SEVILHA, 24 de mai de 2005 às 15:17
O Arcebispo de Sevilha, Cardeal Carlos Amigo Vallejo, pediu revisar o "mito" de Isabel A Católica além dos preconceitos que determinados acontecimentos históricos atribuem a sua imagem.O Cardeal fez este chamado durante o XVI Simpósio de Historia da Igreja na Espanha e América 'no centenário de Isabel a Católica' que organiza a Academia de Historia Eclesiástica de Sevilha.
Na inauguração do evento, o Cardeal Amigo Vallejo disse sobre a rainha Isabel que "a mais prejudicada, além da história, foi ela mesma, pela Inquisição perseguindo os judeus, a redução dos direitos dos nobres ou a reforma da Igreja". Por isso, opinou que terá que voltar a analisar a mulher que propiciou entre outras questões um novo modelo político, a unidade da Espanha.
O ato contou com a presença do núncio de Sua Santidade na Espanha, Dom. Manuel Monteiro e o jornalista protestante César Vidal, além de destacados historiadores e especialistas.
A conferência inaugural, a cargo do catedrático de Historia Medieval da Universidade de Valladolid, Julio Valdeón, versou sobre as medidas de proteção aos judeus ditadas pela rainha Isabel ou pelos Reis Católicos, concluindo que a iniciativa da expulsão foi de Fernando o Católico.
Assim, o historiador assegurou que, como argumento contra a canonização de Isabel A Católica, o da expulsão dos judeus da Espanha não é válido por que "não há fundamento para culpar a da expulsão".
Medidas a favor dos judeus
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Segundo Valdeón, a política dos Reis Católicos com respeito aos judeus se distinguiu por sua "eqüidade e justiça". Recordou que desde 1290, em que foram expulsos da Inglaterra, até março de 1492, quando são expulsos da Espanha, foram-no também da França, Alemanha e Itália, e que inclusive Erasmo de Rotterdam, convidado a transladar-se a Espanha a finais do século XV, recusa por ser neste país muita a presença e influência hebraica.
Como elemento adicional, Valdeón destacou a crescente pressão popular contra os judeus e o argumento definitivo que serve para sua expulsão, seu contato com os conversos, ao que atribuíam na época que muitas conversões ao cristianismo não fossem verdadeiras.
O historiador qualificou de "absurdo" o argumento de que a expulsão se deveu a que a Coroa ambicionava as posses dos judeus, a quem, recordou, lhes deram quatro meses "para preparar sua saída e levar suas coisas" e se ditaram normas para que não lhes perseguisse enquanto isso.
Valdeón recordou que a expulsão era só para quem não aceitasse a conversão ao cristianismo, e assinalou que investigações recentes assinalam que saíram entre 80 mil e 100 mil judeus -alguns dos quais retornaram anos mais tarde-, em um tempo no que no Castilha, Leão e Aragão havia entre 200 mil e 250 mil.
Do mesmo modo, Valdeón destacou que entre as normas saídas da mão de Isabel em favor dos judeus está uma anulação do Câmara de vereadores de Bilbao que lhes proibia a entrada na cidade, que em 1478 desse proteção régia à aljama -gueto ou gueto- de Sevilha, e que um ano mais tarde ditou que se respeitasse a autonomia judicial da aljama de Ávila.
Por último, o historiador destacou que a rainha decretou que os judeus expulsos de Balmaseda voltassem para a localidade, que proibisse as prédicas anti judaicas a um dominicano de Segovia e outras medidas favoráveis aos judeus de Leão, Vitoria e Orense.