BOGOTÁ, 31 de ago de 2016 às 18:00
O Presidente da Conferência Episcopal Colombiana (CEC), Dom Luis Augusto Castro, afirmou que para resolver o conflito de 50 anos com as FARC, a Colômbia “quis escolher um tipo de justiça que falava de misericórdia, a justiça transicional”, cujo fim é beneficiar todo o povo “procurando viver em paz”.
O Presidente da CEC assinalou isto durante o último dia do “Jubileu Extraordinário da Misericórdia no Continente Americano”, que terminou ontem em Bogotá (Colômbia) e que foi convocado e organizado pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL) e o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em e colaboração com os episcopados dos Estados Unidos e Canadá.
Em seu discurso “A misericórdia, alma de uma cultura do encontro, do perdão e da reconciliação no continente americano”, Dom Castro falou especialmente acerca da experiência do processo de paz colombiano, cujo Acordo de Paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foi realizado após mais de três anos de negociações em Havana (Cuba) e põe fim a um conflito de 50 anos.
O Prelado assinalou que a América está cheia “de perguntas dolorosas que devem ser respondidas pela misericórdia” e que surgem no México, Haiti, El Salvador, Guatemala, Venezuela, Colômbia e Paraguai, “países como os mais necessitados de misericórdia hoje e tomarei como ponto de comparação a situação da Colômbia”.
“Nestes dias – indicou –, na Colômbia foi dado um passo muito importante de pôr fim à guerra através do diálogo com o movimento revolucionário das FARC, o qual destruiu o Colômbia durante mais de cinquenta anos”, mas agora quer construir a paz que é como construir uma casa nova que reflete “a novidade”.
Por exemplo, indicou, a política que foi excludente deve incluir, “a economia que não foi equitativa deve fortalecer a débil equidade que vivemos mediante uma carga de solidariedade”, e a sociedade que ficou endurecida ante a dor “deve se libertar para sentir com o outro”.
Mas, especialmente deve pôr uma ênfase nas bases desta casa nova, a primeira das quais “é o alicerce ético constituído pela misericórdia e pela compaixão, o alicerce espiritual que é o perdão e a reconciliação e o alicerce cultural que é a cultura da vida, a cultura dos direitos humanos, a cultura do respeito à diversidade”.
“Colômbia, para resolver seu conflito (…), escolheu um tipo de justiça que falava de misericórdia, a justiça transicional. Esta justiça que, como seu nome o indica, facilita o trânsito da borda da guerra à beira da paz, não beneficiava somente as guerrilhas e nem sequer as forças armadas acusadas de infrações dentro do contexto da guerra. Beneficiava todo o povo colombiano procurando viver em paz”.
“Este é o ponto que levou a que a Colômbia se polarize. Muitos colombianos querem a ordinária justiça penal para castigar as guerrilhas e por isso rechaçam os acordos. Mas por este caminho jamais teríamos chegado a um acordo de paz. A misericórdia neste caso é uma resposta excepcional”, afirmou.
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Dom Castro recordou as palavras de São João Paulo II que assinalou que “a justiça que é só justiça logo deixa de ser justiça. Para que a justiça seja de verdade justiça deve estar acompanhada de algo que é mais que a justiça e esse algo mais é a misericórdia”.
O Presidente da CEC também se referiu à violência no México causada pelo narcotráfico, um problema que a Colômbia sofreu durante 25 anos e que “formou em várias gerações o que costumo chamar de ‘narco mentalidade’”.
“Qual é a resposta no México para a narco mentalidade? Essa é a grande pergunta que a igreja do México faz. Mas sem dúvida, na resposta deve estar totalmente e com força a misericórdia. Uma boa resposta em termos de misericórdia arrasta muitas pessoas, convence-as”, afirmou.
Dom Castro assinalou que ser apenas um espectador do sofrimento do próximo “não é misericórdia” e, portanto, “ajudar as vítimas a viver a misericórdia é a nossa tarefa de Igreja na Colômbia, no México, na Venezuela, no Haiti etc”.
Antes de finalizar, Dom Luis Augusto Castro assinalou que a América sofreu muito com as guerras internas e entre países. Por isso “é necessário que em todos os níveis, do Estado até o nível pessoal de vida cristã, promovamos intensamente a misericórdia que inclui a compaixão, para que demos um salto de qualidade em nossas relações internacionais e nacionais”.
E também “para que sejamos testemunhas da misericórdia do Pai em todos os lugares do continente, para isso, pedimos a bênção de Deus e que infunda no mesmo sentimentos de perdão e reconciliação para que vivamos como irmãos que se amam e nunca mais como lobos que se despedaçam”.
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— ACI Digital (@acidigital) 19 de agosto de 2016