RIO DE JANEIRO, 22 de jun de 2016 às 06:00
Dez pessoas, entre homens e mulheres, terão uma dupla missão nas Olimpíadas Rio2016: disputar em algumas categorias e representar os milhões de refugiados presentes em todo o mundo. Eles formarão a Equipe Olímpica de Atletas Refugiados, entre os quais, dois congoleses que vivem no Brasil e contam com apoio da Cáritas Rio de Janeiro. A expectativa é de que essa oportunidade humanize a visão do mundo em relação aos refugiados.
Segundo relatório apresentado pela Agência da ONU para Refugiados nesta segunda-feira, 20, o número de pessoas deslocadas por motivos de conflitos e perseguições em todo o mundo chegou a 65,3 milhões no final de 2015, considerado um recorde.
Essas pessoas serão representadas nos Jogos Olímpicos por um etíope, dois sírios, dois congoleses e cinco sul-sudaneses, os quais serão os primeiros a entrar no Maracanã, na cerimônia de abertura, e vão desfilar sob a bandeira Olímpica.
Entre os convocados, o judô contará com os congoleses Popole Misenga e Yolande Mabika, que estão no Brasil desde 2013 e são assistidos pela Cáritas Rio de Janeiro, a qual atua no acolhimento, na proteção e na integração dos refugiados que chegam à cidade.
“Para nós, é uma alegria imensa. Ficamos na expectativa durante um ano e meio”, recordou o porta-voz da Cáritas RJ, Diogo Félix, à ACI Digital.
Popole e Yolande cresceram em um ambiente de conflitos na República Democrática do Congo e se separaram de suas famílias ainda crianças. Na capital do país, Kinshasa, começaram a treinar judô em programas sociais e tornaram-se atletas de nível internacional.
Viajaram para o Brasil em 2013 para disputar o Mundial de Judô. Então, decidiram renunciar à delegação, permanecer no Brasil e pedir asilo. Mais tarde, começaram a receber o apoio da Cáritas.
Diogo Félix lembra que todo o processo para a qualificação dos judocas para os Jogos Olímpicos teve início quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) entrou em contato com a agência da ONU para os refugiados pedindo que indicassem atletas para essa delegação. “A ONU entrou em contato com seus parceiros no mundo todo, incluindo a Cáritas RJ. Em janeiro de 2015, nós indicamos os dois judocas e ficamos aguardando”.
Através da Cáritas Rio de Janeiro, Popole e Yolande foram encaminhados para o Instituto Reação, ONG que promove o desenvolvimento humano e a inclusão social por meio do esporte e da educação. Dessa forma, puderam retomar os treinos de judô e voltar a sonhar em disputar os Jogos Olímpicos.
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“Quando soubemos do resultado, toda a equipe ficou muito contente, porque acompanhamos os dois durante muito tempo, sabemos das dificuldades e situações complicadas que viveram aqui até conseguirem voltar a treinar”, contou o porta-voz da Cáritas RJ.
De acordo com ele, a entidade espera que a presença dessa delegação nas Olimpíadas traga um novo horizonte em relação aos refugiados.
“A nossa esperança é que possam mostrar que o refugiado não é apenas um número, como as estatísticas mostram, mas é uma pessoa que tem sonhos, talentos. Desejamos que as Olimpíadas possam humanizar mais o olhar sobre os refugiados. É o poder do esporte”, expressou.
Essa mensagem irá se somar às várias já divulgadas pelo Papa Francisco em defesa dos refugiados, o que para a Cáritas RJ tem grande valor. Ver o Sumo Pontífice “mostrando a situação dos refugiados é importante para tirar o preconceito e mostrar que eles são pessoas. É uma mensagem que tem um poder enorme”.
Por fim, Félix garante que a expectativa é de que os atletas “possam ter a melhor participação possível nos Jogos Olímpicos”, porque após o que já enfrentaram na vida, “isso já é uma vitória para eles”. “Depois de tudo o que passaram, esse será o menor dos desafios”, concluiu.
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— ACI Digital (@acidigital) June 21, 2016