é apresentada uma mulher pecadora que é aceita por Jesus. “A mulher pecadora é julgada e marginalizada pelos circunstantes, mas Jesus acolhe-a e defende-a ‘porque muito amou’. Tal é a conclusão de Jesus, atento como está ao sofrimento e às lágrimas daquela pessoa. A sua ternura é sinal do amor que Deus reserva àqueles que sofrem e são excluídos”.
O Pontífice recordou que “não existe apenas o sofrimento físico”, uma vez “entre as patologias mais frequentes nos dias de hoje conta-se uma que tem a ver precisamente com o espírito”.
“É um sofrimento que envolve a alma tornando-a triste, porque carente de amor. A patologia da tristeza. Quando se experimenta a decepção ou a traição nas relações importantes, então descobrimo-nos vulneráveis, fracos e sem defesas. Consequentemente torna-se muito forte a tentação de se fechar em si mesmo e corre-se o risco de perder a ocasião da vida: amar apesar de tudo”.
Por isso, expressou que “a felicidade que deseja cada um pode exprimir-se de muitos modos, mas só é possível alcançá-la se se for capaz de amar”. “É sempre uma questão de amor, não há outra estrada. O verdadeiro desafio é o de quem ama mais”, acrescentou.
O Papa concluiu com a pergunta: “Que poderíamos nós censurar a Deus, nas nossas enfermidades e tribulações, que não esteja já impresso no rosto do seu Filho crucificado?”. “Ao seu sofrimento físico, juntam-se a zombaria, a marginalização e a lástima, enquanto Ele responde com a misericórdia que a todos acolhe e perdoa”.
“Jesus é o médico que cura com o remédio do amor, porque toma sobre Si o nosso sofrimento e redime-o. Sabemos que Deus pode compreender as nossas enfermidades, porque Ele mesmo foi pessoalmente provado por elas”.
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— ACI Digital (@acidigital) 23 de maio de 2016